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Exposição impacta com obra de sucção

Instalação “The physical mind” promete atenuar o estresse

É de lei. Exposição boa dá fila no quarteirão da Rua Primeiro de Março, no quarteirão do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Que ninguém se espante de, nos próximos meses, encontrar gente à beça esperando para participar do Festival Internacional da Linguagem Eletrônica (File), que de hoje até 4 de junho apresenta a exposição “A arte eletrônica na época disruptiva”, convite para toda a família brincar junto, deitar e rolar em instalações, games, obras de arte cinética e de realidade virtual. “É tudo bastante lúdico, o que pode ser uma chave para quebrar a resistência em relação à arte eletrônica”, afirma Paula Perissinotto, que assina a curadoria com Ricardo Barreto.

O mesmo corpo que vai esperar na fila é o que mais interessa no conceito do File. A mostra se estruturou nos aspectos vivencial, cinético, realidade virtual e lúdico. As paredes traduzem o conceito em símbolos, criados por André Lenz, autor da identidade visual e do projeto gráfico. A mostra ocupa oito salas do primeiro andar, além dos espaços no foyer e na rotunda, no térreo. São 120 obras de 85 artistas de 29 países, como África do Sul, Alemanha, Bélgica, China, Coreia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, França e Holanda. Cada trabalho aguça a contemplação e provoca os sentidos em várias camadas sensoriais.

A curadora esmiúça melhor: “Hoje, a arte eletrônica tem papel fundamental no mundo contemporâneo, pois é quase exclusivamente a única a desenvolver projetos que consideram não somente as inovações tecnológicas, mas a diversidade dos novos comportamentos incorporados na sociedade atual. A exposição propõe uma ruptura na forma tradicional da apreciação das obras, onde o público poderá vivenciar novas sensações e experimentar, simultaneamente, o movimento real com o movimento virtual; interagir com as obras e imergir em ambientes de realidade virtual”, afirma, na apresentação.

Logo que se chega ao foyer do CCBB, a coisa é bem real: pessoas da produção são embaladas a vácuo num saco plástico gigante, com o ar sendo sugado até o corpo ficar coladinho ali dentro. O espectador pode experimentar a mesma sensação, a partir das orientações dadas pelos monitores. A criação é assinada pelo belga Lawrence Malstaf, também criador de uma espécie de centrífuga, a “Nemo Observatorium”, que simula o que é estar no olho de um furacão. Sem metáfora. Basta se sentar no centro de um cilindro de quatro metros de diâmetro. Ao redor, quatro ventiladores gigantes sopram pelos ares – numa velocidade vertiginosa – milhares de micro esferas de isopor.

Nas salas do primeiro andar, as senhas são necessárias para o acesso a cada uma das oito galerias. Numa delas, destaca-se a instalação “The physical mind”, do holandês Teun Vonk, que jura que a interação com a obra alivia o estresse. Como? Deixando-se ensanduichar por dois balões imensos, iluminados por dentro, que vão sendo inflados, promovendo um abraço no visitante.

Atrações sensoriais que encantam Impressiona também na exposição “A arte eletrônica na época disruptiva” a parafernália necessária para a montagem. São dezenas de óculos 3D, fones, microfones, monitores de vídeo de vários formatos, centenas de metros de cabos, de fibra ótica, controles remotos e joy sticks, por exemplo. A equipe que atua nos bastidores da mostra também faz a diferença. “Viajamos com uma equipe de 50 profissionais e a cada local em que a exposição é montada contratamos mais gente para operacionalizar e tornar possível o funcionamento simultâneo de todos os equipamentos e obras”, afirma a curadora Paula Perissinotto.

Nada é simples, ainda que as aparências tentem enganar. Na obra “Swing”, de Christin Marczinzik & Thi Binh Minh Nguyen, um balanço – que suporta até 120 kg – leva a mente longe com óculos 3D. “A instalação soma a arte cinética à realidade virtual. O público visualiza uma animação em 360 graus enquanto se balança”, explica Paula. Os artistas alemães sempre foram fascinados pelo brinquedo. “Hoje, gostamos de recordar o prazer que sentíamos enquanto balançávamos. Sentíamos que nos desconectávamos da realidade, leves e livres. “Swing” traz de volta essas sensações”, afirma a dupla de artistas.

Mais adiante, um colchão formado por cubos prateados, recheados de espuma, tira o corpo do lugar em compassos isolados, parecendo desconstruir a forma humana. Detalhe: um funcionário se utiliza de uma partitura especialmente criada para a ocasião, escrita numa programação robótica. O trabalho, intitulado “Martela”, foi criado pela dupla brasileira Ricardo Barreto e Maria Hsu, resumindo a Tactila, forma de arte cujo meio é o “tato-toque”. “Martela é um robô tátil formado por 27 motores subdivididos por três quadrados (3×3), ou seja, cada quadrado possui nove motores. Cada motor corresponde a um ponto em matriz e temos assim 27 unidades táteis que possibilitam tocar com várias intensidades o corpo do usuário”, explicam os artistas.

Em outro ambiente, a brincadeira é com os autorretratos. Um espelho autônomo cria uma interação entre dois espectadores. A obra é “To reverse youself ” (“Reverter a si mesmo”), do artista Bohyun Yoon. “É a encarnação da minha busca para entender a relação entre o eu e os outros. O painel  espelhado, com corte feito para ser preenchido pelo rosto de um participante, reflete uma imagem híbrida que combina o corpo do espectador e o rosto do participante. A obra fala sobre a experiência ilusória como um todo”, destaca o artista.

“O tempo todo a exposição intercala os conceitos cinéticos, de realidade virtual, vivencial e lúdico”, assinala o designer André Lenz. Fato que se con?rma também na instalação “Hardwired”, dos holandeses Marcel Van Brakel e Frederik Duerinck, do grupo Polymorf. A obra é formada por 18 mil luzes LED, que simbolizam a transferência de conhecimento. Pixels luminosos individuais se conectam e então desaparecem. Num processo de transformação constante, surgem novos padrões, inter-relações e complexidades.

 

 

MÔNICA RIANI

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