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Jon Favreau recria ‘O Rei Leão’ após se firmar com ‘Friends’, ‘Homem de Ferro’ e comédias

Director/Producer Jon Favreau attends the World Premiere of Disney’s THE LION KING at the Dolby Theatre on July 09, 2019. | Jesse Grant/Getty Images for Disney

Quando Jon Favreau descobriu que iria à Cidade do México no final de junho, para divulgar seu novo “O Rei Leão”, correu para falar com o amigo Guillermo del Toro.

O diretor americano queria dicas gastronômicas do colega mexicano, ganhador do Oscar por “A Forma da Água”. Recebeu uma lista com 20 restaurantes a serem visitados em dois dias.

“Posso dizer que estou comendo bastante”, disse, passando a mão na barriga, no primeiro dos três eventos que participaria para falar da refilmagem realista da animação da Disney, dirigida por ele.

Mas Jon virou o queridinho da Disney não pela fama de ser bom de garfo, confirmada por seu projeto “Chef” (filme de 2014 e programa culinário recém-lançado na Netflix).

Ter dirigido dois lucrativos “Homem de Ferro” (e o remake de “Mogli”) o ajudou a virar o principal diretor desta nova fase da empresa.

A fama de boa praça parece ter dado uma mãozinha. As atitudes dele nada combinam com a de um diretor campeão de bilheterias. Ao ser perguntando sobre o que queria comer em um rápido almoço numa pausa entre papos com jornalistas, responde “tacos”. Quaisquer que fossem.

O cara da Disney

“Estamos lidando com pessoas que têm opiniões fortes sobre o filme original e sobre o espetáculo de teatro. Quero que os fãs gostem do filme e o coloquem no mesmo patamar desses dois clássicos. Esta é minha maior preocupação hoje”, explica Favreau ao G1.

Os três próximos projetos dele são da Disney. Além de “O Rei Leão”, ele é o criador de “The Mandalorian”, série derivada de “Star Wars”; e deve dirigir um filme inspirado no Magic Kingdom, um dos parques mais visitados da turma do Mickey.

A filmografia de Jon começou com aventuras divertidinhas (“Cowboys & Aliens”, “Zathura”) e comédias meio bobas (“Crime Desorganizado”, “Um Duende em Nova York”). Mas lidar com heróis e personagens da Disney o fez mudar de patamar.

“Se você só trabalha com algo feito para adultos, eles nem sabem o que você faz. Mas quando você trabalha em coisas como ‘Homem de Ferro’, sou sortudo por ter feito esses filmes que crianças gostam… É ótimo ser parte da vida dos seus filhos.”

O cara de ‘Friends’

Suas duas garotas e um garoto, entre 12 e 17 anos, preferem os filmes pipoca. Mas e os fãs? Quando sai na rua, falam que ele é aquele cara do… “Depende onde eu estou”, responde.

“Quando estou em Londres, eles me conhecem por ‘Friends’. Na Cidade do México, me conhecem por ‘Homem de Ferro’. Na Itália, me conhecem por ‘Chef’. Tenho uma carreira longa, com papéis diferentes, então as pessoas me conhecem por coisas diferentes.”

“Eu amo a reação dos fãs e eu penso que há um certo tipo de personalidade… Que consegue ir pela comédia, direção, ser um chef, músico. Você se anima de criar algo e as pessoas podem gostar do que você apresentou… Todo esse feedback me faz andar no céu.”

Começo no swing

Nascido em uma família “meio italiana, meio judia” no distrito de Queens, em Nova York, Jonathan Kolia Favreau começou como ator nos anos 90. Fez alguns testes e até gravou participações em filmes como “Batman Eternamente”. Gravou, mas suas cenas foram cortadas.

O jeito foi escrever um roteiro. Ele e o amigo Vince (Vaughn) ficaram com os papéis principais, é claro. Lançado em 1996, “Swingers” era uma comédia sobre a nada glamourosa vida de jovens atores vivendo entre Los Angeles e Las Vegas.

O tal swing era uma alusão ao revival das noites ao som das big bands. A nova “era do swing” conectava o começo dos anos 90 ao final dos anos 30.

