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Organização misteriosa que mobiliza os protestos na Catalunha

Manifestantes bloquearam com carrinhos a entrada do terminal do aeroporto de El Prat, na região metropolitana de Barcelona, nos protestos contra as prisões de dissidentes da Catalunha — Foto: Bernat Armangue/AP Photo

O Tsunami Democrático, um movimento cujo nome associa duas palavras aparentemente contraditórias, inundou rapidamente o aeroporto de Barcelona, com milhares de manifestantes que protestavam contra as condenações de nove líderes separatistas catalães. Sem líderes ou porta-vozes, as convocações são feitas por um aplicativo de celular no qual o usuário precisa ser convidado e recebe um código QR.

O modus operandi dos catalães parece ter se inspirado nos protestos que ocorreram em outro aeroporto, o de Hong Kong: mais de cem voos foram cancelados em Barcelona, houve confrontos, feridos e presos.

Essa plataforma digital, que tem como símbolo um emoji representando uma onda do mar, atua como novo ator no movimento independentista da Catalunha e aposta na desobediência civil nas ruas. Desnorteia as autoridades espanholas basicamente pelo fator surpresa.

As instruções são anunciadas no aplicativo Telegram e replicadas em velocidade galopante. Foi assim, munidos de cartões de embarques falsos, que manifestantes adentraram o Aeroporto El Prat, em Barcelona. A maioria também portava cartazes azuis com a frase “Todos ao aeroporto”, escrita em catalão.

Os protestos prosseguiram com barricadas, bloqueando ruas e estradas de Barcelona e das cidades vizinhas da Catalunha. Uma greve geral na Catalunha está programada para sexta-feira. E a organização promete um novo ato no dia 26, durante o clássico entre Barcelona e Real Madrid no estádio Camp Nou.

Na esteira dessas manifestações está o julgamento de 12 líderes, acusados de terem realizado em 2017 um referendo de autodeterminação que deflagrou na fracassada declaração de independência da Catalunha. O Tribunal Supremo sentenciou nesta segunda-feira nove dos 12 líderes com penas entre 9 e 13 anos de prisão.

Estava preparado, então, o terreno para o Tsunami Democrático atuar na prática. O movimento se lançou no início de setembro com uma carta de apresentação: “Não somos uma organização nova, somos uma campanha constante, contínua e inesgotável. Uma nova onda começa e você é o protagonista. Você é o tsunami.”

Entre os milhares de simpatizantes que aderiram à convocação, a cara mais conhecida do Tsunami Democrático é a de Pep Guardiola, técnico do Manchester City, que gravou um vídeo defendendo a independência da região mais rica da Espanha.

Com duras palavras, o ex-atleta do Barcelona condenou o veredito do Tribunal Supremo como “um ataque direto aos direitos humanos, inaceitável na Europa do século XXI” e acusou o governo espanhol de optar pela repressão.

A sentença do Tribunal Supremo e a onda de protestos atropelaram a campanha eleitoral, a quarta em quatro anos na Espanha. Impuseram um desafio inesperado ao presidente socialista do governo espanhol, Pedro Sánchez, a menos de um mês do novo pleito.

O chefe do governo demonstrou firmeza na intenção de respeitar a decisão da corte e reuniu-se com os principais partidos para condenar os distúrbios. Sánchez está diante de seu maior obstáculo e precisará de muita habilidade para desviar-se dessa avalanche.

Sandra Cohen

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