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BAP elogia Abel e aponta poder do “Conselhinho” em futebol do Flamengo: “Tem minhas digitais em tudo”

BAP representou o Flamengo em eventos da Conmebol em 2019 — Foto: Thiago Lima

Luiz Eduardo Baptista é uma das figuras centrais do Flamengo na gestão Rodolfo Landim. E seus poderes vão muito além da pasta que dirige.

Polêmico mesmo com raras aparições públicas, esteve diretamente relacionado a passagem de Abel Braga pelo Ninho do Urubu e admite ter papel determinante nos rumos do futebol. Fruto da interferência do chamado “Conselhinho do futebol”, do que qual é peça influente em quinteto determinado após alianças políticas na última eleição presidencial. Nada que afete o futuro do departamento é definido sem a participação de BAP.

Em longa entrevista ao canal “Paparazzo Rubro-Negro”, no YouTube, o dirigente confessou ter influência direta na chegada e saída de jogadores, elogiou o trabalho de Abel e deixou a cargo dos profissionais do departamento de futebol apenas decisões que se referem ao cotidiano do Ninho do Urubu. Em determinado momento, resumiu até onde vai seu poder e esquivou-se daquela que era sua principal pauta na polêmica passagem pela gestão Bandeira de Mello: a elitização com o aumento do preço dos ingressos.

– Se você quiser que eu opine em cada centavo que gastamos com jogador, contrato, multa… Tem as minhas digitais em tudo neste processo. Sobre precificação do Maracanã, eu juro pelos meus filhos que não toquei nisso.

BAP foi incisivo ao esmiuçar os muitos temas marcados por suas digitais em seis meses e meio da gestão Rodolfo Landim. Se a queda de braço política com Marcos Braz é algo tratado com cuidado para que seja estancado nos bastidores, o vice de relações externas deixou claro o tamanho da influência do “Conselhinho” em decisões como a contratação de Abel, atuação no mercado e até mesmo escalação ou não de time misto em polêmica que serviu de estopim para o pedido de demissão do antecessor de Jorge Jesus.

O futuro de Cuéllar e a longa espera por Filipe Luís também foram abordados em bate-papo com tópicos transcritos abaixo:

Conselho do futebol

– O conselho do futebol do Flamengo tem cinco pessoas, entre elas o VP de futebol. O Marcos Braz representa o conselho no dia a dia do clube. O conselho decide tudo que é estrutural e de planejamento. Se o Flamengo for comprar um terreno ao lado do Ninho, é com o conselho. O Flamengo vai comprar um jogador, que é um ativo do clube, passa pelo centro de inteligência, que responde ao conselho. O conselho consensa se é um bom jogador ou não.

Quem vai escalar? Não tem nada a ver com o conselho. Tudo que é ligado ao dia a dia operacional, é com o departamento de futebol. Tudo que for estrutural, é com o conselho. Vamos emprestar o Ronaldo? É com o conselho. Vamos vender o Matheus Sávio? É com o conselho. Ah, vamos punir o jogador que devia chegar segunda e chegou na quinta. Não é com o conselho, é com o departamento.

Relação conselho x departamento de futebol

– O Marcos Braz é parte do conselho do futebol e representa o conselho na gestão do dia a dia. Dever satisfação, eles devem sobre estrutura do CT, contratação de jogador, dispensa, a estrutura do departamento… Quando eles acham que precisa ter uma pessoa para dar assistência aos estrangeiros. Aprovamos essa posição. Agora, se vai poupar o Cuellar, um jogador que está com dores não vai viajar… No dia a dia, não tem interferência nenhuma do conselho.

Marcos Braz teve papel determinante na chegada de Jorge Jesus ao Flamengo — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo
Marcos Braz teve papel determinante na chegada de Jorge Jesus ao Flamengo — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Houve um jogo do Carioca que o Abel decidiu colocar o Uribe no lugar do Gabigol. Houve interferência zero nisso. Agora, uma decisão que o conselho teve: vários clubes deram dez dias de férias aos jogadores e nós decidimos dar quatro ou cinco na parada para Copa América. Mas fomos consultados neste aspecto por não ser algo no dia a dia. A ingerência no dia a dia é nenhuma.

Escolha por Abel no início do ano

– Assim como quando contratamos jogadores, definimos uma série de valências. Para treinador, fizemos a mesma coisa: não podia ser uma cara inexperiente, tinha que ser um cara vencedor, cascudo para aguentar porrada, pressão, com uma presença de personalidade importante junto aos jogadores e uma capacidade de gerenciar gente. É um processo dinâmico.

