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O ILUMINISMO E A MAÇONARIA

A História da Humanidade, o século XVIII e algumas décadas do findo XVII e do início do XIX constituem, sem dúvida uma idade de destaque, uma verdadeira era de transformações que abalou as estruturas arcaicas e imobilizadas do pensamento humano, atreladas a conceituações religiosas severas e a  preceitos morais rígidos e ultrapassados, num contexto social em ebulição e ávido por transformações.

Aquele mundo de há três séculos, evoluiu lentamente, sendo difíceis as comunicações, afastadas as civilizações pelas longas distâncias a percorrer e pelo descompasso do desenvolvimento.

Oriente e Ocidente, Europa e Ásia, o Continente Americano longínquo e totalmente colonizado, a África Meridional e outras concentrações de povos ainda mal conhecidos se defrontavam com culturas estranhas e conflitantes.

Havia indefinições de limites territoriais, uma geografia sempre mutante, as pessoas mal informadas pela carência de escritos e insuficiente divulgação do saber, ao que se juntava um elevado índice de analfabetismo, carência de escolas, público geral castrado em seus anseios de conhecer, premido pelo preconceito do “pecado”, em busca de perdão e de uma prometida “santidade” numa religião imposta, de cujos preceitos a Igreja Católica se julgava guardiã, mercê de um braço impiedoso e cruel: a Inquisição.

Após cerca de seus milênios de lento desenvolvimento da civilização, como que “iluminados” por uma luz divina, começaram a surgir cérebros pensantes, inteligências lúcidas, espíritos penetrantes – questionadores, pesquisadores, inventores – em busca das verdades ocultas, das certezas mal disfarçadas, do saber inaplicado e por descobrir, da experiência realizável mas deixada de lado por uma espécie de incompreensível “preguiça mental”, induzida pelos preconceitos de uma pretensa moral, rígida e enganosa, e uma pseudopresa religiosa.

“Ouse conhecer!” estimulava o filósofo alemão Immanuel Kant, como expressão animadora do “espírito” do século XVIII. “Tenha coragem e use sua inteligência!” era o brado de motivação ao pensamento comum. Como um refrão duas palavras simples e ao mesmo tempo perigosas embalavam o eterno sonho do ser humano de direcionar-se ao Absoluto, de tudo saber: “Por que?”.

Certezas inabaláveis, ancestrais, desmoronaram. Afirmações tradicionais sobre a autoridade dos reis, a estrutura do universo, e até mesmo a existência de Deus foram colocadas em questão.

Os pensadores permitiram-se, despidos dos preconceitos, discutir tudo; os velhos hábitos de obediência inquestionável às autoridades religiosas, políticas e sociais foram substituídos pelo exame das idéias sob uma nova ótica, sob uma luz radiante e penetrante: a Razão; Convencidos de que a sua época era de mudanças aceleradas e profundas, os pensadores de então – chamados “lês philosophes”, os filósofos, amigos do conhecimento – desatrelaram-se das convenções arraigadas e imobilizante, desobrigaram-se das limitações preconceituosas e fizeram despertar – à custa da inteligência desenvolta e desinibida – o primado da razão, o culto do  raciocínio, o império do pensamento livre.

O tempo ficou conhecido como “A Idade da Razão”; o movimento intelectual – artístico e científico – “O Iluminismo”.

Como um incêndio que se alastra, foram surgindo em  toda a Europa – Itália, Suíça, França, Inglaterra, Holanda, Polônia, Estados Germânicos – até mesmo na Rússia e nas distantes colônias americanas, escritores, pensadores, cientistas, artistas e estudiosos de todos os assuntos, numa avalanche de novos conhecimentos, de ideias novas e revolucionárias, trazendo, em consequência, mudanças nunca antes acontecidas, tão velozes e profundas naquelas estruturas solidamente firmadas por séculos de imobilismo, de passividade, de apego aos dogmas, e de terrorismo religioso.

Assuntos os mais variados, os temas mais controvertidos, leis, teorias, dogmas, certezas e dúvidas foram trazidos ao debate, à especulação, à pesquisa, à busca de provas e confirmações, numa fermentação intelectual ousada, atrevida, perigosamente desafiadora.

