Tempo - Tutiempo.net

Agro Rural prevê safra de soja menor no Brasil e não descartou mais perdas

A Anec projeta que o Brasil deverá exportar 73 milhões de toneladas de soja em 2019 — Foto: Divulgação

A safra de soja 2018/19 do Brasil, já em colheita, deverá alcançar 116,9 milhões de toneladas, projetou nesta quarta-feira (9) a consultoria AgRural, em um corte frente a estimativa anterior, de 121,4 milhões, em razão da estiagem e do calor desde dezembro.

Caso se confirme, o volume ficaria abaixo do recorde de 119,3 milhões de toneladas obtido em 2017/18, apesar de produtores terem semeado quase 36 milhões de hectares com a cultura, uma área histórica.

O corte na previsão ocorre dias após a INTL FCStone também reduzir sua estimativa para a colheita no maior exportador global da oleaginosa.

Na véspera, o Departamento de Economia Rural (Deral) informou que, só no Paraná, 12% das lavouras estão em condição ruim por causa da falta de chuvas e elevadas temperaturas.

Em boletim, a AgRural disse que “a irregularidade das chuvas e o calor que marcaram o mês de dezembro em alguns estados, com destaque para Paraná e Mato Grosso do Sul, tiraram do Brasil a chance de ter mais uma safra recorde de soja”.

Conforme a consultoria, houve redução de 2,5 milhões de toneladas na estimativa de colheita no Paraná, de 1 milhão em Mato Grosso do Sul e de outro 1 milhão nos demais estados.

As perdas se “concentram em áreas plantadas em setembro, com variedades de ciclo mais curto, cujas lavouras não aprofundaram suficientemente as raízes devido à umidade presente no plantio e desenvolvimento vegetativo, e que durante a estiagem de dezembro atravessavam a fase decisiva de enchimento de grãos”, afirmou a AgRural.

Especificamente para o Paraná, a AgRural disse que “todas as regiões do Estado foram atingidas pela estiagem e pelo calor, mas as maiores perdas se concentram no oeste, que planta mais cedo”.

Em Mato Grosso, há por ora “perdas isoladas”.

Os problemas climáticos no Brasil têm dado sustentação aos contratos futuros de soja Bolsa de Chicago nos últimos dias.

Nos últimos 2 meses, as chuvas ficaram abaixo do normal tanto em Mato Grosso quanto no Paraná, os dois maiores produtores de soja do Brasil, segundo o Agriculture Weather Dashboard, do Refinitiv Eikon.

No sudeste de Mato Grosso, as precipitações foram 162,5 milímetros inferiores ao esperado, enquanto no oeste paranaense, 124,1 milímetros.

O Agriculture Weather Dashboard também aponta chuvas aquém da média em Mato Grosso do Sul, Goiás e em parte do Matopiba, fronteira agrícola composta por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

No noroeste goiano, choveu 261,4 milímetros menos que o normal.

Para as próximas duas semanas, a previsão aponta para acumulados mais expressivos no Paraná, enquanto Mato Grosso e Mato Grosso o Sul seguirão com precipitações abaixo da média, ainda de acordo com o serviço do Refinitiv Eikon.

Milho

A AgRural também fez ajustes em sua previsão para a primeira safra de milho 2018/19, prevendo uma colheita de 27,1 milhões de toneladas, ante 27,2 milhões anteriormente.

A quantidade considera uma “safra verão” de 21,3 milhões de toneladas no centro-sul e o restante no Norte/Nordeste, a partir de dados da Conab.

“As temperaturas altas e a distribuição irregular das chuvas também impactaram a produtividade da safra 2018/19 de milho verão no Sul do Brasil. As maiores perdas estão no Paraná, mas cortes também foram feitos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul”, disse a AgRural.

A empresa acrescentou que não houve alteração nos números de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, que plantam mais tarde e terão revisão em fevereiro.

Exportações

Também na quarta-feira, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) projetou que o Brasil deverá exportar 73 milhões de toneladas de soja em 2019, queda de cerca de 12% ante o recorde registrado no ano passado, marcado pelo forte apetite chinês e uma safra histórica.

A entidade, contudo, alertou para a possibilidade de embarques menores, caso perdas expressivas sejam de fato registradas na atual temporada, dada a estiagem há mais de um mês em importantes áreas produtoras do país, o maior exportador global de soja.

“Hoje, sabemos que teremos uma safra com viés de baixa em relação à do ano passado. Dados indicam que deveremos ter perdas resultantes de calor excessivo no oeste do Paraná, sul de Mato Grosso do Sul e em alguns pontos do Centro-Oeste.

Desta forma, nossas previsões de exportação de grãos poderão sofrer alterações decorrentes do clima”, afirmou em nota o diretor-geral da Anec, Sergio Mendes.

Em 2018, o Brasil embarcou um recorde de 82,8 milhões de toneladas de soja, segundo a Anec. O governo reportou na semana passada algo mais próximo de 84 milhões de toneladas.

No ano passado, os produtores brasileiros foram favorecidos por uma colheita de aproximadamente 120 milhões de toneladas e por uma maior demanda da China, que taxou a oleaginosa dos Estados Unidos em meio à guerra comercial e precisou se voltar ao produto sul-americano para suprir seu consumo doméstico.

De acordo com a Anec, só em dezembro foram enviados ao exterior 2,6 milhões de toneladas de soja, com 96% desse volume indo para a China. A associação considerou o volume “atípico” para o mês.

Das exportações totais do ano, 10 milhões de toneladas foram puxadas por causa da guerra comercial entre EUA e China, as duas maiores economias do mundo, acrescentou a Anec.

Mendes, entretanto, pondera que a continuidade dessa disputa poderia prejudicar o Brasil.

“Embora o Brasil tenha sido beneficiado com um volume estimado em cerca de 10 milhões de toneladas absorvidas pela China, esse cenário gera imprevisibilidade, o que não é desejável para o nosso setor, que já lida com diversas outras variáveis, como o clima, oscilações do real com relação ao dólar e questões logísticas”, afirmou.

Em relação ao milho, a Anec estima exportações de 31 milhões de toneladas em 2019, alta de 36% ante o reportado em 2018.

Em dezembro, as vendas de milho do Brasil foram de 3,8 milhões de toneladas, segundo a entidade.

“A proximidade da colheita da soja, que deve ser iniciada mais cedo este ano em diversas regiões devido ao plantio realizado logo no início da janela, motivou os produtores a comercializarem seus estoques de milho, liberando espaço para armazenamento da nova safra de soja”, destacou a Anec.

Reuters

OUTRAS NOTÍCIAS