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‘Rocketman’ resume bem vida e obra de Elton John com musical cheio de fantasia

Foto: Divulgação

“Rocketman” conta uma história de sucesso e excessos em 121 minutos e 21 músicas. Mas é melhor não ir aos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira (30) esperando que o “filme do Elton John” seja igual ao “filme do Queen”.

O roteiro tem o kit cinebiografia de artista (protagonista oscarizável, familiares caricatos, licenças poéticas na cronologia, executivo de gravadora esnobando hit), mas se apoia em números musicais cheios de imagens fantásticas.

Tão extravagante quanto os trajes e óculos de seu homenageado, a adaptação das músicas para o cinema fazem “La La Land” parecer um filme iraniano em preto e branco.

Elton (Taron Egerton, “Kingsman”) levita em seu piano, voa, gira vertiginosamente no palco e canta com sua versão criança ou com seu pai, sua avó ou sua mãe (Bryce Dallas Howard, muito nova para o papel).

E essas e outras cenas absurdas (suuuper Broadway) explicam melhor o sentido de cada composição do que dramatizações de outros filmes que miram no realismo, mas romantizam processo.

Você não vai ver neste filme jogralzinho de compositores ou montagens mambembes na qual uma música começa como um rascunho e termina com todos no palco.

Ironicamente, um dos momentos musicais mais impactantes de “Rocketman” tem o letrista Bernie Taupin (Jamie Bell, de “Billie Elliot”) dando o contexto exato que “Goodbye Yellow Brick Road” precisa.

Nela, Taupin diz que vai dar uma pausa, repensar a vida, e que Elton deveria fazer o mesmo. Obviamente, ao dizer isso ao amigo, está dizendo para todos que ouvem a música.

Jamie Bell (Jamie Bell) e Taron Egerton (Elton John) em 'Rocketman' — Foto: Divulgação

Jamie Bell (Jamie Bell) e Taron Egerton (Elton John) em ‘Rocketman’ — Foto: Divulgação

“Your Song”, a carta para um amigo que virou trilha de milhões de casamentos, também resume bem a parceria Elton e Bernie.

Juntados por meio de dois anúncios de uma gravadora, eles não se sentavam juntos magicamente para escrever. O letrista rabiscava seus versos e enviava pelo correio ao cantor. Sozinho, criava as melodias. Nas mãos erradas, a dinâmica simples teria virado algo papagaiado.

Mas parece ‘Bohemian Rhapsody’?

A comparação com o filme sobre Freddie Mercury é inevitável. Além da proximidade dos lançamentos e da temática, eles têm o mesmo diretor. Dexter Fletcher assumiu o posto após a demissão de Bryan Singer, em “Bohemian Rhapsody”.

Nos dois casos, são os momentos musicais (como esperado) que transformam os filmes em boas experiências. Mas é a escolha do evento que conduz a trama que mostra a diferença:

  • No “filme do Queen”, é o show do Live-Aid e sua cópia milimétrica de poses e cortes que sustentam o filme (e renderam um Oscar de edição)
  • No “filme do Elton”, é a ida do cantor para a rehab, após duas tentativas de suicídio, a responsável por costurar a trama

Se comparado ao Mercury de Rami Malek, o Elton de Egort é mais original. Além de cantar, coisa que Malek não fez, o inglês de 29 anos vai do doce e ingênuo ao babaca e talentoso em microssegundos.

Retratar bem um ídolo sem imitá-lo é uma arte tão subestimada quanto a obra de Elton John. Com alguma boa vontade de fãs e da Academia, talvez “Rocketman” corrija as duas injustiças.

Por que ‘Rocketman’ não decola?

Taron Egerton é Elton John em 'Rocketman' — Foto: Divulgação

Taron Egerton é Elton John em ‘Rocketman’ — Foto: Divulgação

Figura importante nas duas carreiras, John Reid, o primeiro empresário do Queen, é o principal produtor e amante de Elton John. Mas é uma pena que o Reid de Richard Madden (o Robb Stark de “Game of Thrones”) seja tão fora do tom.

A raiva que Elton tem dele contamina o roteiro de Lee Hall, indicado ao Oscar por “Billy Elliot”. Elton e Lee trabalharam juntos durante a adaptação do filme do jovem bailarino para o teatro.

Outras provas de que o filme é uma cinebiografia autorizadíssima é a presença dos nomes de Elton como produtor executivo e de David Furnish, marido dele, na produção.

Mas se por um lado há maniqueísmo, por outro há um raro bom tratamento ao abordar a sexualidade do cantor. As relações com mulheres não se sobrepõem aos casos com homens antes de se declarar gay. Elton não beija uma garota sequer durante o filme.

É mais uma prova de que “Rocketman” não escolhe caminhos fáceis. E, também por isso, é uma das melhores cinebiografias dos últimos anos.

Taron Egerton (Elton John) e Richard Madden (o empresário John Reid) em 'Rocketman' — Foto: Divulgação

Taron Egerton (Elton John) e Richard Madden (o empresário John Reid) em ‘Rocketman’ — Foto: Divulgação

G1

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