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PMDB recusou acordo com PT por comando da Câmara

Em sua primeira entrevista exclusiva, o novo ministro da Defesa, Jaques Wagner, antecipou ao Jornal das Dez o tom da reunião ministerial da próxima semana: o de que é preciso que todos os integrantes do primeiro escalão colaborem com o esforço do governo para reduzir gastos. Ele também rebateu críticas do PT ao aumento de juros e de tributos.

Integrante do pequeno grupo de conselheiros políticos da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Defesa reagiu às ameaças do PMDB, que tem criticado o movimento do governo na disputa pelo comando da Câmara. E revelou que foi o candidato aliado, Eduardo Cunha, do PMDB, que recusou um acordo com o PT. Ele também negou que haja uma ação para isolar o PMDB.
Leia a íntegra da entrevista.

Blog – A primeira reunião ministerial deve ser pautada pela necessidade de ajuste fiscal. Como isso é recebido pela equipe?

Jaques Wagner – Vai ser recebido com a compreensão de que esse é um momento de fazermos este ajuste. Nós estamos há 12 anos numa política econômica que eu considero absolutamente exitosa, conseguimos ultrapassar duas crises mundiais mantendo o nível de emprego, fazendo inclusão social. Evidentemente que na economia você não anda sempre na mesma velocidade. Há momentos que você acelera, há momentos que você reduz. Eu diria que este é o momento que você tem que tomar medidas de contenção porque o ensinamento básico é a manutenção do equilíbrio macroeconômico. Então a gente vem fazendo muita política contra-cíclica importante. Com ela, repito, tivemos êxito e agora nós temos um aperto que não é um aperto de mudança de rumo. Ao contrário, é um aperto para garantir o nosso rumo.

Se você perguntar: “o ministro gosta?”. Não! O ministro prefere que não tivesse contenção, que não tivesse aperto. Mas todos têm maturidade para entender que o aperto é a garantia. Afinal de contas a nossa viagem é de longo curso, é de 4 anos. E eles sabem que é no começo que você reequilibra tudo para ter 3 anos e meio de tranquilidade. Não houve mudança de rumo, não houve mudança de convicção nossa. É uma questão conjuntural.

Blog – Neste momento, setores importantes do PT têm reagido ao aumento de juros, aumento de impostos, da carga tributária e também mudanças nas garantias trabalhistas. Como o governo recebe essa crítica interna?

Wagner – É aquilo que eu digo, toda vez que você emite uma opinião ou toma uma decisão na área econômica, é como futebol: tem uma porção de técnicos na economia e cada um tem direito a legitimidade de emitir a sua opinião. Eu estou no time, acredito em quem está conduzido o time, que é a presidente Dilma Rousseff. Ela escalou uma equipe que seguramente ela acredita. É claro que a gente preferia que anunciasse mais gastos e redução de juros. As pessoas preferem as notícias de folga orçamentária do que de restrição orçamentária, mas eu posso garantir: estamos dentro do governo discutindo isso, de que não há mudança de rumo. Há um episódio conjuntural de uma necessidade de um ajuste fiscal. Mas eu acho que é legitimo, o sindicalista , o militante do PT – eu sou militante do PT também – ter sua posição. Mas ele olha só a notícia e às vezes nem sempre tem a visão de médio e de longo prazo. Ninguém está tirando garantias dos trabalhadores. Nós estamos querendo fazer ajustes para que quem precisa e merece receba. E quem eventualmente se aproveita de uma determinada condição, que ela seja cortada. Não há perda de direitos aqui.

Blog – O Ministério da Defesa também foi atingido com esse corte orçamentário. Como o senhor recebeu o corte na sua área?

Wagner – Com a mesma compreensão que estou dizendo que os ministros têm e terão na reunião (ministerial) do dia 27 (terça). Estamos dentro de um time. Nós temos uma regra e dentro dessa regra a gente vai cumprir. A palavra final é da presidente. É claro que eu, junto à presidente e à equipe econômica, vou defender aquilo que eu acho justo para o Ministério da Defesa. Vou mostrar a importância da continuidade dos projetos. Mas, eventualmente, pode haver uma demanda de você manter o projeto e diminuir pontualmente essa velocidade. Eu posso diminuir essa velocidade agora, ajustar o equilíbrio macroeconômico… E ali adiante eu retomar a velocidade.

Blog – O PMDB da Câmara tem acusado o governo de interferir na disputa pelo comando da Casa. Afinal, o que aconteceu?

Wagner – Meu partido, por estar na presidência, muitas vezes é acusado de querer tudo, de criar problemas com nosso aliados. Nós temos uma história recente de alternância na presidência da Câmara, que vinha sendo mantida. Acho que é natural: são dois partidos importantes da base que se alternam, exatamente, para evitar qualquer tipo de tensão desnecessária. Essa proposta de alternância foi feita no começo ao candidato do PMDB. A negativa foi dele. Disse que não poderia garantir os próximos dois anos. Ou seja, 2017 e 2018 para o PT. Se eu estou sendo estigmatizado, se eu estou sendo colocado fora do jogo, evidentemente que o PT – por ser a maior bancada de apoio da Dilma, a maior bancada da Câmara dos Deputados, colocou seu nome na disputa. Agora, só para ser justo: essa briga não fomos nós que começamos. Nós colocamos uma possibilidade de acordo, como já foi feito. Na medida da não aceitação, nós temos uma disputa que, por enquanto, está em curso. Não há interferência do governo.

