Somos reservados, temos razões para isso. Vamos iniciar o trabalho da seguinte forma:
Após fazer a retirada de todos os metais que estavam em seu poder, o profano é levado à Câmara das Reflexões.
Nesse momento ele não deve estar portando nenhum instrumento que lhe ofereça qualquer tipo de recurso financeiro e poder.
Para o neófito, isso significa que ele foi privado de luxo, das ambições e deve considerar o dinheiro como um meio e não como um fim.
A Câmara das Reflexões é um lugar lúgubre, paredes negras, esqueletos, cabeças de morotos e lágrimas.
No ambiente também se pode ver desenhos de um galo, uma foice e uma ampulheta.
O galo é símbolo da vigilância: “sou eu quem desperta o dia; portanto te cuida, procura tornar-se o mais perfeito possível”.
O símbolo da foice é ainda o pensamento da morte.
A ampulheta foi o primeiro relógio, diz a aquele que chega: “O tempo passa ainda mais depressa do que a minha areia; sê perseverante em tua ação; sabes quanto tempo tens para concluir tua tarefa?”
Da Câmara o profano sai despido de uma parte de suas vestimentas. Por quê?
Inicialmente lembra que o ser humano deve ser despido da vaidade. Ele é pó e em pó um dia há de se tornar, conforme afirma as Escrituras Sagradas. É o emblema do operário, do trabalhador.
Lembra também o trigo dos mistérios de Eleusis. O grão de trigo, ao morrer na terra, perde sua casca. Assim, o neófito deve morrer para a vaidade, para o vício, para o orgulho, para as ambições deletérias.
Ele como o grão de trigo, vai começar um novo ciclo de vida: tem de renunciar grande parte de sua vida e vai ser um elemento produtivo para a sociedade.
Eis, em síntese, o significado do simbolismo do despojamento de uma parte das vestimentas.
O coração descoberto significa que o Maçon deve ser franco e leal.
O seu braço descoberto significa que ele deve ser trabalhador livre e honesto na obra comum.
O joelho direito é o que dobra e toca o chão em sinal de adoração.
Quanto ao pé esquerdo, descalço, remota às origens orientais da Ordem. Os orientais se descalçavam para entrar em seus templos. Acontece que a Maçonaria, atualmente, não segue esse rigor da prova. O neófito apenas substitui o sapato por uma sandália humilde.
O neófito entra na Loja de olhos vendados. Esse simbolismo é mais adequado quando se deseja a luz do novo conhecimento e das novas experiências.
Ele está ingressando numa comunidade que lhe é inteiramente desconhecida. Se ao passar pelas provas, resolver desistir será retirado do ambiente sem nada ter visto.
Também simboliza que na vida nos debatemos às cegas e que nada conseguiremos sem o auxílio dos mais experientes na luta da existência.
Pois bem meus irmãos e meus amigos, o que existe de segredo intransponível na iniciação? Responda-me, a luz desse simbolismo, se pode ter cabimento a crítica zombeteira e falsa que algumas pessoas fazem à Maçonaria.
Vamos, digam, estou aguardando onde está à prática excêntrica, a prática diabólica?
Não esqueçam que ritos são praticados em todas as religiões e o simbolismo é típico da humildade que rebate o orgulho e a perfídia.
Esse é o espírito do verdadeiro Maçon. Porém não nos esqueçemos que também podemos encontrar na irmandade, os nossos Judas.
Carlos Lima