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Macron tenta mobilizar recursos para frear o aquecimento global em uma cúpula em Paris

O presidente Emmanuel Macron em um ato público às vésperas da cúpula do clima em Paris LUDOVIC MARIN (AFP)

Mais dinheiro, mais esforços, e menos complacência. O presidente francês, Emmanuel Macron, quer galvanizar a humanidade na luta contra as mudanças climáticas, ameaçada pelo boicote da Administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos acordos internacionais e pela lentidão na resposta dos demais países.

Macron pediu nesta terça-feira, em uma cúpula nos arredores de Paris, a mobilização do mundo financeiro e empresarial para frear o aquecimento global. “Estamos perdendo a batalha”, constatou Macron para uma plateia de meia centena de chefes de Estado e de Governo e de dezenas de dirigentes políticos, filantrópicos e empresariais.

Nesta cúpula, que se realiza nos arredores da capital da França, o presidente francês tenta mobilizar dinheiro público e privado para a luta. A presença de meia centena de representantes de Governos e de dezenas de líderes empresariais deve servir para um duplo objetivo.

Primeiro, encontrar os recursos necessários para acelerar a mudança das energias poluidoras para as limpas e proteger os mais vulneráveis dos efeitos nocivos do aquecimento global. E, segundo, enviar uma mensagem simbólica ao mundo: apesar da retirada dos Estados Unidos do acordo do clima, o restante do mundo manterá seus esforços.

A data da cúpula coincide com o segundo aniversário da COP21, a reunião internacional que há dois anos concluiu o acordo de Paris e delineou a agenda para os próximos anos quanto às mudanças climáticas. Macron foi o primeiro líder estrangeiro a reagir ao anúncio de Trump, em junho, de que o Governo dos EUA abandonava o acordo de Paris. E criou então o slogan make the planet great again (faça o planeta grande de novo), um jogo de palavras irônico com o slogan eleitoral de Trump, make America great again (faça a América grande de novo).

Não se trata de alcançar novos acordos sobre redução de gases poluentes nem de negociar os objetivos para deter o aumento das temperaturas, mas de exibir a força da comunidade internacional ante a ameaça representada pelas mudanças climáticas e apresentar projetos concretos. Doze, segundo anunciaram, nas vésperas da cúpula, fontes do Palácio do Eliseu que pediram anonimato. Na segunda-feira, em um ato no novo campus de empresas tecnológicas em Paris, a Station F, Macron anunciou as 18 bolsas de estudo para cientistas estrangeiros – deles, 13 cientistas que trabalham nos EUA – se dedicarem à pesquisa das mudanças climáticas na França. A oferta dessas bolsas foi uma das respostas mais midiáticas de Macron à retirada dos EUA do acordo de Paris, efetuada por Trump, e à proposta de Washington de cortar orçamentos públicos dedicados à ciência, com a ideia de que as mudanças climáticas carecem de base científica, de que é um “boato inventado pelos chineses”, como disse em uma ocasião.

“Eu lhes agradeço por estarem aqui, pela resposta ao chamado e a sua decisão de vir a Paris”, disse Macron em inglês. “Nosso objetivo é dar impulso à sua pesquisa, às suas iniciativas, e garantimos que aqui vocês terão um lugar para chegar a resultados com maior rapidez, e fazer mais”.

Em Paris, quase 200 países se comprometeram há dois anos a evitar que as temperaturas subam mais de 1,5 grau centígrado em relação aos níveis pré-industriais. “Hoje, se continuarmos com a tendência, estamos em 3,5”, disse Macron. O acordo contempla a mobilização de 100 bilhões de dólares (330 bilhões de reais) anuais a partir de 2020 para ajudar os países com menos recursos a se protegerem e se adaptarem às mudanças climáticas. A retirada de Trump, embora não se efetue plenamente até 2019, também implica a perda de financiamento procedente da primeira economia mundial. O restante do mundo evitou até o momento o efeito contágio: os EUA são o único país que ficaram fora do acordo climático, o que não significa que não seja um ator decisivo.

O governo dos EUA estará representado na One Planet Summit — assim a batizaram os franceses, em inglês: a cúpula de um planeta – pelo encarregado de negócios da embaixada em Paris, mas as citadas fontes do Eliseu insistiram em que os EUA são muito mais que Trump. Na cúpula estarão presentes desde o governador da Califórnia, Jerry Brown, e o do Colorado, John Hickenlooper, até figuras sensatas do mundo empresarial e filantrópico, como o fundador da Microsoft Bill Gates e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg. Entre os chefes de Estado e de Governo, comparecerão o mexicano Enrique Peña Nieto, o espanhol Mariano Rajoy e a britânica Theresa May. Outros países estão representados por ministros. A ONU e o Banco Mundial organizam a cúpula em conjunto com a França. A reunião se realiza na ilha do Sena onde se localizava a histórica fábrica da Renault, no sudoeste da capital.

MARC BASSETS

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