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“Copa de Elite” faz paródia de sucessos do cinema brasileiro.

Em algum lugar do Rio de Janeiro, um policial muito parecido com o Capitão Nascimento é atingido por um líquido não identificado. Fora de quadro, uma voz grita: “É mijo.”

 

Esta cena se repete cinco vezes no filme “Copa de Elite” – seis, se contada a vez em que a urina é trocada por champanhe. Dirigido por Vitor Brandt, o longa estreia nesta quinta-feira (18) fazendo paródia de produções nacionais como “Tropa de Elite”, “2 Filhos de Francisco”, “Chico Xavier” e “Bruna Surfistinha”, entre outros.

 

Eis mais alguns exemplos da elegância do roteiro e do alto nível dos diálogos: em uma cena, o capitão é atingido não por urina, mas pelas fezes de um bebê (“vai dar merda”, anunciara ele pouco antes); em outra, por um enorme órgão sexual apelidado de “caralho voador”; aparecem também um “vibrador atômico”, uma tatuagem de pênis, uma cena de luta com anões e a menção a um personagem que “não pode vir porque está cagando”.

 

“Copa de Elite” importa a fórmula hollywoodiana do filme de paródia, na linha de “Todo Mundo em Pânico” e “Não É Mais Um Besteirol Americano”, embora elenco e realizadores prefiram citar como referência longas antigos e melhores, como “Corra que a Polícia Vem Aí” e “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!”.

 

O roteiro, que surpreendentemente levou entre três e quatro anos para ficar pronto, pega carona na expectativa pela Copa do Mundo e deixa de lado qualquer menção aos protestos ou a questões políticas, salvo uma breve imitação da presidente Dilma Rousseff.

 

Ator do Porta dos Fundos, Marcos Veras interpreta o comandante do Bop (assim mesmo, sem o “e”) Jorge Capitão.

 

Às vésperas da Copa do Mundo, ele salva o maior craque da Argentina (adivinha quem) de um sequestro, se torna o principal inimigo público do Brasil (“argentino cuzão” é o termo exato) e é expulso da polícia.

 

Jorge então decide fazer sua própria operação para frustrar um plano de assassinar o papa Francisco, que estará no Brasil para a final da Copa. Sua inesperada parceira é a ex-prostituta e atual dona de sex shop Bruna Alpinistinha (Júlia Rabello, mulher de Veras e sua parceira no Porta dos Fundos).

 

Disposto a atrair o público jovem, “Copa de Elite” ainda escala o ex-CQC Rafinha Bastos como um ator arrogante, a cantora Anitta para o papel de uma repórter (o hit “Show das Poderosas” está na trilha sonora) e subcelebridades como Thammy Miranda e Alexandre Frota, ela vestida de presidiária macho, ele usando bobes para cabelo e seios falsos, numa imitação do protagonista de “Minha Mãe é Uma Peça”.

 

Bruno de Luca e o Grupo Molejo fazem participações especiais interpretando a si mesmos e abraçando os rótulos de ator chato e música ruim. O ato de espírito esportivo foi muito elogiado pela equipe do filme, que disse ter pegado leve nas piadas porque o limite entre paródia e ofensa é tênue em um País que nem sempre sabe rir de si mesmo.

 

Disso resulta o que talvez seja o problema mais grave de “Copa de Elite”, afora a vulgaridade e o mau gosto: a sátira não vai além da referência, da mera reutilização de personagens e cenas de filmes amplamente conhecidos pelo público.

 

Uma série de observações mordazes poderiam ser feitas sobre o cinema brasileiro em geral e as comédias em particular, mas “Copa de Elite” não se dedica a nenhuma: não comenta a repetição de fórmulas, o menor alcance dos demais gêneros, a reprodução do humor e da estética televisiva na telona e nem a hegemonia da Globo Filmes, que sai ilesa mesmo em uma produção apoiada pela rede Bandeirantes.

 

 

“Copa de Elite” resulta em um filme infinitamente pior do que todos a que faz referência, cujo único consolo seria entrar pra o seleto grupo de produções que conseguem tirar graça das próprias falhas – o famoso “tão ruim que é bom”. Nem isso deu.

Fonte: IG/ Foto:

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