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Brasil, um arremedo de democracia por Sérgio Jones

O historiador e cientista político Boris Fausto diz, em suas inúmeras entrevistas concedidas por todo o país, que o Brasil não desfruta e nem vive em uma democracia plena e consolidada. Pois acredita que uma democracia nestes moldes implicaria em um modelo de uma democracia perfeita, conceito em que não se aplica em nenhuma parte do planeta.

E para que exista um país democrático, é preciso ter instituições na sociedade que sejam sólidas, e o Brasil não tem isso, ou tem isso de forma muito embrionária.

E que a prova desta realidade pode ser constatada nas repetidas eleições, as decepções com nomes, partidos, sobretudo o fenômeno da corrupção que foi colocado à vista de todo mundo, contribuem de forma efetiva para o descrédito da democracia.

Outro aspecto abordado por ele é quanto a inexistência da representatividade, no campo político, outro agravante, pois essa só é possível de ser feita através e por meio dos partidos.

O que ocorreu, ao longo da história brasileira pós-1945. Período em que houve uma ascensão relativa dos partidos, certa definição ideológica dos grandes partidos e um grau de representatividade maior do que o de hoje.

Quanto o descrédito existente com os partidos atuais, o historiador acredita que pode ser um forte agravante no ponto de vista social, de confrontação social, de desmoralização. Mas descarta que isso não implica que estejamos correndo o risco, de um golpe militar de forma clássica, como ocorreu no passado. Nada indica isso.

Mesmo considerando-se que a democracia se encontra em crise, a tentação de um regime autoritário, até eleito, é forte. E não é um acaso que o deputado federal Jair Bolsonaro, PSC-RJ, e pré-candidato à Presidência. Que desponta como o segundo na posição na corrida presidencial, segundo o Datafolha, atrás apenas de Lula.

Embora reconheça ser ele uma figura absolutamente secundária e despreparada para governar, uma espécie de Trump tupiniquim que nunca teve peso maior e, depois de anos muito apagados na política, desponta como uma provável “candidatura forte”.

Com relação ao impeachment da Dilma, considera como um episódio de relevada importância a saída de uma presidente da República, mas a interpretação desse episódio, que tem coisas que vão muito além da operação contábil, as chamadas pedaladas fiscais, ainda vai demorar um tempo, porque precisa se aquietar.

Embora ressalve que dizer que ele foi positivo é um pouco forte, mas que o impeachment se tornou algo imperioso, do qual não se podia fugir, a menos que se entrasse numa situação muito grande de desentendimentos e comprometimento da área econômica e financeira do país. Mas reconhece, o que veio depois é que introduz mais problemas”.

No tocante a participação do PMDB, que no passado, quando começou, tinha enorme prestígio, Era o partido de combate à ditadura. Com fraquezas, dificuldades, temores, mas aglutinava todas as forças de oposição.

Com a redemocratização, tudo mudou. A força desta agremiação política não se compromete ideologicamente, a rigor, não é de esquerda, não é de centro, nem é de direita. Define o mesmo como uma sociedade ilegal, de compadres, de alto a baixo. Por isso mesmo controla o Congresso, mas nunca elegeu um presidente.

Quanto a presença de Temer no poder reconhece que o mesmo não implica em nenhuma transformação tão grande que resulte em representações muito novas. E que o presidente golpista revelou uma grande capacidade no uso da caneta para fins de se assegurar no poder.

Também mostrou grande influência no Congresso, até por más razões. “Brecou tudo no Congresso inclusive as duas denúncias de corrupção apresentadas pela Procuradoria-Geral da República”.

Sérgio Jones, jornalista (sergiojones@live.com)

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