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A ‘escola com partido’ de bolsonaro. Bem-vindos à monarquia

Olavo e Bolsonaro

Bernardo de Mello Franco em o Globo, mostra que a doutrinação nas escolas está em marcha batida. Conta que Olavo de Carvalho foi elevado a estrela na série que a TV Escola do MEC está exibindo, desde ontem, como paradigma de nossa formação histórica.

Realizada por uma produtora bolsonarista, a Brasil Paralelo, a narrativa é completamente focada na fé religiosa como motor da História que desembocaria na criação de colônias européias.

Esta, aliás, parece ser a identidade pretendida para o país: a de colônia, projeção ultramarina da civilização judaico-cristã, em lugar do cadinho de povos que sempre nos orgulhamos de ser, desde que a visão histórica do Brasil passou a aceitar a nossa formação multiétnica e multicultural como original.

Assisti a parte do primeiro capítulo, bem produzido, chato e absolutamente monárquico, louvando os cavaleiros cristãos que nos salvaram do destino de sermos muçulmanos, por força das Cruzadas.

A nobreza, já dizia Victor Hugo, conquista-se pela espada e perde-se pelo trabalho.

Nem um pio ou concessão ao papel opressor do feudalismo, tudo era obra de fé invencível. Inclusive os Cavaleiros Templarios, milícia surgida para livrar os cristãos de “bandidos” árabes em suas peregrinações, que foi dos votos de pobreza iniciais modificando-se, sob bulas papais emitidas em sob os sintomáticos nomes de Milites Templi e Militia Dei, transformando-se num lucrativo negócio de acumulação de riquezas.

Lei a o texto de Mello Franco e veja que há mais planos de transformação do MEC em aparelho doutrinador. Não sei se está em gestação alguma aula terraplanista de Geografia.

É a escola com partido: de direita e monárquico.

Olavismo para crianças

Olavo de Carvalho, quem diria, foi parar no horário nobre. O guru do bolsonarismo é a estrela da série “Brasil: A Última Cruzada”, que começou a ser exibida ontem pela TV Escola. Trata-se de uma emissora pública, mantida pelo Ministério da Educação e dirigida à formação de professores e alunos.

A série apresenta uma visão peculiar da História. Em tom épico, exalta a “coragem” dos colonizadores portugueses e o “amor pelo Brasil” de dom Pedro I. O objetivo, segundo o produtor Filipe Valerim, é “combater ideologias perversas” e “despertar a consciência e o patriotismo” dos telespectadores.

Além de Olavo, o programa dá voz a figuras como Luiz Philippe Orleans e Bragança, deputado do PSL, e Rafael Nogueira, novo presidente da Biblioteca Nacional. Depois de defenderem a ditadura militar, os bolsonaristas agora querem reabilitar a monarquia.

“Isso é negacionismo puro”, diz o historiador Thiago Krause, da UniRio. “A série ouve gente desqualificada e defende teses que não são aceitas por ninguém na academia. Estão usando uma emissora pública para fazer propaganda e fortalecer a visão ideológica do grupo do presidente”, critica.

Não é uma iniciativa isolada. Na semana que vem, a TV Escola começará a exibir a série “Meia Volta, Vou Ler”. A promessa é mostrar “a qualidade das escolas cívico-militares”.

Coincidentemente, a maior vitrine da política educacional de Bolsonaro.

A guinada da emissora é conduzida pelo diretor Francisco Câmpera. Ele assumiu o cargo depois de assinar artigos elogiosos ao presidente. Procurado pela coluna, disse que não poderia dar entrevista.

A invasão dos olavistas é vista com perplexidade por funcionários que trabalharam na TV Escola sob diferentes governos.

“Estão desmontando tudo o que não vem deste pseudofilósofo”, diz a ex-diretora Regina de Assis. Ela foi demitida em setembro, depois de reclamar do aparelhamento da emissora.

“O que está acontecendo é um retrocesso grave, combinado com o mau uso de recursos do MEC. Isso deveria ser analisado pelo Ministério Público ”, afirma.

Bernardo Mello Franco, em O Globo

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