Algumas das privilegiadas “cabeças” desse período, por sua ousadia, pagaram  elevado preço. Herdeiros de cerca de trezentos anos de esforços para ampliar os horizontes do conhecimento humano, estes novos pensadores retomaram os estudos científicos de seus antecessores do período pós-medieval, ainda envolto pelas trevas do obscurantismo e do temor.

Nos séculos XIV, XV e XVI, a Igreja Católica, apesar dos reformadores, alimentava o dogma da estrutura verticalizada da fé, com Deus no alto e o Homem na Terra, como centro do universo. Para poder lançar sua teoria de um sistema planetário, heliocêntrico, Nicolau Copérnico tivera de esperar longos anos para obter permissão eclesiástica para divulga-la como ensinamento.

O Papa Clemente VII autorizaria o ensino desse conhecimento sob a forma de hipótese, quase ao fim da vida do grande sábio polonês; seu livro teve o prefácio adulterado sem que o autor o percebesse.

Os grandes vultos da Renascença haviam retomado o ímpeto das brilhantes civilizações clássicas da Grécia e do Império Romano, absorvendo textos de Aristóteles sobre Retórica e Poética, de Anaximandro e Anaxímenes sobre filosofia e, sobretudo, o sistema de lógica proposto por Platão e inspirado por Sócrates – um guia passo a passo para testar as ideias e os conceitos pelo simples exercício da razão.

No século XVI, os Reformadores protestantes haviam se afastado da Igreja Católica, estabelecendo novas versões da fé, sustentada por rígidas interpretações dos textos bíblicos.

Disseminara-se lentamente, no decorrer destes três séculos, o espírito de perquirição, da indagação racional como método do conhecimento e atingir o saber.

Dados empíricos seriam a base das investigações, o exame minucioso, em profundidade e extensão, e a aplicação plausível e incontestável a todos os fenômenos e dúvidas existentes, o processo de modernização da mente em seu perene atributo natural, ingênito, de descobrir, desvendar, informar-se, de conhecer.

Os pensadores do séc. XVII partiram desses alicerces. Filósofos como Francis Bacon, na Inglaterra e René Descartes, na França, procuraram novos padrões de pensamento que não devessem nada aos dogmas teológicos ou teorias filosóficas herdadas, mas que fossem puro resultado da evidencia proporcionada pelos sentidos e pela lógica.

O cientista italiano Galileu Galilei baseou-se na obra de Copérnico, desafiando as leis tradicionais da astronomia estabelecida por Ptolomeu, de Alexandria, cerca de 1500 antes, e sugerindo que as leis da matemática poderiam desempenhar um papel significativo no funcionamento do universo.

Alarmada pelas implicações dessas teorias a igreja, através dos tribunais da Inquisição, processa e condena Galileu por heresia, e o astrônomo é obrigado a retratar-se para escapar de maior castigo; ainda assim acabou passando os últimos anos de sua vida em prisão domiciliar, recolhido a um castelo de sua propriedade (História em Revista). Conta-se que, embora tenha renegado suas convicções perante o tribunal, ao fim do julgamento sussurrou: “Eppure, la Terra si muove”.

Em 1665, um inglês, Isaac Newton assombra o mundo com sua descoberta, através de esmerados cálculos, que o sistema solar era governado pelas leis da gravitação. Abre-se uma porta para os mistérios do universo através de um princípio mecânico simples, mas rigorosamente testado, que poderia ser aplicado tanto ao movimento dos corpos celestes como ao dos terrestres.

Sendo possível formular uma lei significativa, com toda a certeza outras leis se seguiriam como decorrência inequívoca; este era o raciocínio lógico. Fora inventado o cálculo matemático aplicado à astronomia e desabavam centenas de concepções religiosas vetustas e tão ardorosamente defendidas pela Igreja.

