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Calor e seca castigam safras de verão no Hemisfério Norte e causam escassez de alimentos

Além da soja e do milho, outras culturas como o trigo, a cevada e demais cereais também vêm sofrendo drasticamente, além de legumes, frutas e verduras

As notícias do tempo muito quente e seco não preocupam só os produtores rurais dos Estados Unidos neste momento. Agricultores da Europa, da região do Mar Negro e de partes da Ásia e da África também vêm sofrendo com o situações de estiagem e comprometimento de suas safras.

As lavouras, nesses locais, se encontram em plena fase de desenvolvimento e quando a presença da umidade é determinante para que os resultados esperados sejam alcançados.

Além da soja e do milho, outras culturas como o trigo, a cevada e demais cereais também vêm sofrendo drasticamente, além de legumes, frutas e verduras, e a preocupação com a segurança alimentar também cresce nos países em que o quadro vem se agravando a cada novo dia sem chuvas.

Desde o início do verão no hemisfério Norte, um número considerável de países vêm sofrendo com temperaturas escaldantes, seca, tempestades pontuais, episódios de cheias ou nevascas fora de época.

Na Coreia do Norte, vem sendo registrada a pior seca em 16 anos e o abastecimento de alimentos já está sendo ameaçado. A escassez é uma realidade. No país asiático, os cultivos mais afetados foram o arroz, o milho, a batata e a soja, já que as chuvas entre abril e julho ficaram muito abaixo da média para o período.

“Intervenções imediatas são necessárias. “É fundamental agora que os agricultores recebam assistência agrícola adequada e oportuna incluindo equipamento de irrigação”, disse, em comunicado, Vincent Martin, representante da FAO na China e na Coreia do Norte. As importações de alimentos, portanto, deverão crescer.

Já na África do Sul, que é um forte importador de produtos como a soja e o trigo, o impacto na formação de seus preços domésticos em um momento como este é inevitável. Na segunda semana de julho, o país observou ganhos de até 6% no mercado de grãos em relação à semana anterior.

Na China, a seca registrada, principalmente, ao norte do país, foi a pior já registrada. A falta de chuvas trouxe desespero aos produtores locais, que tentaram de tudo para levar água à suas propriedades e cultivos. A nação asiática também vem sofrendo com a falta de chuvas desde o meio de abril, além de temperaturas extremamente elevadas em maio.

Enquanto isso, na Austrália a estimativa é de que a safra nacional de trigo apresente uma queda de 20% em função do tempo extremamente seco e quente. O país é o quarto maior exportador do grão, e deverá colher, portanto, perto de 20 milhões de toneladas.

De 1º de abril a 30 de junho, as costas leste e oeste da Austrália, as maiores áreas produtoras do cereal, receberam menos da metade do volume de chuvas normal para o período, segundo dados do Australian Bureau of Meteorology.

No sul da Europa, a colheita, segundo informa a agência de notícias Reuters, deverá ser a menor em 20 anos. Cereais, azeitonas e amêndoas têm sido duramente castigados pela seca e pelo calor. “Este ano não foi ruim, foi catastrófico.

Eu não consigo lembrar de um ano assim desde 1992, quando eu era criança”, disse o produtor de cereais Joaquin Antonio Pino, de Sinlabajos, na província de Ávila à Reuters.

A agência traz ainda, em inglês, um vídeo sobre as perdas com a seca na europa. Clique AQUI para assitir.

Dessa forma, a expectativa é de que a região, que já é tradicionalmente uma importadora de alimentos, aumente suas compras nesta temporada. Somente de trigo soft, as importações deste ano deverão ser 40% maiores, podendo passar de 5 milhões de toneladas.

O Canadá e a Rússia também vêm registrando perdas em suas safras dadas as adversidades climáticas.

E todo esse quadro se desenvolve diante de uma trajetória ainda de crescimento da demanda mundial por alimentos, ao mesmo tempo em que algumas culturas deverão ter uma produção menor neste ano safra 2017/18.

Em seu último reporte, o Conselho Internacional de Grãos (IGC) reduziu sua estimativa para a produção mundial de trigo em 3%, para 735 milhões de toneladas, com as baixas mais expressivas sendo observadas nos Estados Unidos, Rússia, Canadá, Ucrânia e Argentina.

No caso do milho, a baixa esperada pelo conselho é de 4%, para 1,025 bilhão de toneladas. No caso da soja, a produção desta temporada também deverá ser menor do que a anterior e ficar em 348 milhões de toneladas.

Essas perdas, como explica o consultor em agronegócios, Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, poderia trazer alguma oportunidade para as exportações brasileiras de milho.

Com uma oferta ampla e boa competitividade no mercado internacional, as vendas externas do país têm intensificado seu ritmo – com mais de 1 milihão de toneladas comprometidas somente nas primeiras duas semanas de julho e o volume de junho sendo o melhor para o mês desde 2010 – e devem seguir assim.

Para Fernandes, o Brasil tem potencial para exportar 32,5 milhões de toneladas do cereal nesta temporada. “Precisamos exportar mais.

Há muita oferta aqui dentro e tudo isso que tem acontecido na Europa, na Ásia, estimula as nossas exportações de milho”, diz, lembrando que o produtor tem de acompanhar esses mercados e aproveitar as janelas de oportunidade que podem se abrir neste momento.

Com essa possibilidade de uma demanda maior, o consultor acredita que o preço do milho nos portos do Brasil – como Santos e Paranaguá – tem espaço para voltar aos R$ 30,00 por saca.

Carla Mendes

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