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‘O Farol’ cria experiência intrigante e perturbadora para amantes do terror e do suspense.

Foto: Reprodução

Consagrado em sua estreia como diretor em 2015 com ‘A Bruxa’, Robert Eggers conquistou muita gente com sua forma peculiar de fazer terror. Ele não se baseava tanto em sustos, preferia criar climas sinistros e soturnos que deixavam os espectadores incomodados de um jeito que não era visto há muito tempo.

Depois dele, outros filmes no mesmo estilo, como “Ao cair da noite” e “Hereditário”, também fizeram a festa dos admiradores do gênero. Com tanta moral, Eggers partiu para um projeto mais ambicioso, na forma e no conteúdo. “O Farol” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (2).

O diretor deixa clara sua inspiração no cinema expressionista alemão para contar uma história de mistério, suspense e terror com um elenco mínimo e fotografia caprichadíssima.

Ambientada no final do século 19, a trama se passa em uma ilha na Inglaterra. Nela, o marinheiro Ephraim Winslow (Robert Pattinson) é mandado para ser zelador e auxiliar o veterano faroleiro Thomas Wake (Willem Dafoe).

Isolados por uma forte tempestade, os dois têm que lidar com suas diferenças para ajudarem um ao outro.

Só que, aos poucos, Ephraim começa a desconfiar que há algo de errado no lugar e que as histórias que Thomas adora contar escondem um segredo. Além disso, estranhos fenômenos passam a fazer com que o jovem marujo perca a sanidade. Ele não sabe se o que está acontecendo ao seu redor é real ou não.

Terror em preto e branco

O que torna “O Farol” uma incrível experiência é a maneira que o cineasta equilibra com total domínio de seu ofício os elementos realistas e fantásticos de sua trama.

Assim como em “A Bruxa”, Eggers se inspirou em uma história real (neste caso, de 1801). A trama envolve dois faroleiros galeses, para desenvolver seu roteiro, ao lado de seu irmão, Max Eggers.

A dupla utilizou questões envolvendo crenças e mitos náuticos, como o mau agouro provocado por aves mortas em alto mar e seres fantásticos, personificando os medos dos personagens.

Sem soluções fáceis, o diretor deixa o espectador tão perdido quanto seus protagonistas. Ele usa imagens impactantes e misteriosas. É preciso assistir tudo com atenção para que seja possível encontrar cada pista da história.

Sons e imagens de outra época

O clima tenso e sufocante é obtido através de sua fotografia em preto e branco, que não só deixa tudo esteticamente bonito, como ajuda a deixar o ambiente ainda mais claustrofóbico.

Mérito da visão de Eggers, que decidiu filmar tudo com enquadramentos que remetem a maneira que os filmes eram feitos na época onde se passa a trama. Assim, o diretor obteve êxito para deixar tudo bastante opressor, tanto para seus personagens quanto para o público.

Vale destacar a maneira com que o som é tratado em “O Farol”. Para deixá-lo parecido como a tecnologia daquela época, Eggers e sua equipe resolveram gravar o filme em mono, em vez de estéreo, como é feito hoje. Esse tipo de gravação mais simples ajuda a causar estranheza pelos diferentes sons ouvidos

Elenco dedicado

Mas “O Farol” não é um bom filme apenas pelas escolhas estéticas de seu diretor. Eggers conta com dois atores que se entregam de corpo e alma a seus papéis. Pattinson, que tem se dedicado a mostrar que seus tempos de vampiro da “Saga Crepúsculo” ficaram para trás, mostra que seus esforços não foram em vão.

O jovem inglês faz um trabalho em que suas intenções ficam evidentes com um simples olhar. Ele torna convincente o sofrimento e o desequilíbrio de seu Ephraim, que vai ficando cada vez mais imprevisível e intimidador. Com metade do esforço e talento mostrados neste filme, seu Batman (no filme a ser dirigido por Matt Reeves) tem tudo para ser um dos mais marcantes já vistos.

Willem Dafoe (“Platoon”, “Homem-Aranha”), mais uma vez impressiona. Seu Thomas Wake aparece como um homem destruído pelo tempo, mas ao mesmo tempo ainda com bastante energia. Sua instabilidade mental ajuda a torná-lo bem ameaçador. Quatro vezes indicado ao Oscar, não será surpresa se for lembrado novamente pela Academia por este trabalho.

Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira (que trabalhou com Eggers em “A Bruxa”), “O Farol” desponta como um dos melhores filmes estreando nos cinemas brasileiros neste começo de ano.

Ele vale não só por ser uma experiência diferente no gênero do terror e do suspense, mas por levar o espectador a refletir sobre o quanto a mente humana pode ser frágil e perder o controle diante da solidão e do isolamento.

Célio Silva

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