Entretanto, ainda assim, os cientistas da época não se deixaram levar pela suposição de que a ciência contrariava a religião estabelecida. Embora deitando por terra conceitos milenares, Newton acreditava numa presença divina que governasse aquelas operações; suas energias eram direcionadas também para estudos bíblicos, tanto quanto para a matemática. Antes dele, Galileu, supostamente herege, havia tentado conciliar as teorias científicas com a verdade religiosa, numa obra intitulada “A Autoridade das Escrituras”.

Todavia, os filósofos das gerações seguintes não se mostraram tão cautelosos e inibidos. No início do séc. XVIII novos abalos no sólido edifício religioso-conceitual voltariam a surgir: com a aplicação de inventos recentes, como o microscópio e o telescópio, que revelaram a observadoras complexidades inesperadas não só nos céus, como também nos mínimos fragmentos do mundo terrestre, perdia terreno e crédito a Igreja Católica, com perturbadoras notícias de que uma simples pulga exibia uma estrutura tão complicada como a de um ser humano, ou então que os  investigadores espiando através das lentes um óvulo e um espermatozoide afirmassem ter descoberto a verdadeira fonte da vida.

Seguia o século e os cientistas prosseguiam com novas revelações. Na França, o químico Antoine Lavoisier realizava experiências para descobrir a composição da água e elucidava o mistério ancestral do fogo ao demonstrar o papel exercido pelo oxigênio no processo da combustão.

Anatomistas dissecavam cadáveres à luz do dia, sem a necessidade de esconder-se, como faziam seus antecessores, e traziam à ciência contribuições excepcionais e chocantes revelações.

Tratados de medicina começaram a surgir, choveram comunicações às Academias de Ciências em toda a Europa. Explodia o interesse por tudo o que era novo, surpreendente, explicado e experimentado.

Simultaneamente, viajantes, exploradores e descobridores traziam de volta para a Europa, histórias inquietantes sobre terras até então desconhecidas, onde homens e mulheres adoravam divindades totalmente estranhas ao cristianismo e cujas vidas, não abençoadas pelo batismo davam, no entanto, todas as evidências de moralidade e virtude.

Uma fascinação particular provocava  a altamente desenvolvida sociedade da China, com seus rígidos códigos de conduta. O filósofo Leibniz chegou a  sugerir que os chineses deveriam enviar missionários para civilizar o Ocidente cristão.

Apesar de tudo, os povos europeus continuavam firmes em sua fé. Porém, os intelectuais, os homens que viviam no mundo das ciências e das ideias, como Voltaire, sentiam que as percepções estavam se alterando o que exigia uma nova abordagem da religião.

 Poucos foram os que abandonaram completamente o conceito de um ser supremo. É de Voltaire a observação: “Se Deus não existisse, seria necessário inventa-lo”. Mas clérigos, sacramentos, liturgias e a versão bíblica da história humana não eram consideradas igualmente indispensáveis. Adão e Eva, o Dilúvio, a Arca de Noé e tantas outras passagens das Sagradas Escrituras passaram a ter conotação meramente simbólica.

Configurava-se, assim, uma nova forma de fé, refletindo a mudança de visão do mundo: o deísmo. O deísmo aceitava o fato de que o mundo era o produto de um plano inteligente e benevolente criado sob o desígnio de um ser, por si mesmo não criado, não criatura e, portanto, incompreensível, indivisível, absconso, inconsútil e incognoscível; e que concedera aos mortais tanto a virtude natural – em vez do pecado original – como o dom da razão, permitindo-lhes, até certo ponto, forjar um destino de sua própria escolha.

As maravilhas do universo, que as novas descobertas científicas desvendavam aos olhos dos Homens e que se ampliavam quase diariamente, também serviam para demonstrar – e cada vez mais – a sua grandeza e complexidade, inimaginável sua inteira compreensão dentro dos limites de qualquer discussão, dada as suas dimensões celestiais.

Atraindo intelectuais de várias correntes filosóficas, o deísmo era uma forma de manutenção da fé religiosa que abolia preconceitos e abominava os dogmas da Igreja que não fossem revisados pelo prisma inquiridor da ciência. Aquela nova forma de fé, baseada na racionalidade significava iminente perigo às tradições doutrinárias de Roma e do Catolicismo candente.