Blog – O PMDB se ressente dessa nova composição política da Esplanada dos Ministérios. A avaliação é de que o governo fortalece alguns partidos pra isolar o PMDB. Isso está acontecendo?

Wagner – Primeiro que ninguém se movimenta pela negativa ou pra estigmatizar, ou segregar, ou isolar ninguém. Qual o objetivo do governo, da presidente da República? Ter uma base de apoio na Câmara e no Senado. Mas nós estamos falando da Câmara, particularmente, que lhe dê a tranquilidade de exercer seu mandato com uma maioria. Nunca será uma tranquilidade absoluta, porque é óbvio que a base, muitas vezes, discute iniciativas do governo, questiona. A oposição tem o seu papel, que eu entendo que sem oposição você não melhora a democracia, então, é claro que o que a gente quer é tranquilidade. O PMDB é um aliado dos mais longos. O vice-presidente da República é do PMDB – o vice-presidente Michel Temer. Agora, os outros partidos também querem crescer, querem se movimentar. Se forem da base aliada, eles recebem o nosso acolhimento como o PMDB também recebe. Eu acho que, nessa hora, melhor do que falar de que outros partidos estão se movimentando, porque o movimento só existe quando existe um incômodo ou alguma inconstância nesse apoio. Se você dá perenidade nesse apoio, eu garanto que essas movimentações não estariam acontecendo. Eu acho que, na política, nunca tem alguém que é o culpado exclusivo de um episódio. Na política, cada um de nós tem uma responsabilidade. O PT tem sua responsabilidade, o PMDB tem sua responsabilidade, o Executivo tem, o Legislativo tem. Agora, não dá pra trazer só para o PT. Outros partidos que querem também ser base de apoio ao governo da presidenta Dilma se movimentam, querem se aglutinar, querem ter um partido onde estejam, eventualmente, mais confortáveis. Mas ninguém se movimentaria para isolar o partido do vice-presidente da República, o segundo maior partido da Câmara. Na verdade, esse é o jogo de tensão normal. Eu continuo dizendo que o melhor caminho é a mesa de negociação. Eu acho que o Parlamento é a casa do contraditório, é a casa dos diferentes, da representação popular e eu também acho que os políticos brasileiros, os parlamentares, nós já temos maturidade suficiente. Este ano nós estamos completando 30 anos. Eu acho que temos que comemorar de democracia sem nenhuma ruptura, desde 85, Deus queira, e nós, temos que trabalhar pra isso, pra que essa democracia se perenize definitivamente. Então, eu acho que tem que ter maturidade todo mundo. Quem é oposição tem o seu papel a cumprir, quem é base de governo tem o seu papel a cumprir. Não quer dizer que não possa pensar. É claro que todo mundo que é base também pensa, mas, uma vez tomada uma decisão, acho que a gente deve caminhar em conjunto.

Blog – Pode haver sequelas? Como é que o senhor está vendo a possibilidade de sequelas na base aliada desse ambiente político? Pode ter uma tempestade perfeita, do ponto de vista político, na base do governo?

Wagner – Olha, eu não creio. Eu sei que o ambiente está tenso. Eu tenho uma característica de ser sempre um conciliador, apesar de que a minha tarefa de ser ministro da Defesa, que todo ministro é um ser político, e é claro que a gente não abre mão de ajudar, de conversar, de tentar criar um ambiente melhor. Mas eu creio que os partidos da base sabem da importância de continuar nessa trajetória que a gente vem fazendo há 12 anos. O Brasil, eu não conheço outro período que tenha vivido estabilidade econômica, inflação controlada, inclusão social e a menor taxa de desemprego da história. Isso é bom pro país, o país é respeitado. Atravessamos, como já disse antes da entrevista, crise que outros países sofreram muito mais e que nós conseguimos passar. Tem um momento de turbulência? Tem. Mas, eu repito, sentando, conversando, eu acho que a gente encontra caminho e eu não acredito que haja fissuras na base.

Blog – A ex-ministra Marta Suplicy saiu atirando, fazendo críticas ao governo. Como o PT, e o governo receberam essas declarações?

Wagner – Ela é uma senadora, ela tem o direito de fazer a crítica, ela é uma integrante política do Partido dos Trabalhadores. Eu acho que algumas críticas feitas foram muito duras, algumas, injustas. É óbvio que tem coisas a ver com o próprio ambiente político de São Paulo. O PT não teve um bom desempenho, perdeu parlamentares, não teve uma votação boa, e isso acaba criando um clima entre os petistas de São Paulo também que as pessoas ficam procurando a explicação para aquilo que aconteceu. Não é meu estilo. Eu prefiro fazer as críticas e debater os temas dentro da casa. É um direito dela, ela é uma senadora, foi prefeita da maior cidade da América Latina, mas eu buscaria outro caminho.

Fonte: Gerson Camarotti

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