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Paulo Rabello lançou seu olhar sobre as revoltas populares no país desde 2013

Rebeldia e sonho (Foto: Reprodução)

No seu livro mais recente, “Rebeldia e Sonho”, recém-lançado na Livraria da Travessa pelas Edições De Janeiro, o economista e escritor Paulo Rabello de Castro resgata nossa difícil história recente através dos momentos de insurgência popular no país, a partir de 2013, e investiga suas motivações mais profundas, traçando uma série de propostas para o Brasil produzir uma virada e superar o estado de grande confusão em que nos encontramos.

O livro começa situando politicamente a greve dos caminhoneiros de 2018, questionando porque houve tanto apoio popular à paralisação, apesar dos visíveis prejuízos à população.

Em seguida, Rabello nos lembra das manifestações e protestos pela redução no preço das passagens do transporte público, lá atrás, em junho de 2013.

Os dois eventos de rebeldia popular estão ligados pelo mesmo fio invisível da ambição popular por superar os vícios da velha política e abrir para o país a primeira chance real, neste século, de um avanço econômico e social para valer.

Essa ambição popular mal definida, por trás da rebeldia, é o sonho que surge no meio das manifestações de rua, desde 2013, como uma agenda ainda incompleta, uma espécie de rascunho do projeto de nação que Paulo Rabello elaborou de modo mais preciso e detalhado no livro, “O plano de 20 metas” que o autor lá nos propõe.

As cenas de confronto e violência policial ocorridas em 2013, combinadas à dificuldade dos governantes de compreenderem as mensagens que os jovens trouxeram para dentro das manifestações, chamou atenção do restante do país, como expressão clara da exaustão da velha política, marcada pelo estigma da corrupção deslavada.

A partir das redes sociais, os brasileiros vislumbraram, naquele momento, a oportunidade de extravasar sua rebeldia e o seu repúdio aos desvios clamorosos de recursos públicos.

Os movimentos de rua ganharam volume e significado. Os cartazes reclamavam de impostos altos, da baixa qualidade dos serviços públicos, da crescente rejeição aos políticos em geral e aos partidos envolvidos nas investigações policiais e do MP.

Os brasileiros estavam cansados de sua participação rala e fraca nas decisões costuradas pelos políticos em Brasília. Precisamos lembrar que, nas manifestações iniciais, os brasileiros levantaram um forte questionamento sobre a realização das Copas do Mundo e das Confederações, além de passarem a exigir mais rigor em relação à corrupção na política e nos grandes negócios. Houve uma ruptura midiática.

Passamos de meros consumidores a produtores de conteúdo na internet. O acirramento de grupos sociais tornou-se ainda mais forte e ganhou força mobilizadora de milhões de indivíduos vindo a tomar as ruas do país.

Essa rebeldia não cessará com o calendário eleitoral de 2018, qualquer que seja o resultado das eleições deste ano: esse é o prognóstico mais ousado do autor. No livro, apresentado sob a forma de três diálogos, Paulo Rabello troca ideias com duas mulheres de perfis profissionais distintos.

Agatha Justino é especializada em Linguística e Ana Paula de Oliveira, em Economia. Juntos, os três debatem um projeto de nação, que atenderia às principais demandas da população.

Nos diálogos, fica claro que autor e suas debatedoras rejeitam os sopros de autoritarismo vindos dos dois extremos políticos atuais. O sonho deles é ver a população resgatando seu entusiasmo por um verdadeiro rumo coletivo, de riqueza compartilhada, um conceito de capitalismo de muitos sócios.

O destino, no entanto, tem nos reservado pregar peças que, uma atrás da outra, adiam a realização do Sonho. E assim agiu o destino no Brasil, durante os últimos cinco anos, numa sequência de decepções coletivas, que incluem desastres ambientais como o de Mariana (MG), crimes políticos gravíssimos, acidentes culturais insuportáveis como o desaparecimento da memória do Museu Nacional e tantos outros eventos que nos fazem sentir, como brasileiros, partes soltas de uma sociedade cada vez mais desunida. É fundamental, contudo, resgatar a confiança coletiva como base do progresso. O livro fala do futuro como uma “maternidade” de ideias e propostas renovadoras. A história do Brasil está longe de acabar.

“Rebeldia e sonho” é uma obra que nos propõe como podemos trabalhar em prol desse futuro, de fato compartilhado entre todos e sem deixar ninguém para trás.

MARCELO KIELING

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