Dentro de uma lógica empirista o novo enfoque religioso seria levado a conclusões conflitantes. Para David Hume, ensaísta inglês, a plenitude do conhecimento da  divindade seria impossível pelas limitações e falhas a que estão sujeitos nossos sentidos; para o radicalismo alemão do Barão d’Holach, Deus era indispensável, porque o universo era simples matéria em movimento, alheio ao destino de seus habitantes, sem a menor importância para as forças que o haviam engendrado.

Contudo, para os filósofos, o indivíduo enquanto pessoa humana, contemplado com o dom da razão, provido de inteligência e capacitado a formular idéias, pensamentos, juízos e raciocínios lógicos, era objeto de inextrincável fascínio.

O papel da memória, da aquisição de conhecimento, dos sentidos, da percepção e do entendimento, as formas de comportamento humano na sociedade, etc., foram temas explorados e objeto das mais profundas análises e reflexões.

Em 1690, o filósofo inglês John Locke lança uma publicação que perduraria como pauta de discussões durante as primeiras décadas do século XVIII: o “Ensaio sobre o Entendimento Humano”, em  que postulava a teoria de que as crenças e o comportamento humano não eram inatos ou ingênitos – como era implícito no conceito cristão do pecado original – mas sim criados por estímulos externos.

O indivíduo era produto de seu ambiente.

A moderna psicologia encontra seu berço numa abrangente publicação de meados do século, de autoria de um médico inglês, David Hartley: “Observações sobre o Homem, sua Estrutura, seu Dever e suas Expectativas”.

A educação das crianças forjaria o caráter dos componentes da sociedade adulta, pela aplicação de estímulos apropriados, sem a rigidez das regras da época em que se considerava as crianças como adultos em miniatura, e em que a vara e os castigos eram os instrumentos mais usados para instilar a aprendizagem. Em “Émile”, romance didático, J.J. Rousseau preconiza o método racional de ensino às crianças.

Um famoso jurista italiano, Marquês di Beccaria (Cesare Beccaria) publicou, em 1764, uma obra influente: “Dei  Delliti e Delle Pene”, em que sugeria que os criminosos deveriam ser recuperados pela educação em vez de submetidos às bárbaras sentenças usualmente aplicadas pelas cortes de jurados.

Quando a punição fosse inevitável, ele recomendava a aplicação de penas proporcionais aos crimes; tratava-se de uma ideia nova numa época em que, na Inglaterra, por exemplo, um homem podia ser enforcado pelo furto de objetos de ínfimo valor. Na França, Voltaire foi incansável no combate à injustiça e ao fanatismo, expondo suas visões de uma sociedade mais justa e racional.

A busca do bem-estar físico e espiritual, a bússola para a felicidade humana apontava um caminho repleto de exigência social e que passava, necessariamente, pelas reformas econômicas.

Na França, Fraçois Quenay e seu grupo que se autointitulada “fisiocrata” defendia a ideia de que o processo de criação da riqueza era controlado por forças naturais; por isso que os produtos agrícolas e bens manufaturados deveriam circular livremente sem a intervenção do Estado.

Na Inglaterra, o economista escocês Adam Smith ampliou a teoria dos fisiocratas com a publicação: “Investigação Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”, em 1776, obra em que defendia o  lucro dos empresários e donos de moinhos e fábricas – os ancestrais da conhecida Revolução Industrial do século seguinte – e o seu reemprego em benefício da sociedade, sem a interferência permanente do Estado.

Receitas políticas para os governos também foram objeto de estudo dos filósofos iluministas. Antes deles, Dante Allighieri (séc. XIII – XIV) e Niccoló Machiavelli (séc. XV – XXVI) abordaram formas de governo, críticas aos reis e príncipes, conselhos, aplicação da justiça e concessão de liberdade aos cidadãos governados.

Na França, o despotismo de Luís XVI despertaria um caos político que  culminaria poucos anos depois na revolta popular que desintegrou quase todas as demais monarquias do mundo – a Revolução Francesa.

