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Projota e Vitão se unem para show no Rock in Rio

Vitão e Projota no clipe de 'Sei lá' — Foto: DivulgaçãoVitão e Projota no clipe de 'Sei lá' — Foto: Divulgação Vitão e Projota no clipe de 'Sei lá' — Foto: Divulgação

Projota e Vitão tem algumas coisas em comum: os dois carregam a forte influência do rap politizado (o primeiro mais do que o segundo), mas também querem falar de amor (o segundo mais do que o primeiro).

Eles já cantam juntos a balada romântica “Sei lá”, raro exemplar fora do funk e do sertanejo a entrar na lista de músicas mais ouvidas no país – na última semana, ocupava a 32ª posição no top 50 do Spotify.

Em 5 de outubro, vão se unir também no palco Sunset do Rock in Rio, em uma apresentação que deve mostrar a força do rap com apelo meloso no festival, mais aberto ao gênero neste ano.

“O mercado pede o romântico desde que inventaram a música”, avalia Projota, sobre as demandas que cercam seu próprio repertório. “A música é entretenimento, mesmo sendo rap, mas não deixa de ser militância.”

Conectado ao ritmo embora não se considere um rapper, Vitão fala na “distância” entre artistas do underground e os que conseguem se embrenhar no pop – ele já está tão habituado ao segundo grupo que, em breve, aparecerá numa parceria com Anitta.

“Essa distância sempre rolou, talvez por frequentarem lugares, mídias diferentes.”

Na entrevista abaixo, os dois falam sobre os dilemas desses espaços, a profissionalização do rap no Brasil e a nova música que gravarão juntos, ao lado da cantora carioca Giulia Be, que também participará do encontro no Rock in Rio.

Vitão, Giulia Be e Projota; trio vai se apresentar em 5 de outubro no palco Sunset do Rock in Rio — Foto: Divulgação
Vitão, Giulia Be e Projota; trio vai se apresentar em 5 de outubro no palco Sunset do Rock in Rio — Foto: Divulgação

G1 – Projota, você disse numa entrevista em 2016 que, para fazer rap, era preciso entender que é preciso ‘acordar cedo e dormir tarde’, trabalhar duro. Acha que, de lá pra cá, essa consciência cresceu? O rap se profissionalizou no Brasil?

Projota – Com certeza. Uma prova disso é que hoje os artistas vêm de vários estados. Tem o pessoal de Minas, do Recife, Baco [Exu do Blues], que é de Salvador.

O Rio de Janeiro também cresceu muito na última década. Na minha adolescência, eram poucos os expoentes do Rio, tinha MV Bill, Gabriel o Pensador e Marcelo D2.

Eu fazia shows e viajava sozinho, não ia nem com DJ. Pegava um ‘CDzinho’, colocava a base para tocar e cantava. Hoje a gente vê uma rapaziada super jovem fazendo shows. Encontro com o pessoal dessa geração em aeroportos, às vezes com equipe maior do que a minha.

“Hoje a galera já chega profissional. Mas a gente precisou capinar a terra, era tudo mato mesmo.”

G1 – Vitão, apesar de ser sempre associado a esse gênero, você costuma dizer que não é rapper. Por quê?

Vitão – Tenho muita influência de todos os lados: do rock, do rap, de samba, mpb, pagode e funk. [A associação] é uma bagagem que carrego por escutar muito rap e andar no meio desses artistas.

Mas me considero só um cantor que ouve muito rap, e que tem essa influência impressa na música.

G1 – Vocês dois têm repertórios que se aproximam pela influência de rap, mas com tom romântico. Muitos dizem que esse tipo de som é o que mercado pede hoje. Vocês concordam?

Projota – O mercado pede o romântico desde que inventaram a música. No meu trabalho, você vai encontrar música que fala de Deus, de amor, de politica, de perdas. Mas as românticas acabam ficando mais famosas porque caem na rádio, em novelas…

Mas, por exemplo, na última vez que eu fui ao ‘Faustão’, cantei ‘Senhor presidente’ na época da eleição. Esse tipo de coisa, nem todo mundo está afim de comentar. É mais fácil criticar.

                     

A música é entretenimento, mesmo sendo rap. Não é segredo pra ninguém o quanto, nos Estados Unidos, o rap é entretenimento e uma fonte de renda absurda. Mas não deixa de ser militância por causa disso. Não deixa de ser um som pra informar as pessoas.

Vitão – Falar de amor, em qualquer música, é uma algo milenar. O rap tá se abrindo pra isso.

G1 – Artistas com apelo pop como o de vocês ainda enfrentam resistência no meio do rap?

Projota – Já teve bastante. Hoje novas gerações já estão aí. Estou há 18 anos cantando, é muito tempo. Hoje tem moleque rodando o Brasil com 18 anos.

E cada um canta a sua verdade. A verdade de vários é ainda mais pop que a minha. A aceitação vai vindo com o tempo. É um estilo de música muito jovem. muita coisa precisou acontecer paras pessoas verem as possibilidades.

Vitão –

“Tem uma distância entre os artistas do underground e os que são mais pop. Isso sempre rolou, talvez por frequentarem lugares, mídias diferentes.”

Mas eu tenho muita amizade com a galera do rap raiz. Hoje em dia o pessoal está se abrindo mais.

                     

G1 – Quando rolou o convite pro Rock in Rio, vocês já tinham lançado juntos “Sei lá”? Como foi?

Projota – O convite mesmo veio depois de ‘Sei lá’. Mas a gente já sabia que iam ser eu e Vitão [no show]. É importante pra mim essa oportunidade de trazer gente da nova geração, assim como muitos artistas já me convidaram pra participar de projetos. E ele é um parceiro que eu adoro.

Vitão – A possibilidade foi comentada comigo, mas durante muito tempo ficou meio no ar. Era um sonho meio distante. E foi um choque. Acho que seria pra qualquer artista no começo da carreira, como eu.

G1 – Projota, você participou do Rock in Rio 2017, como convidado do show Thirty Seconds to Mars. Como rolou essa negociação na época?

Projota – Foi quase do nada, um lance de lugar certo na hora certa. Eles estavam lançando uma parceria com Travis Scott [a banda e o rapper cantaram juntos ‘Walk on water’ no VMA 2017] e queriam manter o rap nessa parte específica.

Procuraram alguém no Brasil e me acharam. Agradeço muito aos números que eu tinha na época. Além disso, somos da mesma gravadora.

                 

G1 – Como escolheram a música que vão gravar juntos para essa edição do festival?

Projota – Eu, Vitão e Giulia vamos gravar juntos “Cobertor” [música que o rapper já gravou em versão solo e em parceria com Anitta]. A gente pensou bastante em qual música escolher, era difícil achar uma que desse pra dividir bem entre os três.

Escolhemos pela geografia dela, pela métrica. Dava pra cada um fazer muito bem uma parte. Eu adoro essa música.

Vitão – Já conhecia essa música. Sou fã de Projota desde criança, então conhecia o trabalho dele de cabo a rabo. É uma música muito versátil, dá pra fazer muita coisa com ela.

G1 – Vitão, você é aberto a parcerias e parece não ter muito preconceito. Vai de Luisa Sonza a Bruninho e Davi. Qual critério usa pra escolher com quem vai se juntar?

Vitão – Procuro fazer parcerias com pessoas com quem sinto uma conexão e consigo criar uma amizade. A abertura para um novo público acontece naturalmente.

 Carol Prado

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