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Rui Costa mostra qual é a política dos aliados do centrão dentro do PT

Governador Rui Costa Foto: Varela Notícias

As recentes declarações do governador da Bahia, Rui Costa (PT), revelaram qual é a política da ala direita dentro do PT. Com a crise política do regime golpista e o aumento da polarização, a política de determinados grupos políticos estão sendo esclarecidas.

Rui Costa, na tarde de segunda-feira (20), declarou ser favorável à cobrança de mensalidades nas universidades. Segundo ele, apenas as famílias “mais abastecidas” deveriam pagar pelas mensalidades.

Ele declarou: “Uma família que pagou educação privada a vida inteira não tem condições de contribuir com a universidade? Qual o problema disso?”

O problema disso, respondendo à pergunta do governador, é justamente que esse tipo de medida é um instrumento forte para a direita começar a cobrar mensalidades nas universidades. É evidente que uma medida com esta, extremamente impopular, teria de fazer uso destes artifícios para levar adiante um plano generalizado contra a população.

Primeiro de tudo, é importante ressaltar que a educação é um direito social. Todo mundo deveria ter o direito de estudar, de forma gratuita. A posição de Rui Costa se coloca contra este conceito sobre a educação.

Ao contrário do que acham os oportunistas da esquerda, para um direito ser defendido como algo intocável, é preciso que ele seja defendido para toda a população. Na prática, a política defendida por Rui Costa defende que toda a população pague pelas universidades.

Trata-se de uma profunda demagogia para atacar todo o povo. Se Rui Costa fosse favorável à que as universidades fossem pagas pelos ricos, não defenderia a instauração de mensalidades, mas exigiria a taxação das grandes riquezas e dos artigos de luxo; exigiria o não pagamento da dívida pública, que é uma forma de parasitismo dos banqueiros sobre o Estado brasileiro e assim por diante – afetaria os capitalistas e não a população.

Mas não… o líder da ala direita do PT defendeu a instauração de mensalidades em universidades públicas, gerando revolta inclusive dentro do próprio partido.

Em nota oficial, a Juventude do PT (JPT) divulgou no Facebook uma nota de repúdio às declarações de Rui Costa.

Com o título, “RUI COSTA, NÓS DEFENDEMOS UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA E PARA TODOS!”, a JPT declarou que o governador do maior estado do nordeste “ignora as posições históricas do seu partido”, e que: “defender o pagamento de mensalidade na Universidade Pública, para quem quer que seja, é abrir as portas para a supressão do direito básico à educação que deveria ter todo o brasileiro e brasileira”.

Afirmaram que Rui Costa, com essa política, compara-se com Paulo Guedes e Weintraub, ministros de Bolsonaro, e que o governador precisa “escolher o seu lado”.

Além disso, tendências políticas dentro do PT se colocaram contra Rui Costa. Valter Pomar, respondeu à declaração de Rui Costa, que afirmou que a cobrança de mensalidades não deveria ser tabu, da seguinte maneira:

“E, como diria o Rui, não vejo “tabu” em perder um governador, se este for o preço a pagar para impedir a desmoralização e a destruição do Partido”.

Também, diversas denúncias dentro da base petista na Bahia está denunciando a política de ataques do governador do estado contra os funcionários públicos das universidades. Rui Costa fez declarações contra a greve das universidades estaduais, inclusive chamando-a de “partidarizada”, isto é, com um argumento de cunho bolsonarista.

A Associação de Docentes da Universidade Estadual da Bahia (Aduneb) declaram que a posição do governo serviu de “combustível em fogueira que já era forte”, e aprovaram em Assembleia a continuação das paralisações. A política direitista do governador está gerando revolta em sua base eleitoral, os militantes de esquerda e os sindicatos.