Montesquieu, membro da nobreza, preconizava uma aristocracia forte que contrabalançasse as tendências absolutistas dos soberanos. Voltaire, monarquista convicto, embora pertencente à burguesia, argumentava que o poder do rei deveria ser temperado pela influência civilizadora de conselheiros esclarecidos. J.J. Rousseuau, de origem plebéia, em seu “Contrato Social” (1762), manifestava-se convictamente republicano.

Numa época em que os Direitos Humanos ainda eram um sonho, uma quimera, seria pueril acreditar que os soberanos se dispusessem a assumir posturas republicanas inspiradas em ideais políticos do Iluminismo.

Todavia, alguns monarcas europeus começaram a mostrar consciência de que seus povos mereciam algo em troca do  pagamento de impostos e da fidelidade ao rei e à pátria.

Na Prússia, Frederico, o Grande, admirador de Voltaire e Beccaria, criou uma Academia de Artes e Ciências, aboliu a tortura e a censura revisou o sistema de leis e realizou uma reforma agrária e industrial.  José II, da Áustria, tentou o fim da servidão em seus domínios e implantou a tolerância religiosa.

A Rússia de Pedro, o Grande, e Catarina, a Grande, conheceu reformas sociais, – administrativas, educacionais, econômicas – como jamais poder-se-ia imaginar, em domínios tão vastos e atrasados.

A Europa modernizava-se, se voltava para a ciência, para as artes, para a verdadeira civilização, conquanto os ideais de liberdade dos povos se mantivessem em latência fermentativa e explosiva.

Uma classe média crescente, ávida de conhecimentos e informações, dominando o comércio, o artesanato, a incipiente indústria, a produção agrícola e os bens de  consumo e serviços em geral, em breve haveria de encurralar a nobreza ociosa e decadente dos reinos e principados do Velho Mundo.

Surgira uma intelectualidade envolvente, uma sociedade com menos castas, despindo-se dos preconceitos de classe e disposta a ocupar o seu verdadeiro lugar no contexto social das grandes capitais.

Ampliaram-se as formas de educação pública, expandiu-se enormemente o pensamento sob a forma da palavra impressa numa demanda cada vez maior por material de leitura e aquisição de conhecimento.

As editoras de todo o continente produziam uma avalanche de publicações – jornais, revistas, livros, tratados – propiciando o saber, divulgando a cultura, estimulando o pensamento e o raciocínio. Criaram-se bibliotecas públicas abrigando todos os ramos do conhecimento. Desvendara-se às massas populares, o mistério das Universidades e Mosteiros, somente ao alcance da nobreza e do clero, até então.

Escritos de todas as espécies, para todos os gostos literários, emergiam em escala jamais vista: informativos, educativos, doutrinadores – idéias que influenciariam  grandes contingentes humanos, formando e modificando crenças e opiniões, num audacioso estímulo ao juízo, ao raciocínio, ao uso da lógica e ao emprego da razão.

A Revista “The Spectator” de Joseph Addison, na Inglaterra, vendia 30 mil exemplares, publicando artigos, notícias de todos os tipos, pensamentos filosóficos, avanços científicos, etc., no firme propósito de levar a informação e estimular a leitura em todos os setores da sociedade.

Temas da época, como o poder da razão, o lugar do homem na natureza, eram frequentemente abordados sob as mais diferentes formas literárias. Alexander Pope, em 1753, publica em versos o seu “Ensaio Sobre o Homem”, Rousseau e Voltaire utilizaram-se do romance para divulgar suas idéias. O “Candide”, de Voltaire, ocupou oito grandes edições, apenas na França. “La Nouvelle Heloíse”, de Rousseau, setenta edições em menos de trinta anos.

Uma das mais importantes contribuições da imprensa da época foi a publicação de uma coletânea denominada “Enciclopédia”, idealizada e realizada por Denis Diderot e D’Alambert – um vasto compêndio que enfeixava, em dezessete volumes de texto e onze de figuras ilustrativas, todo o conhecimento humano em seus mais variados aspectos, desde as mais simples práticas artesanais às mais complexas doutrinas teóricas, repassando com inusitada ênfase, todas as novas conquistas no âmbito das ciências, num planejamento de vinte anos para a sua definitiva conclusão.

