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Mudança na PF é dada como certa, e sucessão vira nova batalha de Moro

Brazilian President Jair Bolsonaro (L) and his Minister of Justice and Public Security Sergio Moro arrive for the launching ceremony of the Front Brazil Project, which aims at reducing the rates of violence in cities, at Planalto Palace in Brasilia, on August 29, 2019. (Photo by EVARISTO SA / AFP)

 Após as recentes declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao jornal Folha de S.Paulo, a saída do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, é tratada internamente como quase irreversível.

Valeixo, no entanto, está até o momento decidido a não pedir demissão e aguardar a definição sobre sua exoneração.

Mesmo que a “poeira volte a baixar”, frase que tem sido muito usada por dirigentes da polícia, a avaliação interna é que a demissão já está certa.

Em um processo de fritura política a cada dia por Bolsonaro, o ministro da Justiça, Sergio Moro, deve enfrentar uma batalha para emplacar o substituto de Valeixo no principal cargo da PF.

Historicamente, o responsável pela pasta é quem decide o nome, embora, por lei, seja uma atribuição do presidente.

Com o desgaste que vem ocorrendo, porém, dentro da PF a expectativa de que Moro consiga nomear alguém de sua confiança é baixa.

Bolsonaro afirmou, em café da manhã com jornalistas da Folha de S.Paulo na terça (3), que o comando da polícia precisa dar uma “arejada”, numa referência contrária ao grupo ligado a Valeixo dentro da PF.

“Essa turma [que dirige a PF] está lá há muito tempo, tem que dar uma arejada”, disse. Ele ainda chamou de “babaquice” a reação de integrantes da corporação às declarações dele sobre trocas na instituição.

“Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar [o diretor-geral, Maurício Valeixo] quando quiser”, afirmou.

Questionado na manhã de quarta sobre a declaração, na saída do Palácio da Alvorada, o presidente respondeu: “Não é arejada na PF. Tudo tem que ser… é o que eu falei para o cara da Folha ontem. Tudo pode ser arejado, tudo. Daí ele botou a PF. Até na minha casa, dou uma arejada aqui, abro cortina”.

O presidente reforçou à Folha de S.Paulo nome que circula nos bastidores da polícia há quase duas semanas, o do delegado e atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Gustavo Torres.

Torres, porém, tem resistência da atual administração e não seria uma escolha de Moro.

Se o nome do secretário do DF vingar, o ministro contabilizará mais uma derrota desde que entrou no governo.

A provável saída de Valeixo coloca ainda um novo aspecto de fracasso na gestão do ex-juiz: o desmoronamento do projeto Lava Jato que ele tinha para o ministério.

Consolidada, a demissão do atual diretor-geral deve colocar fim também à breve passagem de Igor Romário na direção da PF.

Igor é um dos principais nomes da Lava Jato, tendo sido coordenador da força-tarefa da operação em Curitiba, considerado um dos grandes quadros da corporação. Ele é diretor de Combate ao Crime Organizado, terceiro cargo da hierarquia da polícia.

Roberto Leonel, que foi presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) até semanas atrás, também era parte da proposta de Moro para levar ao governo um modelo da Lava Jato.

Nesta quarta-feira (4), após a publicação das novas declarações de Bolsonaro, Moro mais uma vez se calou sobre a crise na PF.

Seu silêncio tem incomodado a cúpula da PF, que avalia que a postura deixa a corporação exposta a interferências políticas.

O ex-juiz federal ficou apenas três minutos em um evento marcado pela pasta e foi embora sem responder a perguntas.

O ministério convocou a imprensa para uma entrevista sobre a terceira fase de uma operação de combate à pedofilia.

A presença de Moro estava confirmada, ao lado de secretários e diretores da pasta.

O ministro fez o discurso de abertura da entrevista, falou por cerca de dois minutos e meio e disse que teria de ir embora para um outro compromisso.

A reportagem perguntou a Moro, enquanto ele se retirava da sala do Ministério da Justiça, sobre a troca de comando da PF. Ele não respondeu, acenando com a mão, dando tchau.

A assessoria do Ministério da Justiça não soube informar para qual compromisso o ministro foi ao deixar a entrevista. Em sua agenda disponível no site, havia uma reunião com a desembargadora Rosane Portella Wolff, às 11h. O evento com a imprensa começou às 10h35.

Desde o início da crise com a PF, o ministro falou sobre o assunto apenas em uma entrevista apara a GloboNews.

“Veja, como eu tenho as várias funções aqui do Ministério da Justiça, as coisas eventualmente podem mudar, mas ele está no cargo, permanece no cargo, tem a minha confiança”, disse, em 28 de agosto.

Em compromissos do ministério, Moro tem marcado eventos sem contato direto com a imprensa, fazendo apenas pronunciamentos. A agenda desta quarta, porém, foi a primeira convocada no formato de entrevista coletiva, que pressupõe a dinâmica de perguntas e respostas.

No dia 22 de agosto, Bolsonaro afirmou que poderia trocar o diretor-geral da PF. A frase foi dita na esteira de uma crise após ele anunciar que o então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, seria exonerado por questões de gestão e produtividade.

A corporação reagiu e divulgou uma nota negando que a mudança tivesse a ver com a conduta do superintendente.

O episódio enfraqueceu Moro e gerou especulações sobre a saída de Maurício Valeixo, que virou diretor-geral por escolha de Moro. Os dois se conhecem há vários anos e trabalharam juntos na Operação Lava Jato.

Bolsonaro tentou emplacar o nome de Alexandre Saraiva, hoje superintendente no Amazonas, no Rio. O escolhido pela PF era Carlos Henrique Oliveira, atual chefe de Pernambuco.

A escolha de superintendentes, historicamente, é feita pelo diretor-geral da PF, sem ingerência de ministros ou do próprio presidente.

Diante da crise interna, Saadi deixou o cargo no Rio, mas não houve uma substituição oficializada. Tácio Muzzi, diretor executivo do Rio, número 2, assumiu a função interina por tempo indeterminado.

FolhaPress SNG

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