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Está tudo errado!!!/ Flávio Lima

Tá errado mesmo?

Já notaram que todo material de campanha dos candidatos a “algum cargo eletivo”, sempre os apresenta sorridentes, até felizes mesmo.

E quem não estaria feliz com a possibilidade de receber um salário que é muitas vezes maior que a média geral, sem considerar todos os “auxílios” que servem na prática como adicional de remuneração dos eleitos?

O trabalho também não é dos mais sacrificantes, afinal de contas, não são obrigados a bater ponto ou entregar resultados como o resto da população brasileira, e como não costumam prestar contas durante o mandato, os eleitos para o poder legislativo, podem inclusive, elaborar ou apoiar a criação de leis que nem sempre estão sintonizadas com os anseios da sociedade, mas que favorecem um determinado grupo lobista em troca de benefícios pessoais pouco lícitos e quase sempre em detrimento do discurso, até agora superficial, que os elegeu.

Na realidade o trabalho do político, esteja ele exercendo cargo eletivo ou não, é dificílimo e árduo, pois os problemas sociais são inúmeros e de solução complexa.

A corrupção está entranhada no sistema de governo e em todos os poderes, o individualismo, egoísmo e egocentrismo, nunca foram tão presentes e difundidos em nosso meio como agora, a injustiça social e a violência que desse cenário se originam e não dão sinais de recuo.

A pobreza está aumentando e com ela a pressão sobre os serviços de saúde e as políticas compensatórias como o “bolsa família” e similares.

É importante frisar que tais políticas são indispensáveis para equilibrar a balança da justiça social e sua eliminação, neste momento, traria consequências inimagináveis para todos os brasileiros.

Um material de campanha que não estampasse um sorriso forçado, seria mais adequado a dura realidade de nosso país.

Outra coisa que me incomoda bastante é o tipo de áudio, produzido para as campanhas.

É comum a produção de “jingles” do tipo “chiclete”, muito utilizados para vender de pastas de dentes a televisores, embalados em ritmos regionais a exemplo do forró, pagode baiano, axé, etc.,

E repletos de frases de efeito como “vote em quem luta por você”, “conto com seu voto para continuar o trabalho”, “peço seu voto para defender nossa região”, isso quando não apela para o escracho e o deboche como foi o caso do Tiririca em São Paulo e de muitos outros espalhados por todo o país.

Ora, uma campanha realmente honesta deveria submeter a sociedade, um plano de mandato, no caso dos candidatos ao poder legislativo ou um plano de governo, no caso dos candidatos ao poder executivo e aguardar o veredito a ser dado pelo voto popular.

Pedir votos, soa mais ou menos como pedir um favor o que, no cenário político, não contribui para uma imagem de competência e honestidade, dando margem a interpretações negativas das intenções dos candidatos.

O eleitor, por sua vez, espera um ambiente social justo e seguro que comporte suas aspirações de uma vida digna e produtiva, apenas isso.

Porém, a verdade é que os papéis de vítima, torcedor e folião se misturam e direcionam o voto conforme as emoções do momento.

É justamente a pouca racionalização do eleitor que induz as campanhas dos candidatos a investirem em “jingles”, frases de efeito e fotos sorridentes que seriam mais adequadas em ações de venda de televisores, máquinas de lavar, sabão em pó ou serviços de dedetização.

É preciso quebrar esse ciclo.

Talvez nas próximas eleições vejamos planos de mandato que informem a agenda básica do candidato, sua intenção de frequência na respectiva câmara ou assembleia, os temas que ele pretende colocar em discussão, os projetos que já estão prontos para apreciação nas reuniões da casa legislativa por ele escolhida para concorrer, os canais que manterá aberto para contato com o eleitorado, sua disposição de dar respostas a todos os questionamentos feitos e os instrumentos de transparência que ele utilizará para prestar contas do trabalho a ser realizado.

Dos candidatos ao poder executivo talvez possamos esperar planos de governo mais realistas, detalhados e honestos, e do eleitor menos emoção, fígado, coração e mais cérebro, mais racionalização.

Talvez um dia possamos testemunhar eleições onde nenhum candidato tenha que “pedir” votos, apenas aguardar a aprovação do plano de mandato apresentado na campanha.

Seria muito mais digno e honesto, e deixaria as eleições menos parecidas com uma “corrida do ouro”.

Flavio Lima

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