A enciclopédia continha informações sobre ciências naturais, física, química, anatomia humana, fisiologia, medicina clínica, etc., destacando as últimas descobertas científicas do século.

Na América do Norte, as treze colônias da Inglaterra  se tornariam independentes da metrópole para formar uma república, divulgando uma Declaração de Independência, em cujo texto ressoam os preceitos iluministas, desde a responsabilidade do governo sobre o bem-estar do seu povo à crença de que todos os indivíduos tinham igual direito à vida, ao trabalho, à liberdade e à dignidade e felicidade (1776).

Treze anos depois caiu a monarquia fraca e aristocrática de Luís XVI e Maria Antonieta sob a revolta da burguesia e dos oprimidos da França, ascendendo ao poder os filhos do iluminismo, embebidos do racionalismo sentimental de Voltaire, do idealismo social apaixonado de Rousseau e das amplas perspectivas históricas de Montesquieu.

Muitos anos ainda se passariam para que o mundo, de uma maneira geral, chegasse a usufruir plenamente dos ideais inspirados nos pensamentos iluministas. A escravidão perduraria por mais cem anos no Brasil.

A desigualdade sociocultural, a intolerância política, injustiça social, a concentração da riqueza, o explosivo aumento da pobreza e da miséria total, a opressão dos governos, etc., ainda permanecem como a desafiar o próprio homem e suas ideias teóricas a executar na prática o que planejara e prometera nos arroubos de virtude e filantropia.

No contexto dessas ideias surgiu e floresceu a Maçonaria Especulativa, estruturou-se uma Instituição Humana mas de inspiração divina, destinada a abrigar de forma total, abrangente e perene, todos os ideais de aperfeiçoamento do indivíduo enquanto ser social e sociável, voltado para a compreensão dos deveres para com a sua comunidade, a família, a Pátria, a humanidade e para consigo mesmo.

Desde o final do século XV, as Lojas Maçônicas da Europa recebiam em seus quadros, novos irmãos de outras profissões.

Acredita-se que as pressões periódicas da Igreja e dos governantes dos Estados sobre as confrarias dos operativos tenham sido as causas principais da aceitação dos não pedreiros. Por outro lado, a participação de pessoas influentes tanto do clero quanto da nobreza e da classe média em ascensão propiciou maior segurança à Ordem.

O título de obreiro da Arte Real era ao mesmo tempo honroso e garantia segurança e proteção malgrado a perseguição que, de tempos em tempos, Igreja e Estados desencadeavam sobre os pedreiros-livres de qualquer origem.

No início do século XVIII estruturam-se as Lojas Maçônicas praticamente sem maçons operativos, predominando os nobres, os artesãos, os literatos, os filósofos, os artistas e toda uma burguesia da classe média em expansão, sob a bandeira da Nova Ordem; questionar os dogmas, inquirir a verdade, usufruir da liberdade de pensar e de agir segundo seus próprios ideais, suas convicções, seus códigos de justiça, sua doutrina moral.

Sob a égide do Esquadro e do Compasso, comungando os ideais do Iluminismo nascente, abrigaram as Oficinas Maçônicas que se espalharam por toda a Europa, depois as Américas, pensadores, escritores, artistas, profissionais liberais de todas as espécies, propalando abertamente suas ideias, seus pensamentos, fazendo a apologia da razão, buscando a verdade, igualando-se em direitos e deveres, com tolerância, amizade, companheirismo, tratando-se e interagindo como irmãos para a construção do Templo inefável da fraternidade universal, despidos dos preconceitos de raça, cor, credo religioso, idioma, nacionalidade, status social ou qualquer outro empecilho à unidade do ser humano.

Sempre proclamando a virtude e combatendo o vício, os maçons aceitos nas Lojas que proliferaram no século da Razão imbuíram-se de tal forma dos preceitos fundamentais da Ordem, que ela mesma, a Instituição Maçônica dita agora, especulativa, passou a ser doutrinária daquelas idéias novas e revolucionárias do pensamento lógico e racional, abrigando em seu seio a quase totalidade dos filósofos e adeptos do Iluminismo, cujas palavras encontraram – e encontram até hoje – o eco vibrante de sonoridade e apoio nas colunas dos Templos que frequentaram.

