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Não são cegos, mas não querem ver

O economista Nouriel Roubini, numa entrevista à revista alemã Spiegel – que a Carta Maior traduziu – resumiu em quatro pontos as razões pelas quais a crise detonada no mundo pela epidemia de coronavírus será muito pior do que os mercados estão projetando, embora hoje, afinal, tenha saído uma visão menos “fada da confiança” da OCDE, prevendo crescimento contado à metade no mundo.

Roubini, que antecipou a crise do subprime de 2008, diz que o surto não é chinês, mas uma pandemia (e os fatos o estão comprovando), que não será detida em curto prazo, que os governos tem um arsenal muito limitado de políticas de estímulo e que os efeitos serão fortes e persistentes:

Todo mundo acredita que será uma recessão em forma de V, mas as pessoas não sabem do que estão falando.

Eles preferem acreditar em milagres. É simples: se a economia chinesa encolher 2% no primeiro trimestre, seria necessário um crescimento de 8% nos três últimos trimestres para atingir a taxa de crescimento anual de 6% que todos esperavam antes do vírus eclodir.

Se o crescimento for de apenas 6% a partir do segundo trimestre, que é um cenário mais realista, veremos a economia chinesa crescendo apenas de 2,5 a 4% durante o ano inteiro.

Essa taxa significaria essencialmente uma recessão para a China e um choque para o mundo.

Aqui, ao que parece – e por enquanto – a turma prefere vender ilusões, como a pataquada que virou o Boletim Focus do Banco Central.

O nosso principal parceiro comercial, a China, e o segundo maior, a União Europeia, estão enfiados numa grave desaceleração econômica – e mesmo recessão, para alguns países chave, como a Alemanha – e eles cortam apenas poucos centésimos de uma previsão de crescimento que não se realizará.

A realidade, porém, não se impressiona com manipulações – o que mais há, em mercados fracos como o nosso – e a turma do capital internacional não só foge dos (ex)emergentes como nós, mas também de países que, como aqui, não têm definições econômicas claras e estão entregues à balbúrdia governamental.

Fernando Brito

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