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Poesia, drama e musical aquecem o teatro de Copacabana

O poeta Jorge Salomão apresenta a performance ‘Eu sou o que espalha’ na Baden Powell

Poesia, drama e musical aquecem a agenda nas salas de teatro de Copacabana nesta quinta-feira. Na Sala Baden Powell, o poeta, compositor e diretor Jorge Salomão reestreia “Eu sou o que espalha”, uma performance costurada com 70 poesias. No Teatro Gláucio Gill, o ator Hilton Cobra, volta ao palco com o celebrado “Traga-me a cabeça de Lima Barreto”, comemorando um ano em cartaz. Já no Sesc Copacabana, Claudio Mendes estreia o inédito “Maria!”, dirigido por Inez Viana, construindo um retrato sobre o compositor Antônio Maria.

Aos 71 anos, Jorge Salomão tem parte de sua vida escrita em Copacabana. Com o irmão Waly, morou no prédio Ricamar, onde ?ca a Sala Baden Powell. “O Guilherme Araújo foi para Londres e ficamos morando no escritório dele, no 11º andar, um lugar incrível, com fotos de todos os tropicalistas. Foi um alívio, pois estávamos alojados numa pensão na Rua Ministro Viveiros de Castro. Era um quarto de tabique, aquela divisória de madeira que separava os ambientes”, conta Salomão. Autor de dez livros (com dois inéditos, aguardando convite de nova editora) e de letras que somam 70 músicas gravadas, o poeta é acompanhado pelo músico Alexandre Rabelo (violão, baixo e percussão). “Meu espetáculo passa uma vibração boa. Cada uma das 70 poesias são acompanhadas de uma direção de movimento especial. Estou louco para ver as velhinhas gostosas de Copacabana na plateia”, dispara o poeta, com seu habitual bom humor.

O monólogo “Traga-me a cabeça de Lima Barreto”, interpretado por Hilton Cobra, é inspirado livremente na obra do autor, especialmente em “Diário íntimo” e “Cemitério dos vivos”. O texto de Luiz Marfuz foi escrito para Cobra, que celebra 40 anos de carreira artística, e tem direção de Fernanda Júlia (do Nata – Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas). “A peça mostra uma imaginária sessão de autópsia na cabeça de Lima Barreto, conduzida por médicos eugenistas, defensores da higienização racial no Brasil, na década de 1930. O propósito seria esclarecer ‘como um cérebro considerado inferior poderia ter produzido uma obra literária de porte, se o privilégio da arte nobre e da boa escrita é das raças tidas como superiores’”, destaca o ator. Os atores Lázaro Ramos, Frank Menezes, Harildo Déda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade – todos amigos e admiradores do trabalho de Cobra – emprestam suas vozes para a leitura em o? de textos de apoio à cena.

“Maria!” vai ocupar o Mezanino do Sesc Copacabana. “O Maria compositor eu já conhecia, minha mãe me apresentou os melhores da MPB. Mas o Maria cronista foi Aderbal Freire-Filho, que me emprestou o primeiro livro de crônicas, publicado após a sua morte. Ali começou uma longa e duradoura paixão, que ora resulta neste tão sonhado trabalho”, destaca o ator e autor do texto, Claudio Mendes. Após as crônicas, ele mergulhou na biogra?a escrita por Joaquim Ferreira dos Santos, o diário inédito e mais dois volumes de crônicas. A peça propõe um passeio de Antônio Maria, os temas de sua vida (mulheres, infância no Recife, dívidas, Rio de Janeiro), embalado por sua marcante produção musical, acompanhado da violoncelista Maria Clara Valle. “Falar do Maria hoje é, de certa forma, entrar em contato com um Rio menos ansioso e violento, onde o que reina na noite são os boêmios e os poetas”, comenta Inez Viana.

Nascido em 17 de março de 1921, no Recife, Antônio Maria foi um dos nossos maiores craques literários. Cronista admirável, com pleno domínio e intimidade com a sonora língua portuguesa, falava e escrevia com exigência de estilo, beleza poética e técnica de mestre. Seu primeiro emprego, aos 17 anos, foi o de apresentador de programas musicais na Rádio Clube Pernambuco. Em 1940, se muda para o Rio de Janeiro para ser locutor esportivo na Rádio Ipanema. Em 1947, se torna diretor artístico da Rádio Tupy. Convocado por Assis Chateaubriand foi o primeiro diretor de produção da TV Tupi, inaugurada em janeiro de 1951. Durante mais de 15 anos, escreveu crónicas diárias para “O Jornal”. Em 1952, Maria foi um dos primeiros contratados da Rádio Mayrink Veiga.

Em 1957, com Ary Barroso, apresentou o programa “Rio, eu gosto de você”, na TV Rio. No jornal “O Globo”, em 1959, manteve a coluna “Mesa de pista”, tendo então se transferido para a “Última Hora”. Antônio Maria foi ainda compositor dos mais notáveis da música popular brasileira.

MÔNICA RIANI

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