A Maçonaria Operativa, em seu sentido ético, moral e religioso, obviamente penetrou fundo o espírito dos “aceitos”, dos não-pedreiros, igualmente sensíveis aos preceitos de fraternidade e virtude da Instituição.

Todavia, também a Ordem Maçônica, doravante, estaria impregnada dos ideais de liberdade, dos direitos humanos, do propósito de justiça, da busca do conhecimento, da verdade e do incessante progresso espiritual e material do ser humano – mercê de uma atuação social dinâmica, multiprofissional, intelectualizada e operacionalizada no mundo profano pelos homens livres e de bons costumes. Infelizmente, as dissenções de caráter político-partidário-ideológico viriam a causar sérios danos às agremiações maçônicas especulativas.

Algumas Lojas e até mesmo Potências se transformariam em super-partidos, muitas vezes de esquerda ou direita extremadas, manifestando, declaradamente, repúdio ideológico aos governos constituídos ou sentimentos anti-clericais exacerbados.

Uma excessiva manipulação da liberdade de expressão, tanto dentro dos Templos, como fora deles, “em nome da Ordem, em nome da Maçonaria” – que em verdade, muitas vezes não se está representando – tem trazido imensos prejuízos à tradicional discrição, sobriedade e respeito à ordem social e às autoridades constituídas, que Ela, a Maçonaria, enquanto Instituição Respeitável e Ordeira deve preservar, em honra daqueles Irmãos que passaram ao Oriente Eterno e que tanto a dignificaram.

Ao tempo da Revolução Francesa, a Maçonaria tinha em seu seio personagens famosos como Rousseau, Condorcet, Mirabeau, Talleyrand, Brissot e Lafayette. Voltaire fora iniciado aos 80 anos de idade e havia falecido aos 84, um ano antes daquele fato histórico. Por razões políticas muitos maçons foram decapitados. A Ordem perdia inúmeros adeptos no próprio século das luzes, no esplendor de seu idealismo social.

Porém, tenha sido por espantosa coincidência ou por sua destinação histórica, o chamado Tempo da Razão, o movimento intelectual, artístico, científico que espargiu inefáveis luzes sobre os antecedentes séculos de obscurantismo e subserviência do espírito humano – o denominado Iluminismo – com absoluta certeza, trouxe àquela Maçonaria já deserta de seus primevos – os pedreiros artífices das colossais construções medievais e magníficas catedrais – uma nova perspectiva de eternidade, de perenidade.

Meus Irmãos:

Somos parte integrante desta Maçonaria atual e simples passageiros ocasionais de uma Instituição de inspiração seguramente divina, porque permanente, eterna e voltada exclusivamente para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento do ser humano enquanto ser social e inteligente.

Alguns irmãos se queixam da inoperância política da Ordem, nos nossos dias, comparando-a com os feitos heroicos do passado, ufanando-se dos episódios e fatos políticos e sociais importante em historicidade a que ela sempre esteve ligada.

No entretanto, devemos nos lembrar que somos nós, os maçons que fazemos os fatos, que vivemos os acontecimentos e que realizamos a obra social, não a Maçonaria. Esta é uma instituição universal de caráter doutrinário, que ensina:

“Sê cordato, bom, fraterno, tolerante, judicioso, sensato, correto, amável, estudioso, justo e piedoso, Se alguma vez te tornares poderoso de alguma maneira, usa o teu poder em benefício do teu semelhante. Aperfeiçoa teu caráter e tuas virtudes e terás cumprido tua missão neste mundo, ajustando mais uma pedra polida à construção do Templo da Fraternidade Universal e glorificando o Grande Arquiteto do Universo”.

Rubens Marques dos Santos

Bibliografia:

– História em Revista

– Enciclopédia Barsa

– A História da Maçonaria (Marcelo Linhres)

– A Maçonaria Moderna (José Castellani)

 

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