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Manoel de Barros: Cinco anos sem o poeta.

Foto: Reprodução

Neste 13 de novembro, há cinco anos, o poeta Manoel de Barros nos deixou, aos 97 anos.

“Poesia é voar fora das asas”. Do seu verso, voou como um passarinho, pra sua eternidade.

Tive o privilégio de conhecê-lo, nos anos 90. Sentamos lado a lado num voo São Paulo/Campo Grande – MS. O poeta voltava do Rio, tinha ido visitar sua filha e assistir ao filme, lançado à época, “O Carteiro e o Poeta”.

Macaque in the trees
O poeta Manoel de Barros (Foto: Divulgação)

Eu trazia nas mãos o seu livro “Gramática Expositiva do Chão”, emprestado da amiga Maria Gessy. Ia com ela dar uma oficina e treinamento sobre criação e produção de TV, na TVE de Campo Grande. Preparava um roteiro, a partir de poemas de Manoel, para esse trabalho.

O destino me juntou ao poeta ainda no percurso, desde a esteira da bagagem de mão no aeroporto, o cafezinho na lanchonete, e a bordo a conversa variada, sobre cinema e filosofia, sobre Neruda e Goethe, sobre fazenda, natureza e Pantanal.

Foi para mim um encontro marcante e inesquecível. Que seguiu em Campo Grande, com o convite a lanchar em sua casa. Depois ele veio (rompendo a fama de arredio) à TVE assistir ao trabalho final dos alunos, vídeos produzidos sobre seus poemas. Em seguida o chopp e um papo animado num barzinho, num lindo entardecer da cidade, de costas pra um rio, no calor de dezembro. Conversa de um poeta divertido, que amava viver, sonhar e derivar pelos caminhos tortos, marginais e acidentados da poesia.

Sua poesia toca direto na alma, seus poemas feitos de terra, mato, água, bichos e imaginação, de um inventor e alquimista, de versos e palavras.

“Tudo que não invento é falso”. “Não gosto de palavra acostumada”.” A poesia é uma voz de fazer nascimentos”. “Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria”.

Seus títulos, carregados de impureza, desacertos, rupturas, desvios. Gramática Expositiva do Chão, Compêndio para Uso de Pássaros, O Guardador das Águas, Memórias Inventadas, Livro sobre Nada, Arranjos para Assobio, Meu Quintal é Maior do que o Mundo, O Livro das Ignorãnças, Arquitetura do Silêncio. Entre outros.

Carlos Drummond declarou, em 1986, que Manoel de Barros era o maior poeta vivo do Brasil.

Carrego comigo:

“Tem mais presença em mim o que me falta”.

“O meu amanhecer vai ser de noite”.

“A palavra amor anda vazia. Falta gente dentro dela”.

Hora de ler Manoel de Barros. Para aquecer o coração.

Jornal do Brasil

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