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Como candidata a presidente, Marina Silva corre o risco de virar apenas uma errata de si mesma

Primeiro foi a “correção” movida por pressões religiosas. Depois, uma equipe onde fulguram expoentes conservadores. Nos bastidores, um movimento ostensivo em direção à banca internacional e aos chamados socialites. Afinal, de que Marina Silva está se falando?

 

Com direito a choro e declarações piedosas–“ofereço a outra face”–, a candidata do PSB culpa opositores de baixar o nível. Todos estamos cansados de saber que campanhas nunca foram cursos de boas maneiras.

 

Mas os fatos, na essência, desautorizam os queixumes da candidata e de seus neodefensores.

 

Marina foi cria do PT, ministra do governo Lula e sempre esteve associada às políticas do partido. Agora renega tudo, acusando a agremiação de ser um covil de corruptos e de indicar assaltantes de estatais.

 

Embora ela tenha se desligado da legenda, seu marido, Fábio Vaz, permaneceu como homem forte do governo petista do Acre até a undécima hora. Só largou o osso pouco antes de a “providência divina” entrar em cena.

 

Mesmo assim, Vaz diz votar no PT para o governo estadual, partido que Marina considera uma escola de ladrões.

 

Nas questões programáticas, em qual Marina acreditar? Além das erratas iniciais, ela condenava transgênicos; agora não é bem assim.

 

Foi a favor da revisão da Lei de Anistia, mas isso virou coisa do passado. Dizia defender os direitos dos trabalhadores; hoje o partido que representa apoia a terceirização, eufemismo responsável pela dilapidação de conquistas dos assalariados. E por aí vai.

 

A escolha de colaboradores tornou-se assunto incandescente. O déjà vu é a marca registrada da equipe. Economistas como André “Haras” Resende, que fez fortuna no mercado financeiro durante o mandarinato tucano, foi chamado a abandonar seus puros-sangues para ajudar a candidata.

 

Beto Albuquerque, o vice da chapa, é sabidamente ponte com agronegócio e setores antes satanizados pela outrora ambientalista.

 

Ocioso falar da banqueira, sua porta-voz, financiadora direta e herdeira do grupo Itaú. Detalhe: o que mais interessa em Neca Setúbal, desculpem a intimidade, não é o fato de viver de dividendos da usura descarada do sistema financeiro.

 

São suas propostas, baseadas na receita que mergulhou o mundo na mais grave crise desde 1929. Para quem não sabe, as 20 maiores economias do planeta colecionam hoje mais de 100 milhões de desempregados!

 

Os números, impressionantes e nunca contestados, são da Organização Internacional do Trabalho.

 

A resistência da candidata em revelar suas fontes de renda incomoda. Não vale comparar com o dinheiro recebido por FHC e Lula em palestras…após seus mandatos.

 

Ao que se sabe, ambos atualmente estão fora de cargos públicos. Com Marina é diferente: ela é candidata. Candidatíssima. Não cabe ao eleitor se informar sobre o sustento de quem postula a direção do país? Alegar “confidencialidade”, neste caso, é no mínimo desconfortável.

 

A grande questão de Marina Silva é definir quem ela é. A conduta atual conflita com sua biografia pregressa, pelo menos na parte conhecida pelo público. Isso não é culpa de adversários e opositores nem de temperatura de campanha eleitoral.

 

Cabe a ela decidir se mantém alguma coerência ou se, como candidata, será reduzida a uma errata de si mesma.     

Fonte: RICARDO MELO

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