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A Crise Brasileira

Flávia Pinheiro de Lima

Após várias décadas de cortinas fechadas, a política brasileira – finalmente – mostra todas as suas facetas. Essa abertura se desenrola desde 2003, quando Luís Inácio “Lula” da Silva foi eleito presidente do Brasil, sendo o primeiro de sua condição a ocupar o posto, ex-sindicalista, ex-metalúrgico, filiado ao Partido dos Trabalhadores e, é claro, conhecidamente semianalfabeto.

Depois de diversos conchavos políticos e um primeiro mandato praticamente impecável, o Partido dos Trabalhadores (PT) perdeu um dos seus principais aliados: o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), criando uma polarização direitista e esquerdista dentro do governo federal, algo que sedimentaria o terreno para o recente caos na política brasileira.

O escândalo de “mensalão” deu o pontapé inicial.

Em 2005 chegou aos olhos e ouvidos dos brasileiros um grande esquema de corrupção sistematizada que consistia, basicamente, no pagamento de uma espécie de mensalidade aos chamados “partidos da base aliada”, ou seja, aqueles que apoiavam o então presidente Lula receberiam um valor mensal para que mantivessem seu apoio. Esses valores provinham de diversos locais como fraudes a licitações, compras de votos, entre outros.

Desde que o mensalão veio à tona, vários outros escândalos de corrupção dentro do governo brasileiro foram apontados, criando uma aura de insegurança que perdura até hoje.

A operação lava-jato, considerada a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve, é um dos mais famosos desdobramentos do escândalo do mensalão. Acredita-se que os valores desviados da Petrobras estejam na casa dos bilhões de reais – ou mais.

Desde 2014 investigam-se os envolvidos e tudo parece um poço sem fundo – recentemente o empresário Joesley Batista cavou um pouco mais, enterrando mais gente – estima-se que a Polícia Federal deverá cumprir mais de mil mandatos de prisão, busca e apreensão e condução coercitiva de políticos e empresários que fazem parte do esquema.

Diante disso, o que nós temos são as duas grandes potências governamentais aproveitando-se do momento de confusão e fragilidade instaurado há dez anos, para se fortalecerem. A polarização política está cada vez mais evidente e os debates sobre o assunto estão cada vez mais rasos, baseando-se nas defasadas ideologias de esquerda e direita que não se aplicam no cenário atual.

O processo de Impeachment que cassou o mandato da presidente eleita Dilma Rousseff e levou seu vice, Michel Temer, ao cargo mais alto do governo federal durou oito meses e criou, além de um novo mártir (a presidente que teve o mandato cassado), a manobra política mais escancarada e escrachada de que se teve notícia desde a cassação do Presidente João Goulart e o Golpe Militar que o sucedeu.

Certamente ainda haverá muita turbulência, o presidente Michel Temer acabou de ter a sua cabeça posta prêmio e corre risco de também ser afastado do cargo. O senhorzinho pegou uma bomba chiando e certamente não sabe o que fazer com ela. Com a aprovação popular em franca decadência, provavelmente buscará apoio nos grandes empresários o que pode levar o Brasil de volta a um passado que nós claramente desejamos esquecer e do qual demoramos tanto a nos afastar.

Isso, unido à crise econômica oriunda de anos e anos do desvio de verbas públicas para o bolso pessoal dos parlamentares cria terreno fértil para os ideais conservadores dos partidos de extrema direita florescerem. Ideais esses que agora, depois de tantos anos, voltam a ter nomes e rostos proeminentes no governo (Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e outros tantos).

Nos resta então a pergunta óbvia: que legitimidade teria esse governo ou qualquer outro para assumir uma nação tão cheia de problemas?

Se nem mesmo os eleitores se safam de pequenas infrações travestidas de “jeitinho”, aqueles que vendem seus votos por um emprego, uma cesta básica ou aqueles que pouco se importam com o coletivo e que vivem sob a máxima: farinha pouca, meu pirão primeiro. A quem devemos culpar então?

Ante todo o exposto, a crise política, econômica e social do nosso país só está começando. Apertem os cintos e passem a guardar suas economias em seus colchões, vamos precisar.

Flavia Pinheiro de Lima
Advogada

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