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Geração da biomassa representou 1/3 do consumo residencial no Brasil em 2013

O relatório síntese do Balanço Energético Nacional do ano de 2013, recentemente divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mostrou que a fonte biomassa – que inclui bagaço/palha da cana, lenha, lixívia e outras biomassas – atingiu uma geração total de 39.679 GWh, um valor 14% superior ao ano anterior e equivalente a 1/3 do consumo anual residencial no Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2013. Essa produção de bioeletricidade no Brasil, segundo a EPE, foi superior à geração de energia elétrica somada das fontes carvão, nuclear e eólica durante todo o ano de 2013.

 

Do total produzido pela fonte biomassa, dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica mostram que 17.1748 GWh foram destinados para o sistema interligado nacional (43% do total) e, a diferença, 22.531 GWh (57%) para o autoconsumo das unidades industriais associadas às termelétricas a biomassa. Vale notar que, enquanto a produção total de bioeletricidade cresceu 14% em relação a 2012, a oferta de energia para o sistema elétrico interligado (excluindo o autoconsumo) cresceu 32%, em um ano considerado crítico para a segurança do suprimento energético do país.

 

A bioeletricidade ofertada para o SIN, especificamente em agosto do ano passado, bateu recorde histórico, atingindo 2,3 mil GWh naquele mês. Esse índice representou 10% da carga de energia do submercado elétrico Sudeste/Centro-Oeste, num momento em que a energia armazenada em seus reservatórios apresentou o pior valor para aquele mês desde o ano de 2001. O submercado Sudeste/Centro-Oeste é o principal submercado do país, respondendo por mais de 60% do consumo brasileiro.

 

Contudo, causa preocupação o futuro da biomassa na matriz elétrica brasileira, mesmo com esse desempenho estratégico e com um potencial estimado pela EPE, somente para a biomassa da cana, em algo como 22 GW médios até 2022, quase cinco vezes a garantia física da usina Belo Monte, ou duas usinas de Itaipu. A preocupação reside na dificuldade de negociação de novos projetos nos leilões regulados promovidos pelo Governo Federal, considerados ainda a principal porta de entrada da bioeletricidade no setor elétrico nacional.

 

A inexistência de uma política setorial clara, estruturante e capaz de estimular o investimento na bioeletricidade tem comprometido o desempenho dessa fonte nos leilões regulados. No último leilão A-3, realizado em 6 de junho, com o baixo preço-teto e a concorrência direta com eólicas em condições diferentes de competitividade, sem reconhecer os reais benefícios de cada fonte para o sistema interligado, a biomassa acabou vendendo nenhum projeto, mesma situação ocorrida no leilão A-3 em 2012.

 

A única esperança e chance do ano de 2014 será o governo reconhecer um preço-teto adequado para a biomassa no leilão A-5, que acontecerá em setembro próximo, já que a geração por meio do bagaço de cana está proibida de participar do leilão de reserva que acontecerá em outubro.

 

Responsável por mais de 80% da capacidade instalada pela biomassa, a fonte bagaço/palha de cana materializa as preocupações com o futuro dessa fonte na matriz elétrica brasileira, potencializadas com a indefinição também do papel esperado para o etanol na matriz de energia. Segundo o Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis, em meados de 2013, cerca das 250 indústrias de Sertãozinho-SP, “o Vale do Silício da indústria sucroenergética”, apresentavam ociosidade chegando a 60%.

 

A comercialização nos certames regulados é condição essencial para a viabilidade da maioria dos projetos de bioeletricidade e nenhuma cadeia produtiva intensiva em bens de capital consegue sobreviver com uma política de stop and go, como a que está vivenciando a bioeletricidade. Isto é a pior sinalização para uma cadeia produtiva. É necessário estabelecer condições para que a bioeletricidade seja tratada como prioridade no planejamento elétrico brasileiro e o investimento seja estimulado novamente de forma consolidada e contínua.

Fonte: Canal Energia/ Foto: web.

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