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As plantas alimentícias não convencionais são cultivadas em comunidades

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Importantes na diversidade da alimentação, as chamadas Pancs já se perderam em boa parte do Brasil, mas ainda são utilizadas por índios, quilombolas e pequenos agricultores.

Já ouviu falar em ariá, cariru, facheiro ou priprioca?

Elas são as chamadas Pancs ou plantas alimentícias não convencionais.

Das dezenas de milhares de espécies de vegetais existentes no país, até hoje só se conhece uma pequena parte em estudos científicos. Mas mateiros, cientistas e pesquisadores continuam a entrar nas matas buscando novas espécies e novos alimentos.

O grupo das Pancs inclui uma variedade enorme de frutas, legumes, ervas, grãos. Essas plantas já se perderam em boa parte do Brasil, mas ainda são cultivadas por índios, quilombolas e outras comunidades rurais.

“Atualmente, nós temos cerca de 195,7 mil amostras de plantas”, diz o biólogo Sebastião Xavier, que trabalha há mais de 10 anos na Embrapa, em Belém, identificando plantas amazônicas. Não se sabe ao certo quantas são comestíveis.

Cariru, urtiga, priprioca
No município de Santo Antônio do Tauá, a pouco mais de 60 km de Belém, 41 agricultores familiares cultivam, entre hortaliças tradicionais, algumas Pancs: o cariru, a urtiga, a priprioca.

Conhecida pelo perfume, a priprioca chega na cozinha em forma de tempero. Seu talo é usado como condimento e a raiz é usada em doces, cachaças e cervejas.

Antes a priprioca nascia naturalmente e quase não era aproveitada. Os agricultores passaram a fazer o manejo correto e, além de vender para restaurantes, fecharam parceria com uma grande empresa cosmética, que usa a planta para fazer cremes e perfumes.

Ariá, patuá, pequi

Na comunidade de São Sebastião, em Manaus, uma família indígena cultiva cupuaçu, bacaba e ariá, que é consumido cozido, com café, e o patuá, que parece o açaí, mas tem o caroço maior.

“(As Pancs) são rústicas, nascem em qualquer lugar, então isso favorece tanto a vida do agricultor, que não tem tanto gasto com água, com defensivos, com nenhum tipo de insumo. São plantas muito resistentes”, afirma César Barbosa, da Universidade de Brasília.

Ele trabalha em um projeto de resgate das Pancs com os pequenos agricultores de Goiás.

O cerrado brasileiro é a savana mais rica do mundo, com mais de 12 mil espécies de plantas nativas. Em Alto Paraíso de Goiás, na região da Chapada dos Veadeiros, fica a terra dos Kalunga. É um dos maiores quilombos do Brasil, para onde foram negros fugindo da escravidão.

Eles viveram isolados ali durante 200 anos, sempre se alimentando das plantas que nascem e crescem espontaneamente no cerrado, como o pequi, rico em vitamina A.

Xique-xique até na sobremesa.

Na caatinga, além das grandes árvores e dos cactos, há também plantas nativas do sertão que os pequenos agricultores aprenderam a cultivar: coroa de frade, facheiro, mandacaru, xique-xique.

E é com elas que o chefe de cozinha Timóteo Domingos prepara seus pratos, em Sergipe. “É a cactácea que a gente tem em maior abundância e é o que tem o processo de plantio mais fácil e rápido”, diz.

No cardápio, a entrada é ceviche de xique-xique. O prato principal, filé de xique-xique com molho de palma gratinado com queijo coalho do sertão. E a sobremesa, cocada com geleia de xique-xique.

Diversidade na alimentação

Nos últimos 100 anos, o número de alimentos consumidos no mundo caiu de 10 mil para 170. Perdemos em diversidade e por isso é importante resgatar as plantas não convencionais.

“Traz um resgate cultural, uma valorização do bioma, e traz um incremento para a saúde da população”, diz a doutora em nutrição Raquel Santiago, da Universidade de Goiás.

 

 G1

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