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Derrotas do governo na Câmara são provocadas pelo PSD e PSB e o núcleo fiel a Dilma fica 60% menor

Foram 11 derrotas do governo em 37 votações na Câmara dos Deputados no segundo semestre de 2013.

Nunca a presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu tanto em tão pouco tempo. Ela sofrera só 3 derrotas ao longo de todo ano de 2011, 5 em 2012 e outras 5 no primeiro semestre do ano passado.
O surto de derrotas sucedeu os protestos de rua que derrubaram a popularidade presidencial.

Alex Silva/Estadão

Presidente só pode contar mesmo com o voto de 1 em cada 4 deputados
A tendência de perda de apoio vem de longe, porém.

O núcleo duro governista – aqueles que votam com Dilma em pelo menos 90% das vezes – caiu de 306 deputados em 2011 para 134 em 2012 e fechou 2013 com 123 parlamentares (uma redução de 59,8%). Ou seja, a presidente só pode contar mesmo com o voto de 1 em cada 4 deputados.

Como o governo tem maioria teórica no Congresso, as derrotas só podem ser impingidas por seus aliados.

Nessas 11 derrotas, os partidos da base de apoio a Dilma que mais traíram a presidente foram PSD e PSB, este último já em fase de afastamento do Planalto por causa do projeto presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Mas não foram só eles.

Ao racharem, os peemedebistas também atrapalharam bastante. Além disso, o PMDB detém a presidência da Câmara e determina o que e quando será votado.

Os aliados “ma non troppo” morderam com precisão de vampiro, só em votações-chave, e assopraram nas demais, apoiando o governo maciçamente nas outras matérias.

Como resultado, a taxa de apoio ao governo aumentou no segundo semestre, apesar das derrotas. A média de apoio na Câmara foi de 81% dos votos entre julho e dezembro, contra 72% no semestre anterior.

Tome-se o caso do PSD. O partido de Gilberto Kassab foi o primeiro a anunciar publicamente apoio à reeleição de Dilma. Mas, na Câmara, o PSD agiu como se fosse de oposição.

O líder do partido recomendou que sua bancada votasse contra o governo em 8 das 11 derrotas de Dilma no segundo semestre. Só para comparar, o PSDB fez isso em 9 das 11 votações.

A liderança do PSD foi na contramão do governo, por exemplo, na apreciação das propostas de extinção da multa sobre o FGTS a ser paga pelos empregadores em caso de demissão, na criação do programa Mais Médicos e no apoio da proibição de o BNDES conceder empréstimos subsidiados em fusões ou aquisições de empresas.

Também bateu de frente nas votações da dívida dos municípios e dos royalties do petróleo.
O PSB fez o discurso oposto – anunciou sua saída do governo, por causa da candidatura presidencial de seu chefe, Eduardo Campos, e cumpriu a promessa.

De uma taxa de governismo de 94% em 2011, o PSB caiu para 88% em 2012 e para 77% em 2013.

Foi o único grande partido que teve taxa de governismo menor no segundo semestre (74%) do que no primeiro (79%). E já anunciou que vai radicalizar a tendência em 2014.

A situação no Senado é similar, apesar de mais confortável. O número de derrotas pulou de três no primeiro semestre de 2013 para dez no segundo – e todos os partidos governistas votaram contra o governo em algum momento. O núcleo duro, porém, continua o mesmo de 2011, com 25 senadores.

Para o professor da FGV-SP Cláudio Couto, o “desgaste” na relação de Dilma com os aliados explica parte das derrotas sofridas pelo Planalto. “Quando fica claro que a conduta ruim do governo não vai se alterar, as pessoas votam contra.”

As derrotas mostram que é notório que temos um governo que não sabe negociar e que envolve pouco o Legislativo nas decisões.    

Fonte: José Roberto de Toledo, Isadora Peron e Rodrigo Burgarelli/Redação

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