Abel Braga foi elogiado por BAP — Foto: Renato Pizzutto/BP Filmes
Abel Braga foi elogiado por BAP — Foto: Renato Pizzutto/BP Filmes

Na ocasião, discutimos três nomes: Renato, Abel e Rogério Ceni. Ao Ceni, que faz um grande trabalho no Fortaleza, mas faltava quilometragem. Concentramos no Renato e no Abel, que foram abençoados pelo conselho e pelo Landim, que tem o voto de ouro para dizer sim ou não. O Renato tomou uma decisão pessoal de seguir no Grêmio.

Escolhemos Abel porque achamos que era o melhor para o Flamengo. E os dois nomes foram unanimes no conselho.

Avaliação de Abel

– O Abel deu uma contribuição importante. Preto no branco, ele entregou o que se esperava dele no primeiro semestre. Foi campeão carioca com relativa facilidade, classificou na Libertadores e deixou bem encaminhado na Copa do Brasil. Ele fez um escolha dele quando resolveu sair e cada um seguiu sua vida.

É difícil falar sobre o futuro que não aconteceu. O resultado do trabalho reputo como muito bom. Na minha opinião, os desafios fora de campo foram até maiores.

Interferência na escalação de titulares ou reservas

– O Abel em determinado momento do ano demonstrou para imprensa que gostaria de ter uma sinalização da diretoria sobre escalar time principal ou poupar. Então, vamos lá: o que achamos conceitualmente? Não existe essa história de poupar jogador. O que existe é o atleta estar em uma situação delicada ou não. Entendemos que não faz sentido botar um time reserva. E isso foi dito para o Abel.

Depois, houve um jogo que ele ganhou e disse: “Estamos pensando e vamos ter que poupar”. Como ele tinha dito que queria uma luz, nós, do conselho de futebol, nos reunimos e discutimos com o Marcos (Braz) que entendemos que não tinha que poupar ninguém. Até porque, teria uma semana para descansar.

Cuéllar

– É um assunto típico do dia a dia. O que eu sei é que a ausência do Cuéllar naqueles dias (pós-Copa América) não foi discutida como relevante. Então, se ele teve a liberação ou se falou com o Marcos Braz, não é assunto que compete ao conselho. Agora, sendo vice-presidente, acho que se fosse um ato de indisciplina saberíamos.

Cuéllar em ação contra o Goiás — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Cuéllar em ação contra o Goiás — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

O Cuéllar é um atleta exemplar, um ótimo profissional, um jogador que a torcida ama de paixão, e temos um elenco super qualificado. Não tem nada contra o Cuéllar, essa história de que estamos chateados. Como este caso, temos outros no dia a dia. O Flamengo vai jogar 40, 41 jogos no segundo semestre. Temos que ter elenco, tem espaço para todo mundo.

Nunca chegou uma proposta concreta ao Flamengo para vender o Cuéllar, ele tem contrato até 2022. O contrato dele é maior que o do Landim. Tem um contrato, é profissional, assinou o que está estabelecido no contrato e tem que cumprir.

Filipe Luís

– Acho que não faz (sentido esperar). Mas temos um conselho que entende que ele ainda é uma opção. Se ele vai voltar para Madrid, resolver se quer casar ou comprar uma bicicleta. Ele tem que resolver o que quer da vida. Tem uma proposta concreta do Flamengo. Se nos der uma resposta até 29 de julho, é bom porque ainda conseguimos inscrevê-lo. É isso. Se eu, BAP, acho que esperamos tempo demais? Eu, BAP, acho que sim.

BAP diz que não esperaria tanto tempo por Filipe Luís — Foto: Pedro Martins / MoWA Press
BAP diz que não esperaria tanto tempo por Filipe Luís — Foto: Pedro Martins / MoWA Press

Mercado

– Estamos procurando como procuramos sempre. Quem quer ganhar tudo como estamos propondo, tem que ter dois times do mesmo nível, dois em cada posição. Tem que equilibrar bem o elenco, não basta ter só um bom por posição. Temos um elenco muito mais qualificado, mas ainda temos desafios. A fila vai andar, algum jogador pode ser comercializado, contrato acabando, propostas… O processo de qualificação é contínuo.

Para essa janela, o que temos até agora deve ser o que vai acontecer. O futebol é dinâmico. Mas a bola que tem quicando é o Filipe Luís, que já está tudo negociado e depende dele.

Preço de ingressos

– Temos uma vice-presidência de marketing que faz um trabalho fantástico. Levamos mais gente do que qualquer clube no Brasil, temos média de 50 mil torcedores, e acho que o preço está justo. Se tem tanta demanda, entendo que está bem precificado.

Globo esporte

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