Defesa do regime Bolsonarista

O governador da Bahia, que já havia se pronunciado em defesa das políticas reacionárias do ministro de Bolsonaro, Sérgio Moro, defendendo o pacote anti-crimes que libera os policiais para assassinar a população pobre; defendeu os policiais que realizaram a chacina na Cabula; e articulou uma campanha contra a candidatura de Lula nas eleições de 2018; agora, decidiu defender o governo Bolsonaro, contra a vontade de todo o povo brasileiro.

Em entrevista, sobre um provável impeachment de Bolsonaro o governador Rui Costa declarou: “Eu não quero opinar sobre isso. Ele foi um presidente eleito. É preciso que as coisas comecem a funcionar no nosso país. Não vou ser eu a puxar a fila do fazer o que fizeram com a presidente Dilma (que sofreu impeachment em 2016). Não acredito nisto. Agora, o Brasil precisa ter um rumo”.

Ou seja, declarou-se contrário à derrubada do governo fraudulento. Não se trata de que ele é contra o impeachment porque seria uma saída institucional para manter o regime golpista funcionando. Pois, caso contrário, ele teria defendido o Fora Bolsonaro e a realização de novas eleições.

Costa se colocou contra a saída do governo, porque “ele foi um presidente eleito”. Quer dizer, Rui Costa ignora totalmente a fraude eleitoral. O fato de que Bolsonaro foi colocado no poder por conta de manobras fraudulentas, que impediram Lula (candidato de seu próprio partido) de participar das eleições, anularam o direito de votar de mais de 3 milhões de pessoas, e reprimiram brutalmente os militantes de esquerda, censurando faixas, propagandas políticas ou agredindo-o nas ruas.

Para Rui Costa nada isso aconteceu, e Bolsonaro não pode ser derrubado pelo povo pois “ele foi um presidente eleito”. Um absurdo… Ao contrário do que diz o governador baiano, Bolsonaro é produto de uma fraude. E por mais que tivesse sido eleito de maneira tradicional, a vontade popular é superior aos resultados artificiais das eleições burguesas. Bolsonaro supostamente teria sido escolhido pelo povo para governar o país; se o povo não quer mais, ele deve sair.

A afirmação de Rui Costa revela também que o governador quer que “as coisas comecem a funcionar no nosso país”, ou seja, ao invés de combater Bolsonaro, é melhor deixá-lo trabalhar atacando a população ou até se aliar com ele em determinadas propostas, como no caso do pacote anti-crime.

Sem falar no fato de que, assim como Boulos, Costa afirma que a derrubada de Bolsonaro pelo povo seria equivalente ao golpe de Estado realizado contra o governo do PT. Um argumento fajuto, pois Dilma foi deposta com base em uma ofensiva do imperialismo com a extrema-direita; já Bolsonaro seria resultado de uma intensa mobilização dos trabalhadores e de suas organizações. Para Rui Costa, os coxinhas fascistas e os trabalhadores são equivalentes.

Ala direita do PT procura um equilíbrio para o regime golpista em crise

As declarações do governador da Bahia, junto às reuniões de Mercadante, Haddad e Suplicy com políticos da direita golpista, demonstra que existe todo um setor da esquerda pequeno-burguesa que se opõe à luta contra o golpe.

Pelo contrário, o repúdio à derrubada do governo Bolsonaro, a busca de alternativas institucionais com a burguesia e as alianças em determinados projetos da extrema-direita mostra que estão procurando sustentar o regime vigente.

Esses oportunistas da esquerda são profissionais em tentar resgatar as formas e figuras dos regimes políticos falidos. Uma tentativa quase impossível, diante da deterioração política que ocorre no Brasil.

A verdade é que o direcionamento que a esquerda pequeno-burguesa coloca apenas facilitará a vitória dos fascistas contra a população. Sem a derrota do regime golpista, a burguesia terá a possibilidade de estabilizar o regime, com Bolsonaro ou sem ele, e instaurar de vez uma verdadeira ditadura fascista no país.

A política de conciliação com o Bolsonarismo apenas favorece para que isso se concretize.

Diário Causa Operária

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