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Estamos em uma era apologética à estupidez

A estupidez política

A exaltação da idiotice é uma estratégia de dominação das massas nesse que eles consideram o novo Brasil.

Ser cretino, e ter espírito de porco agora é moda, estatus.

Ou você assume esse modo “chiquel” de ser ou você está fora.

Ser petista, por exemplo, é “atraso”: argumenta demais, questiona demais, pensa demais, tem valores demais – e isso não está na moda!

Esse tipo de fenômeno, na verdade, não é novo.

A felicidade-dumb já vem de longe, numa classe média consumista que adora mostrar o que têm, mais do que mostrar o que sabe.

Lembro-me de quando Jô Soares apresentava um novo número humorístico em seu “Planeta dos Homens”, com a frase “o macaco tá certo!”

Não se tratava, em absoluto, de um problema de gente inculta, de poucos meios para estudar. Não.

Essa idiotice vinha da classe média endinheirada e se espalhava por escolas particulares.

Virava moda.

Era a fina flor que, em plena ditadura militar, se distraía com esse humorzinho televisivo bobo, enquanto nada se falava de torturas e mortes nos porões do Dops e do Doi-Codi.

Afinal, a vida com os Alfa-Romeo Ti4, com a casa de praia e com caríssimas viagens para o exterior era tão bela… “eu te amo meu Brasil, eu te amo… meu coração é verde, amarelo e azul…”.

De lá para cá, a alienação dessa gente só piorou e se disseminou entre os pretendentes a classe emergente.

A rede mundial de computadores aprimorou a homogeneização da mentalidade de espírito de porco.

As redes sociais, com sua dinâmica de narcisismo virtual, provocam reações impulsivas de muitos que ali “postam”, sem qualquer preocupação dialógica.

Buscam apenas resposta rápida para suas imbecilidades impensadas.

Quanto mais expedita a reação na rede, maior o deleite ególatra.

O sonho desse tipo de cretino é provocar a onda perfeita de uma tempestade de mensagens politicamente incorretas que causam comoção virtual têm elevado potencial de encapelar os debates.

As barbaridades vão se banalizando e acabam por ingressar na cultura política do mundo real.

Existe visível efeito “spill-over” da agressividade das redes sociais no discurso do cotidiano.

Parece que muitos não se dão mais conta do tamanho dos absurdos que disseminam mundo afora.

Criou-se verdadeira contracultura da imbecilidade em massa.

Há quem compete na propensão de escandalizar com assertivas sem pé nem cabeça.

Ser racional, nesse contexto, é ser chato, é estragar a brincadeira.

Se tudo não passasse de brincadeira de mau gosto, seria um problema menor.

Corrigia-se com uns puxões de orelha próprios para meninos travessos.

Mas o caráter epidêmico da idiotice em rede passou a contaminar o discurso oficial, paralisando o diálogo político.

Assiste-se a um general de pantufas, agora vice-presidente eleito, a elogiar o fim do trabalho de médicos cubanos no Brasil, pois seu chefe, o capitão de pantufas eleito presidente, vai entrar na história por os ter livrado do trabalho forçado, como a Princesa Isabel, que aboliu a escravidão no Brasil!

No legislativo, vê-se uma deputada com semblante irado – claramente fora de si – propor projeto de lei a proibir educação sexual nas escolas, como se fosse, ela, a secretária de ensino fundamental do Ministério da Educação.

Não interessa. O debate precisa de rapidez para conduzir o assunto a um debate entre especialistas pedagógicos só toma tempo; melhor uma iniciativa impensada que faça marola e irrite os “liberais”.

Não há diálogo. Há invectiva, há ofensa e ataque.

Do mesmo modo o falastrão, o prospectivo chanceler indicado pelo presidente eleito que quer fuzilar “toda a petralhada do Acre”:

a mudança climática é um mito criado pelo “marxismo cultural” e a Europa é um espaço culturalmente vazio… A esquerda não quer que crianças nasçam – e coisas do gênero.

Há pouco tempo atrás, um funcionário público que adotasse esse tipo de discurso na função que exercesse seria candidato certo à aposentadoria compulsória por demência.

Mas hoje, na era dos caras desligados da realidade, um sujeito desses tem excelentes perspectivas na carreira diplomática!

Enquanto isso, os verdadeiros problemas do país são postos de lado, como mi-mi-mi de “comunistas” que perderam a vez.

Vale é surfar nas ondas da tempestade, a movimentarem a sociedade sem rumo, como num frenesi de ódio e ranger de dentes, em marcha na direção do abismo. Políticas públicas?

Para quê?

Isso é torrar dinheiro para sustentar vagabundo que não quer se virar sozinho!

O negócio é acabar com a “corrupção” da esquerda, com a liberdade de ensino e pesquisa, com os direitos humanos, com a igualdade de gêneros, mesmo que morram uns milhares de inocentes… afinal, não se faz omelete sem quebrar ovos!

O besteirol se tornou a arma mais mortal contra a razão e contra a democracia inclusiva.

E ele tem método, pois deslegitima de modo brutal o discurso sobre direitos.

É hora de reagir se quisermos minimamente conservar o humanismo construído no mundo do pós-guerra e seu senso comum de solidariedade, tolerância e responsabilidade coletiva.

Do contrário, iremos em transe, feito lunáticos, para nossa destruição – e achando bom!

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