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Perdão pode salvar vidas, diz estudo

Imagem de divulgação

A falta de perdão pode prejudicar a saúde cardiovascular. Esta é a conclusão do trabalho de mestrado da psicanalista Suzana Avezum, que estudou 130 pessoas, entre dezembro de 2016 e dezembro de 2018. A pesquisa será apresentada no 40º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), a ser realizado de 20 a 22 de junho, no Expo Transamérica. “O relacionamento entre o perdão e o coração é bastante amplo e não existem dados na literatura que apresentem alguns resultados que o meu estudo mostrou”, explica a especialista.

De acordo com a análise, o grupo que sofreu Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) apresentou maior tendência a não perdoar as mágoas sofridas durante a vida. O trabalho também avaliou a espiritualidade e religiosidade dos participantes: na pesquisa, o grupo com IAM tem maior religiosidade organizacional e menor espiritualidade. “Talvez, nesse caso, uma religiosidade mais rígida traga maior dificuldade e menor disposição para conceder o perdão. A espiritualidade, por sua vez, aparece associada à maior disposição para perdoar”, conta Avezum.

Religiosidade organizacional significa grande participação na igreja ou em templo religiosos, quando o indivíduo acredita, segue e pratica este conceito. Já a espiritualidade tem conceito mais amplo: a forma com que a pessoa busca e expressa o sentido e o propósito da vida e o modo com que elas experimentam sua conectividade com o presente, com a natureza, consigo mesmo, com o próximo e com o que é sagrado.

“Em meu consultório, quando pudemos trabalhar a mágoa e, consequentemente, a pessoa pode perdoar, o sentimento de alívio é sensivelmente observado. Desta forma, vários sintomas são resolvidos. A hipótese é que as pessoas utilizam frases como ‘dói no coração’ e o inconsciente vai tratar de forma literal essa descrição. Possivelmente, isso pode provocar alterações no coração físico”.

Este estudo mostra, segundo a especialista, a importância da prevenção. “Imagine que se desenvolvam instrumentos nacionais que possam avaliar o perfil do brasileiro, com suas particularidades e características religiosa e espiritual específicas, para desenvolver programas de treinamento para o perdão. Possivelmente, programas de intervenção na população poderiam trazer redução na incidência do IAM e as consequências negativas dessa doença em toda a sociedade”, afirma a especialista. “É importante ressaltar que ainda não existe uma evidência científica comprovada, mas os resultados são promissores”. O IAM é a segunda maior causa de morbimortalidade no Brasil, segundo dados do DataSUS.

Embora ainda exista resistência a temas como esse no meio científico, continua Avezum, há tendência à aceitação, uma vez que pesquisas sérias e com rigidez científica necessária já estejam sendo desenvolvidas. “E os resultados se mostram bastante promissores. Estou otimista quanto a isso”, completa a psicanalista.

Explicação científica

Suzana Avezum diz que as mágoas e ressentimentos são geradoras de estresse, que consequentemente provocam respostas fisiológicas de defesa, com adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina). “A ruminação da mágoa e a revivescência do evento mantêm o estresse e o corpo fica exposto a essas respostas fisiológicas, o que pode produzir patologias. Quando se trabalha o perdão, há o relaxamento das defesas do organismo, cura da mágoa e do corpo”.

A diretora executiva do departamento de Psicologia da Socesp, Jennifer de França Oliveira Nogueira, complementa: “Este trabalho é bem robusto. Os resultados corroboram as relações emocionais no processo de adoecer, principalmente na área da cardiologia. Sempre se falou isso na prática clínica, mas não tínhamos comprovações. A ansiedade, a depressão, os problemas não solucionados, o estresse: isso tudo afeta a saúde cardiovascular. Há também a dificuldade em se perdoar, porque isso pode desenvolver fatores de risco, como o tabagismo, a obesidade, falta de cuidado com a saúde. São questões comportamentais e emocionais que se relacionam”.

Destaques dessa edição do Congresso da Socesp

Nesta edição do congresso, a grande novidade é a Arena Inovação e Tecnologia, que apresentará cerca de 15 startups da área de saúde com soluções em Digital Health, incluindo aparelhos, aplicativos e novidades em imagem. O evento conta com mais de 160 atividades para o público médico, 100 atrações para profissionais de outras áreas da saúde e oito palestrantes internacionais para debater e trocar experiências sobre formas de reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares.

São esperados mais de sete mil profissionais da saúde de todo o Brasil, salienta Dra. Lilia Nigro Maia, presidente do evento, revelando: “A programação científica foi preparada por equipe multidisciplinar, formada por profissionais referenciais em sua área de atuação”.

Para o cardiologista José Francisco Kerr Saraiva, presidente da Socesp, o propósito do encontro anual é contemplar especialistas veteranos e jovens profissionais, dando luz às evidências científicas que podem melhorar a prática clínica. “A discussão das novas tecnologias é essencial para demonstrar novos modelos que facilitem o exercício da cardiologia e reduzam a mortalidade por doenças cardiovasculares em todo o mundo”, afirma.

Além da Arena Inovação e Tecnologia, haverá sessões como hands on, medicina de consultório, palestras em 21 arenas e atividades voltadas aos acadêmicos. Debates e colóquios também contemplam uma programação especial, incluindo grandes plenárias e palestrantes internacionais. No último dia do evento, haverá palestras de diferentes temas, com um resumo do que foi tratado durante todo o congresso.

De acordo com a Dra. Maria Cristina Izar, diretora científica do 40º Congresso da Socesp, “as atividades convidam para uma imersão em assuntos que contribuem para a melhora da qualidade assistencial, com apresentação de estudos que causam impacto à nossa prática, além de trabalhos originais que engrandecem a cardiologia de nosso país”.

Para o Dr. José Francisco Kerr Saraiva, o congresso é muito importante também na formação de pesquisadores e jovens cientistas. “São oferecidos amplos espaços, com o propósito de mostrar as tendências naquilo que existe de melhor na produção científica nacional”, afirma.

Jornal do Brasil

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