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Jornalistas da VEJA que investigam morte de Adriano da Nóbrega são presos

Capa da Revista Veja

Uma equipe de reportagem da revista Veja que estava no interior da Bahia foi presa nesta sexta-feira (14). Os jornalistas tentavam localizar uma testemunha-chave para esclarecer a morte do miliciano Adriano da Nóbrega.

A revista publicou ontem uma matéria especial com as fotos da perícia do corpo de Adriano. As imagens, segundo dois médicos legistas ouvidos pela Veja, deixam em dúvida a versão da polícia de que teria havido troca de tiros.

Segundo publicou a revista em seu site, o repórter Hugo Marques e o repórter fotográfico Cristiano Mariz estavam tentando localizar o fazendeiro Leandro Abreu Guimarães, que é o fazendeiro que abrigou Adriano e foi uma das últimas pessoas a vê-lo com vida.

Enquanto procuravam a testemunha, duas viaturas da Polícia Militar da Bahia cercaram o veículo em que estavam e, com armas em punho, os policiais deram ordem para que eles descessem do carro.

Mesmo após se identificarem e exibirem os crachás de imprensa, os jornalistas foram obrigados a saírem do carro e foram revistados.

Um dos policiais perguntou diversas vezes aos jornalistas como eles tinham descoberto o endereço da testemunha. Os policiais apreenderam o gravador que continha áudios de diversas entrevistas sobre a operação que matou Adriano.

Mesmo após fazer a revista e identificar os profissionais de imprensa, eles foram detidos e levados até a delegacia. Chegando lá, os repórteres voltaram a ser questionados sobre o motivo de estarem na cidade.

O gravador foi devolvido e os jornalistas foram obrigados a ficarem mais 20 minutos dentro da delegacia, até que foram liberados. Ainda segundo a matéria da revista Veja, a polícia argumentou que os jornalistas foram levados até a delegacia por estarem “parados em frente à residência de uma testemunha desse caso aí”.

“Inadmissível, arbitrária e abusiva a detenção de jornalistas da revista Veja pela Polícia Militar da Bahia”, disse o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. “Deve receber repúdio de todos que defendem a liberdade de imprensa e de expressão”, acrescentou.

O PSOL publicou um post, questionando os motivos que levaram à detenção: “É preciso respostas urgentes: o que levou a Polícia da Bahia a deter dois jornalistas da VEJA que investigavam as circunstâncias do assassinato do miliciano Adriano da Nóbrega?

O livre exercício do jornalismo é um dos pilares da democracia. A quem interessa esconder os fatos?”

A deputada Erika Kakay (PT-DF) foi na mesma linha: “Jornalistas da VEJA que investigam as circunstâncias da morte de Adriano da Nóbrega são detidos na Bahia. O que já cheirava queima de arquivo, agora, se configura em inaceitável ataque à liberdade de imprensa”.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) considerou a ação como uma “gravíssima violação da liberdade de imprensa”. “Mesmo identificados como jornalistas, os repórteres Hugo Marques e Cristiano Mariz foram detidos pela PM baiana”.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) também comentou sobre o caso. “Abordagem policial que leva repórteres para a delegacia e inicia com apreensão de gravador, não dá. Jornalistas buscam informações. Devem agir com responsabilidade de não interferirem em investigações, mas em geral vão contestar o poder público e seu trabalho precisa ser assegurado”, escreveu ela.

Já a deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP) escreveu: “O Brasil está se tornando um lugar cada vez mais perigoso para o livre exercício do jornalismo. Grave sintoma da nossa anormalidade democrática. O que levou a PM da Bahia a levar presos os repórteres da VEJA que investigavam a morte de Adriano da Nóbrega?”

A revista VEJA publicou uma nota sobre o ocorrido.

A direção da revista lamenta a postura autoritária da Polícia Militar da Bahia, que deteve na manhã desta sexta, 14, o repórter Hugo Marques e o repórter fotográfico Cristiano Mariz. Os dois profissionais de VEJA estavam apurando informações relacionadas ao caso da morte do ex-capitão Adriano da Nóbrega quando foram detidos por dois agentes e levados na sequência ao distrito policial de Pojuca, de onde acabaram sendo liberados após vinte minutos. A direção da Editora Abril estuda as medidas cabíveis contra essa atitude de tentar constranger e limitar o trabalho da livre imprensa. A direção da redação de VEJA, por sua vez, como sempre fez ao longo de seus mais de cinquenta anos de história, não vai se intimidar com ameaças e medidas arbitrárias – e seguirá firme no seu compromisso de busca da verdade, doa a quem doer.

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