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Carta a um jovem mídia

Nizan Guanaes

Peço o testemunho dos profissionais com quem eu trabalho do respeito e da cumplicidade que tenho com meu time de mídia. Com as transformações da tecnologia e a fragmentação de telas, a mídia é “the new big thing”.

E “o” mídia é justamente aquele profissional nas agências que traça as estratégias de como melhor usar tanta mídia. Hoje, para mim, ele é tão importante quanto o profissional de criação.

Só que muito cuidado com o andor. É verdade que os mídias mais velhos precisam ser atualizados sobre as novas mídias, mas é igualmente necessário atualizar você, jovem mídia, sobre a realidade da mídia neste país imenso.

Para você, jovem mídia atuando a partir de São Paulo ou outra grande metrópole brasileira, pode parecer que tudo é digital. Não é.

O universo Brasil, como o universo Índia, o universo França, o universo Rússia e outros universos, tem uma lógica diferente das métricas e das regras que americanos e ingleses competentemente querem nos vender no Festival de Cannes.

Se é verdade que tudo virou digital, vamos transferir o horário eleitoral do ano que vem só para as redes sociais, em vez da televisão e do rádio. Duvido que os candidatos aceitem.

Antes que você se ofenda, meu querido jovem mídia, a culpa desse seu distanciamento não é sua. É que os gringos têm muito mais bala para doutrinar o planeta.

O Google é uma igreja que passa todos os dias doutrinando jovens mídias com a paixão dos missionários mór- mons. Com toda a competência, eles enchem a agenda dos principais publicitários do mundo com um conteúdo fascinante, que posiciona o Google e envelhece tudo mais. Facebook e Twitter fazem a mesma coisa.

E tanto você, meu querido jovem mídia, como outros jovens profissionais de marketing acham velho todo o resto.

Enquanto isso, o maior evento de mídia do mundo continua sendo um evento de TV, o Superbowl. E a televisão é uma mídia tão forte no Brasil que o canal líder de audiência no nosso país tem praticamente um Superbowl por dia.

Amo o mundo digital, jovem mídia, e sou um desses homens de internet no Brasil. No ano 2000, lancei o portal iG. Lancei também a Click, com PJ Pereira e Pedro Cabral, agência até hoje líder do setor.

E temos em nosso grupo algumas das agências mais eficientes e premiadas do Brasil e dos Estados Unidos na área digital.

Portanto, conheço e amo esse mundo. Caminho com ele. Mas tomo muito cuidado para não ficar grudado no celular o tempo todo e não ver que há uma vida imensa lá fora.

Por escrever neste jornal, sinto na pele o peso que um jornal de peso tem. Você viu por quanto foi vendido o jornal britânico (de audiência global) “Financial Times”? Você acha que os compradores japoneses teriam pago mais de R$ 4 bilhões se o meio estivesse morrendo?

Nós, seres humanos, somos muito ruins de prever o futuro. Não estamos comendo pílula, mas alimento orgânico. Como dizia John Lennon, a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro.

Essa carta não é uma repreen- são, é um alerta, meu caro jovem mídia, para que você abra os seus olhos para tudo.

Para a mídia que sua mãe vê, que a sua sogra vê, que o seu filho vê, que o seu primo lá do Pará vê. Ficando com os olhos bem abertos a tudo, meu jovem mídia, além de um mídia jovem, você será também um mídia moderno.

Nizan Guanaes

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