Sem dinheiro, restavam a eles dançar e tentar (em vão) pegar mulher. Mas problemas de ansiedade e com excesso de peso só pioravam as coisas.

“Não havia nada melhor para fazer do que se vestir como se tivéssemos saído de algum filme do Scorsese”, explicou Favreau, falando do filme. E de sua vida. Foi naquela época que viu “O Rei Leão” original. “Antes, eu via e pensava no Simba, agora eu me identifico com Mufasa”, resume.

Com orçamento de US$ 250 mil, “Swingers” arrecadou US$ 4,6 milhões só nos EUA. A boa bilheteria rendeu outros papéis, como o de Pete Becker, namorado bilionário da Monica de “Friends”.

“Usei minha escalação como ator para andar pelos bastidores para aprender como se faz filmes”, explicou Jon a jornalistas e webcelebridades em uma sala de cinema no México.

Filho único de dois professores, ele perdeu a mãe aos 12 anos. Foi mais ou menos nesta idade que começou a se interessar por artes cênicas, embora não fosse protagonista das peças de sua escola.

Estudou três anos de engenharia e conseguiu um emprego em Wall Street, centro financeiro em Nova York. Mas largou tudo e foi para Chicago. Dizia que era da cena de stand-up da cidade, mas na verdade só lavava pratos no Second City, o principal clube de humor de lá.

Sem frescura

O primeiro restaurante da lista de Del Toro era um especializado em frutos do mar, chamado Contramar. Fica no bairro de Roma Norte, a pouco mais de um quilômetro do hotel onde estava hospedado.

Jon chegou ao lugar no começo da noite, pediu tostadas e o peixe do dia. Sentado em uma mesa para quatro pessoas, pagou algo em torno de R$ 100 pela refeição. Segundo os garçons, o diretor “come bem” e sem frescuras.

Um pouco desajeitado e com o cabelo meio despenteado, Jon se embanana com a torneira ao lavar as mãos e quase senta em cima de um microfone ao chegar em uma entrevista.

O papo pode ser sobre cinema ou TV , mas ele quase sempre enfia uma metáfora sobre comida ou esporte no meio da conversa.

“Em um filme como esse, meu trabalho é manter o grupo unido e se comunicando. Eu me sinto orgulhoso, como um técnico de um time que ganhou”, explica ao ser perguntado das diferenças entre gigantes impessoais (“O Rei Leão”, “Homem de Ferro”) ou indies pessoais (“Chef”, “Swingers”).

“Eu via o técnico vibrando quando era novo, mas queria mesmo era ser o Michael Jordan. Hoje, estou velho e entendo como é ser o treinador e por que ele comemora tanto.”

‘Avatar’ x ‘Star Wars’

James Cameron, diretor de “Avatar” e “Titanic”, foi atrás de Jon para saber da nova tecnologia usada em “O Rei Leão” (uma animação com técnicas de filmes feitos com atores).

“Eu estava trabalhando no projeto de ‘Star Wars’, ‘The Mandalorian’. Eu pude ver o que ele estava fazendo usando captação de movimentos para as sequências de ‘Avatar’ e ele viu o que eu estava fazendo.”

Cameron queria entender a tal da animação com live-action. “Agora é um novo passo, porque estamos usando a tecnologia de realidade virtual para games aplicada na criação deste filme.”

Mas o filme também buscou a quentura do contato entre atores. “Eu comecei como ator e eu amo improvisação. Senti que tinha que passar a sensação de que fosse como um filme feito com atores. Para ter esse efeito, colocamos os atores juntos em um palco.”

Alguns dos donos das vozes dos personagens (como Donald Glover e Seth Rogen) atuaram juntos, como se estivessem ensaiando para uma peça de teatro.

“É diferente de gravar as vozes em uma cabine. O resultado foi uma performance diferente e a liberdade para improvisar. Eu gravei todas essas vozes e editei em uma versão do filme que depois foi animada.”

Antes de terminar, uma pergunta gastronômica brasileira. Já provou feijoada? “Parece incrível. Eu não tenho certeza se comi, mas vou colocar na minha lista”, responde, no maior sorriso de toda entrevista.

G1

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