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Papa Francisco questionou o desprezo da sociedade pelos mais pobres

PAPA FRANCISO

“Em nosso país, um lema (`civilização e barbárie´) serviu para dividir, aniquilar e alcançar o auge da segregação, no final dos Anos 80, e justificar os ataques à maioria dos povos originários, porque se tratava, segundo seus defensores, de uma disputa entre a `barbárie´ que vinha do outro lado, e a `civilização´”. Com essa introdução, o Papa Francisco abriu a sessão de trabalho da cúpula que reúne 283 participantes do mundo sob o lema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e uma ecologia integral”.

“Assim funciona o desprezo pelo povo e, vou contar uma experiência da minha terra, onde a dicotomia entre “civilização e barbárie” serviu para aniquilar povos, e ainda está vigente no imaginário de alguns, com outras palavras igualmente ofensivas”, denunciou o pontífice.

“Depois, se fala de civilização de segundo grau, aquelas que vêm da barbárie; e hoje são as `bolívias´ (bolivianos), os `paraguas´ (paraguaios), os `cabecinhas negras´ (negros ou indígenas), sempre que se afastam da realidade de um povo que a qualifica e colocando distâncias.

Essa é a experiência do meu país, na que se fomenta o desprezo”, afirmou o bispo de Roma aos seus convidados, incluindo o presidente da Conferência Episcopal Argentina, Monsenhor Oscar Ojea, e o ex-secretário das Nações Unidas, Ban Ki Moon.

Nesse contexto, ele lamentou as críticas que ouviu sobre o vestuário de um dos povos indígenas que participaram da reunião.

“Fiquei muito triste ao ouvir um comentário ofensivo contra o senhor piedoso que carregava as oferendas com penas na cabeça. Qual é a diferença em usar penas ou os adereços que usamos os sacerdotes em nossas cerimônias?”, questionou Francisco

“Não viemos aqui para inventar programas de desenvolvimento social ou de defesa das culturas, museus ou ações pastorais com o mesmo estilo não contemplativo com o qual se realizam as ações de outros grupos”, disse o pontífice em sua intervenção, e completou: “nós falamos sobre aldeias amazônicas com o cuidado de respeitar sua história, suas culturas, seu estilo de vida, no sentido etimológico da palavra e não no sentido social, que às vezes utilizamos de forma exagerada e equivocada”, acrescentou Bergoglio em discurso.

Tradução de Victor Farinelli

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