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Ariano Suassuna grande nome da literatura brasileira é tema de encontro

O escritor Ariano Suassuna, em foto de 2007 Foto: Leonardo Aversa / Agência O

Dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor brasileiro, Ariano Suassuna morreu em 2014, mas sua obra continua viva, atual e relevante. Em Rio Preto, um grupo de homens e mulheres de diferentes idades, por exemplo, irá mergulhar intensamente no universo do paraibano de nascimento e pernambucano de coração com o objetivo de entender porque ele sempre teve histórias originais na ponta da língua, ideias firmes, sensibilidade e humor genial.

O escritor da cultura brasileira, conhecido por mesclar o erudito e o popular, vai ser o protagonista do segundo encontro do projeto Casa de Criar: Ações Literárias, que será realizado neste sábado, 3, às 10h, no auditório da Biblioteca Municipal. A iniciativa, contemplada no edital do ProAC de estímulo à leitura em bibliotecas, foi criada pela professora Carolina Manzato, sócia e diretora executiva da Casa de Criar, com foco no incentivo à leitura e à literatura. Ao todo, o projeto terá 10 encontros com mediação de diferentes profissionais sobre obras de grandes escritores.

Desta vez, a condução será feita por Carolina. Ela escolheu a obra de Ariano Suassuna por causa da intenção inicial do projeto, que é democratizar à leitura. Segundo ela, o escritor e dramaturgo é carismático, o que facilita o acesso. “Parte da sua obra, que inclui O Casamento Suspeitoso, A Farsa da Boa Preguiça, O Santo e a Porca e O Auto da Compadecida, reúne personagens do imaginário popular, como João Grilo. São personagens que, mesmo com dificuldades e pobreza, pela sagacidade conseguem se dar bem no final.”

Carolina elogia ainda mais os personagens e seu ator. “Eles fazem um retrato da sociedade. As pessoas conseguem se identificar e divertir.” Segundo ela, a ação instiga e fisga os participantes porque o próprio autor tem muitas características positivas, sempre teve um atuante posicionamento político e suas obras consagradas foram para o cinema e televisão. Todo mundo já ouviu falar.” Outro ponto do escritor foram as aulas-espetáculos, em que ele dava uma aula de história da arte a partir do legado cultural brasileiro e defendia a identidade nacional.

Aprendizado

Fã de Ariano Suassuna, o professor Gláucio Camargos é um dos cerca de 50 inscritos no encontro deste sábado. “O escritor e dramaturgo brasileiro representa muito bem o Brasil em seus textos e é muito atual, principalmente pelo momento que o Brasil está passando.” Camargos conta ainda que está ansioso para ler As infâncias de Quaderna, que será lançado em breve. “Uma das suas melhores obras foi o extenso A Pedra do Reino, que me marcou muito na adolescência. Eu sempre quis ler o último capítulo e ele não existia. Esperei cerca de 10 anos e agora será lançado”, afirma.

O acervo inédito deixado por Ariano Suassuna parece inesgotável. Obras raras e novas serão lançadas neste ano. “Há uma em especial, Dom Pantero no Palco dos Pecadores, que já está sendo aclamada”, afirma Carolina Manzato. Outras cinco novas obras do escritor também serão conhecidas este ano.

Quem também vai participar do curso é a educadora Thainá Garcia, que está ansiosa e curiosa para entender um pouco mais sobre Suassuna, que completaria 91 anos em 2018. Ela, que trabalha com a educação de crianças de dois anos, acredita que a leitura tem um poder transformador. Além dela, a mãe Carla também participará do encontro. “Estou em busca de conhecimento e quero conhecer melhor Suassuna, que é um dos nomes mais importantes da história do Brasil, para repassar para meus alunos.”

Projeto

O primeiro encontro do projeto Ações Literárias foi realizado em dezembro do ano passado e o tema abordado foi Os contos de fadas e a formação dos arquétipos humanos universais, com coordenação da professora Ana Catarina Angeloni Hein. Ao todo, 47 pessoas participaram. Já o terceiro encontro está agendado para o dia 10 de março. O professor Leandro Passos vai explorar a literatura de Marina Colasanti. Para participar é preciso fazer inscrição. A ficha pode se acessada no Facebook Casa de Criar.

Por que Ariano Suassuna?

Minha paixão por João Grilo é a mais antiga em toda essa história. Ela começou dentro da sala de cinema, na reprodução do Auto da Compadecida a que fui assistir com toda a família. Eu era adolescente.

Até hoje, ao ouvir a trilha do filme, fico alucinada, repito jargões, imito a flautinha do Chicó.

Adulta e estudiosa, compreendo as coisas em outra profundidade, e sei que João Grilo acessou em mim o Pedro Malasartes das histórias que meu pai contava enquanto jantávamos. Concomitantemente, acessou em mim algo catártico, que vem da possibilidade de que as coisas “tenham jeito” (e essas coisas são as coisas nos seus mais diversos âmbitos: desde às particulares às globais). Sinto encantamento, assim como muitos, ao pensar que o oprimido pode se dar bem às custas do opressor por meio da sua sagacidade e astúcia.

O auto da Compadecida, O casamento suspeitoso, A farsa da boa preguiça e O santo e a porca são obras extremamente divertidas pelos seus quiproquós característicos. Sua obra é extensa e vasta, formada por romance e poesia.

Além disso, sinto imenso prazer sempre que apresento Suassuna e sua história. Gosto muito de falar a respeito de como ele se deu conta de que estava impregnado de pensamentos e atitudes aristocráticas e de como se discerniu a respeito da existência do Brasil oficial (classe dominante) e do Brasil real (camadas populares) e passou a incorporar em suas vivências diárias o combate às mais diversas formas de opressão, em especial as que cometemos em microesferas sociais.

Quando me perguntou por que Suassuna é atual, o que me veio à mente foi essa questão política. Ainda no âmbito político, acho válido destacar os seus esforços e benfeitorias enquanto Secretário de Pernambuco: ele foi responsável pelo Movimento Armorial e seus desdobramentos. Tudo fruto de seus esforços pela valorização de nossa cultura.

Estudando um pouco mais para a fala do dia 03/02, entretanto, me deparei com notícias a respeito de seu legado literário. Suassuna fez mesmo da arte sua missão. Ele é atual também, porque em 2018 terá uma obra publicada, “Dom Pantero”.

Ele desejava ter uma obra que conectasse toda a sua produção, dando-lhe coesão e coerência. Assim, escreveu um livro em que se misturam gêneros, da poesia à crônica, chegando ao hipertexto digital, por meio de um QR Code que leva o leitor a uma aula-espetáculo (projeto que ele levou até os 87 anos), cujo tema é a cultura brasileira.

Tenho vários amigos e amigas que me contaram a respeito da frustração que sentiam por terem acompanhado o romance “A pedra do reino”, que Suassuna havia deixado de lado. Ele interrompeu publicação, mas jamais a escrita da obra. Os herdeiros do escritor estão organizando para publicação “As infâncias de Quaderna”, capítulo do terceiro volume da obra que ele refez até a morte.

Ele é atualíssimo!

Carolina Manzato, professora

Francine Moreno

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