A democracia tem os seus instrumentos de coerção que podem ser tão cruéis quanto os utilizados nos períodos autocráticos.
Mas, a democracia, ao menos teoricamente, deve apresentar-se de forma a respeitar os direitos individuais e coletivos, a exemplo da liberdade de expressão, o direito de ir e vir, etc.
Desde o mês de junho de 2013 até agora, com possibilidade de interagir com a copa do mundo, uma série de manifestações vieram à tona, com as ruas de todo o país tomadas por jovens e pessoas de todas as idades e níveis reivindicando entre outras coisas melhorias nos transportes públicos e nas tarifas destes, toda a sociedade brasileira, tendo ao mesmo tempo, em meio aos verdadeiros manifestantes, os famosos mascarados, denominados black bloc’,
que constitucionalmente são proibidos de participarem de manifestações por conta de se esconderem atrás de máscaras.
Mesmo sendo a policia um aparelho ideológico de Estado, não é compreensível que em uma democracia relativamente jovem a coersão realizada pelo Estado venha acontecendo com a mesma intensidade e violência com que aconteceu nos chamados anos de chumbo, entre 1968 e 1971, período em que muitos jovens foram assassinatos por policiais e forças armadas, aterrorizando toda a sociedade brasileira, sendo o motivo de agora, as ações contrárias à realização de uma copa do mundo de valores exorbitantes.
O Brasil de 2014, o Brasil da Copa do Mundo de Futebol que tem de se curvar às imposições da FIFA e de algumas redes de televisão, o mesmo Brasil de cidades anualmente devastadas pelas chuvas de verão, de rodovias precárias e que provocam inúmeros acidentes com uma quantidade de mortes extrema, é o Brasil cujos governantes não respeitam determinações do Judiciário, em especial do Supremo Tribunal Federal, quando dá ganho de causa a milhares de trabalhadores e os governadores fazem caras e bocas e nada acontece, como retenção de valores públicos para pagamentos aos que têm direito, o Brasil da Copa que tem uma das piores educação na América Latina e que vive constantemente na UTI, o Brasil do tráfico que enfrenta o Estado Constituído com a belicosidade dos grandes exércitos e o faz recuar vergonhosamente.
Torçamos para que a nossa sempre frágil democracia esteja alerta tanto para os desmandos oficiais como para as ingerências do poder paralelo e mesmo de indivíduos do próprio Estado que preferem o quanto pior melhor e se utilizam dos benefícios do Estado.
As manifestações contra a realização da Copa do Mundo que só começa em 12 de junho deste ano, mas já nos mostra o que acontecerá durante o evento, são válidas, mas precisamos saber que não é necessária tanta violência, porque não se põe em risco a vida de ninguém.
Pressionar o Executivo e o Legislativo, aproveitando o mote de 2014 como ano eleitoral é o melhor caminho para em outubro se tentar escolher o melhor ou melhores, se é que existem, para administrarem o País, sempre com os olhos bem abertos, mostrando aos políticos que eles não são donos do poder e, sim, inquilinos dele.
Alerta, Brasil. Sempre alerta.
Fonte: Cezar Ubaldo
