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“História da Menina Perdida”, de Elena Ferrante, chega às livrarias nos próximos dias

Epílogo da cultuada tetralogia napolitana já está em pré-venda pela internet

Com chegada prevista para os próximos dias nas livrarias brasileiras (e já em pré-venda pela internet), História da Menina Perdida é o aguardado capítulo final da chamada tetralogia napolitana – publicada originalmente entre 2011 e 2014 com a assinatura da escritora italiana Elena Ferrante.

Ao longo das 1,7 mil páginas dos quatro volumes é narrada a história de uma amizade cheia de conflitos entre duas mulheres, da infância, nos anos 1950, aos dias de hoje. Por meio da relação de afeto e competição entre Elena (apelidada Lenù) e Rafaella (Lina ou Lila), bem como por um cativante elenco de coadjuvantes crescidos no bairro napolitano de origem das duas amigas, Ferrante constrói um amplo panorama histórico e social da Itália do pós-guerra, sem nunca perder de vista a dimensão íntima fundamental da narrativa: a ambiguidade cheia de arestas entre as personagens principais.

Elena Ferrante é a escritora italiana em atividade com maior reconhecimento internacional hoje. Provavelmente nasceu e cresceu em Nápoles, dada a riqueza de detalhes e cores com que apresenta a cidade em quase todos os seus livros. Embora esta última hipótese pareça improvável para quem leu seus livros, ela pode ser até mesmo um homem. Elena Ferrante é um pseudônimo por trás do qual uma escritora que prefere não revelar sua identidade vem construindo, desde os anos 1990, com seu primeiro romance, O Amor Incômodo, uma das obras mais consistentes da literatura contemporânea.

Antes do reconhecimento internacional, Ferrante consolidou uma carreira de sucesso na Itália. Seus romances O Amor Incômodo e Dias de Abandono (os dois já publicados no Brasil) foram adaptados para o cinema.

Mas o ponto de virada que a tornou best-seller internacional se deu com a publicação, a partir de 2011, dos quatro volumes da tetralogia napolitana, que já venderam, alegadamente, mais de quatro milhões de exemplares – no Brasil, onde A Amiga Genial, primeiro romance da série, foi publicado em 2015, a conta estaria em mais de 100 mil exemplares, razão da corrida das editoras para colocar praticamente toda a obra da autora em circulação no país.

Embora Ferrante escreva com pseudônimo desde o início, a aclamação com que A Amiga Genial e os romances subsequentes foram recebidos atiçou os interessados em desvendar seu mistério. No ano passado, um jornalista italiano, Claudio Gatti, alegou em artigos para o New York Review of Books e para o italiano Il Sole 24 Ori haver descoberto a identidade da autora: a tradutora italiana Anita Raja.

Gatti analisou extratos da Edizione E/O e concluiu que Anita era a beneficiária das grandes somas de direitos autorais dos bem-sucedidos livros. A revelação provocou imediata repulsa pública por parte dos leitores fiéis da autora – que, afinal, tem direito a escrever sob pseudônimo, uma longa tradição literária, aliás. Para os admiradores de Ferrante, vale a declaração com que justificou seu anonimato pela primeira vez aos editores: os livros podem caminhar sozinhos sem a figura de seu autor.

A tetralogia napolitana ainda é apresentada, na superfície, como uma história da amizade entre duas mulheres. E é, mas esse é apenas o ponto de partida. Para embarcar, não é preciso ser mulher, ter ascendência italiana ou acreditar que conhecimento é um passaporte a outras vidas.

Nos quatro volumes, Elena Ferrante traça um dos mais humanos e impiedosos retratos da civilização ocidental contemporânea. O que começa com duas meninas brincando de boneca segue emaranhando os fios da competição e do companheirismo ao longo da vida, com todas suas contradições.

Transborda para o bairro, para a cidade, para o país e para o mundo, percorrendo além do stradone, a busca pelo saber, a economia, a política, a transformação digital, o espanto com a transformação de amigos e amores de infância.

O quarto volume não poderia chegar em momento mais oportuno. O capítulo final de Elena e Lila passa pela Operação Mãos Limpas, inspiradora da Lava-Jato. É difícil detalhar o feroz fecho da saga sem cometer spoilers. A expectativa depois de A Amiga Genial era grande.

A História da Menina Perdida não frustra um grama, ao contrário da balança da charcutaria onde Lila constrói A História do Novo Sobrenome. As cenas finais ecoam todas as escolhas até o volume anterior, A História de Quem Foge e de Quem Fica. Será preciso se preparar para uma revisão dos papéis de Tina e Nu, as bonecas das protagonistas que, como toda criança sabe, representam bem mais do que brinquedos.

Por: Carlos André Moreira

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