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Não chame um nazista de nazista: a reação da extrema direita a uma nota de jornal.

Movimento fascista e bandeira inegralista

A extrema direita brasileira adjetiva todo e qualquer cidadão com o qual tenha divergências, reais ou imaginárias, de “comunista”. Eu sou comunista. Você. Sua mãe. Seu cunhado.

Qualquer ser vivente que não concorde, digamos, com uma manifestação coxa é, cuspido e escarrado, um vermelho e deve se mudar para Cuba.

Agora, experimente chamá-los de “nazistas”. Experimente, ainda, dizer que alguns — alguns — desses grupos direitistas usam símbolos nazistas.

A reação a uma nota na coluna do jornalista Ilimar Franco no Globo dá a dimensão das convicções democráticas desses grupelhos.

Ao comentar o desempenho de Jair Bolsonaro numa pesquisa eleitoral da MDA, ele escreveu o seguinte:

O Movimento Brasil Livre, o Revoltados Online e o S.O.S. Forças Armadas, vinculados ao que se define como direita, foram a vanguarda e usaram as redes sociais para chamar o protesto de 15 de março.

Pregam contra o comunismo, pelo combate à corrupção e contra a interferência do Estado na economia.

O Revoltados elegeu Jair Bolsonaro como maior porta-voz de suas ideias. O S.O.S. prega a intervenção militar.

Todas essas organizações vão às ruas atacando as cotas, os nordestinos, os sem-teto e alguns usam símbolos como a suástica nazista.

A corrupção (nos governos do PT) e o descrédito do Congresso e dos partidos (pesquisa MDA) criam a química perfeita para o ressurgimento dessa força.

A histeria coletiva diante de uma observação expressada em mirradas linhas inundou a internet de uma indignação desproporcional, que só pode significar o seguinte: acusamos o golpe.

Um certo Renan Santos, co-líder do Movimento Brasil Livre juntamente com Kim Kataguiri, gravou um vídeo — ou melhor, um “pronunciamento oficial” — em que aparece apoplético, sugerindo que o jornalista deveria ter sido censurado.

“Não aconteceu nada. A equipe editorial do jornal (?!?), a equipe de produção (?!?) deixaram passar numa boa”, grita. Santos acusa Ilimar de ser um “militante escondido”.

“Você vai ter que nos engolir”, ameaça, babando, para emendar numa conversa maluca e no aviso de que Ilimar será processado.

É um pessoal tolerante. Um sujeito já fala numa “guerra midiática”.

Outro afirma que “tem que soprar forte o vento contra estes jornalistas de porta de zona”.

Olavo de Carvalho anuncia que “tem que pegar o Otário Frias, o João Roberto Marinho e chamar de filho da puta, vagabundo”.

Outro, ainda, sugeriu eugenia num email a Ilimar Franco:  “O Brasil precisa ser limpo, das estatais aparelhadas pelos petistas até certo jornalismo emporcalhado pelos Ilimares”.

E por aí afora.

É claro que apelou-se à Lei de Godwin (aquela que reza que qualquer pessoa perde uma discussão ao invocar os nazis).

Mas, se alguém age como nazista, com que você deve compará-lo?

Marcello Reis, o chefão dos Revoltados On Line, com seu uniforme eterno, sua retórica assassina, a preconização da violência física, a intenção de eliminar um partido, parece o quê?

Gente que vai a protestos com uma camiseta amarela estampada com quatro dedos sujos de óleo, tirando sarro de um defeito físico, parece o quê?

O discurso rasteiro e seletivo contra a corrupção foi usado amplamente pelo nacional socialismo para atacar a República de Weimar. Remete a quê?

“Os comunistas estão buscando destruir nosso país”, dizia o velho Adolf. Lembra quem?

O nacionalismo biruta do pessoal que prega a intervenção militar e desfila em carro aberto com torturadores e uma bandeira integralista — qual é a inspiração?

O messianismo, a ideia fixa de que esses homens e mulheres de bem estão salvando a pátria de um mal maior, é similar a quê?

A tendência de negar realidades desagradáveis, mesmo enquanto eles estão ocorrendo, é arriscada.

Na pior das hipóteses, é perigoso: as pessoas não vão lutar contra algo que supõem ser um exemplo extremo e uma impossibilidade.

Ironicamente, esse povo faz o que acusa a “ditadura bolivariana” de fazer: tentar calar a boca de vozes dissonantes na marra.

Tudo com a ajuda de Deus, naturalmente. “Não podemos parar”, gosta de repetir Marcello Revoltado Reis. “Juntos somos mais fortes e com Deus na nossa frente somos imbatíveis”.

Ou, como dizia o führer: “Eu acredito que estou agindo de acordo com a vontade do Criador e lutando pelo trabalho do Senhor”.

Cartaz denunciando a corrupção nazista
Cartaz denunciando a corrupção nazista

Kiko Nogueira

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