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‘Midsommar’ aposta no horror à luz do dia.

Foto: Reprodução

Será que é possível sentir medo, ser levado por aquele clima de suspense, mas com cenas filmadas durante o dia? “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite”, nos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira (19), mostra que sim.

O segundo terror dirigido pelo novaiorquino Ari Aster funciona como se fosse uma história absurda do folclore de algum país que não existe.

Diferentemente de “Hereditário” (2018), sobre uma família afetada pelo luto, em “Midsommar” a perda é mostrada do ponto de vista de uma única personagem.

Mas vai além disso. O choque neste conto de fadas moderno vem pelas imagens, em vez dos sustos convencionais.

Após perder a família, Dani (Florence Pugh, de “Lady Macbeth”) resolve acompanhar o namorado Christian (Jack Reynor, de “Sing Street”) e um grupo de amigos até a Suécia. A ideia é participar de um festival de verão em Hårga, um pequeno vilarejo onde nunca anoitece.

Logo no início, o filme deixa claro que a trilha sonora é bem potente. Ela ajuda a construir o suspense em volta dos personagens, trabalhando bem a alternância entre barulho e silêncio, clichê inabalável do terror.

Após um início na escuridão, o filme muda totalmente de ambiente. O grupo de jovens vai parar em um lugar alegre e cheio de luz, o que faz a trama virar o tal conto de fadas moderno.

Aos poucos, o vilarejo vai ganhando vida e mostra as tradições e rituais macabros daquela comunidade. Cabe a Dani conseguir digerir tudo da forma mais natural possível.

Todo mundo vai sofrer

“Hereditário” tinha a ajuda da experiente Toni Collete como protagonista, mas “Midsommar” tem os papéis principais nas mãos de atores bem mais jovens.

Apesar do currículo pouco extenso, a britânica Florence Pugh se destaca com mais emoção do que afetação. O elenco ainda conta com Will Poulter (“Black Mirror”) e William Jackson Harper (o Chidi de “The Good Place”), todos no tom certo.

Cena de 'Midsommar — Foto: Reprodução
Cena de ‘Midsommar — Foto: Reprodução

Pugh segura o espectador com o desespero que as situações pedem: quanto mais ela se insere na comunidade, mais agoniante fica a reação da personagem.

Mesmo quando o roteiro parece tropeçar em típicas cenas para adiar a conclusão da trama, é ela quem ajuda a dar sentindo na história.

Ari Aster faz com que Dani passe por maus bocados sentimentais. Às vezes, é preciso chorar e gritar muito antes de se perceber que o namorado é um “boy lixo”.

Diretor quer ser grande

Apesar de ter cenas bem parecidas com as de “Hereditário”, “Midsommar” segue uma linha um pouco do primeiro filme do diretor.

Ele insiste em mostrar uma “beleza” aterrorizante, mas deixa claro que quer explora cenários bem iluminados.

O filme também trata mostra a tensão que diferenças culturais podem trazer. Essa ideia só é quebrada pelo personagem de Poulter. Ele é como um alívio cômico, o turista que está em busca de diversão e respeita a cultura local.

Aster é uma baita revelação do terror moderno. E de mão pesada. Ele abusa da movimentação de câmera e mostra que é bom para dirigir (e escolher) atores.

Na maioria das cenas que mostram o comportamento da comunidade sueca, a impressão que temos é que as pessoas que participam do festival acabam se tornando uma só.

“Midsommar” tem uma boa conclusão e é um daqueles filmes que vai te deixar pensando por alguns dias. É difícil tirar as imagens da cabeça: são tão perturbadoras como uma relação de duas pessoas que não deveriam estar juntas faz tempo.

 Deslange Paiva e supervisão de Braulio Lorentz

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