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Para não dizer que não falei das flores a Reforma da Previdência vai muito bem

vai bem o quê

Ontem, em Buenos Aires, o senhor Michel Temer não se acanhou em roubar os versos de Vandré: ““Para não dizer que não falei de flores, quero dizer que a reforma da Previdência vai muito bem”.

Vai, não é?

Tanto que necessita da maior operação de compra de votos na Câmara, que custou, até agora – segundo cálculos do insuspeito Estadão, a bagatela de R$ 43 bilhões em “bondades” com o dinheiro público.

Finanças públicas que estão arrasadas pela recessão, com déficits de R$ 160 bilhões por ano, e que, alegam ele e a grande imprensa, têm de ser “salvas” com a ruína dos atuais e futuros aposentados.

Além da compra, as ameaças sobre os que teimam em recusar a tunga dos direitos segue a todo vapor, forçando os partidos a enfiarem um “voto fechado” goela abaixo de suas bancadas. Mas não nas palavras de Temer, que acha que os partidos  estão “entusiasmados para eventualmente fecharem questão”.

Entusiasmados? Constrangidos, diria melhor do que se passa. Na semana do lançamento de sua candidatura, o já insosso Geraldo Alckmin tem de carregar o amargo jiló de apoiar a reforma, ganhando “de quebra” a feição de “candidato do Temer” e, para desespero dos “cabeças pretas” tucanos, mantendo, na prática, o PSDB no Governo.

Vai tão bem que Temer precisou mobilizar o “homem do Cunha”, Carlos Marun, para levar sua truculência à negociação com os deputados.

O jogo pesado, claro, conta com a cumplicidade dos colunistas da grande mídia, embora reste-lhes um resíduo de pudor em verem-se engajados numa batalha ao lado de tão tosca companhia.

Temer não se acanha em anuncia que, até às eleições, será a política de terra arrasada. Anuncia que os leilões de privatização se atropelarão e que venderá a Eletrobras em pleno processo eleitoral. Como lhe falta apoio no Congresso, seus agentes falam até numa venda de “varejo”, como um saldão de encerramento do governo:

A privatização encontra resistência na Câmara e no Senado, inclusive de membros da base do governo. “Se ela não ocorrer, vende-se usina a usina”, diz o nomeado de Temer para liquidar a empresa, Wilson Ferreira Júnior, à Folha.

Temer não é apenas um velhaco, é uma peste, que contamina todo organismo nacional, arrastando consigo o parlamento, os partidos, o Judiciário, a máquina pública e a mídia.

Quem permanecer perto dele trará esta cumplicidade como uma chaga, talvez pior do que aquela que Sarney deixou em homens como Ulisses Guimarães e Aureliano Chaves, reduzidos a cacarecos nas eleições de 1989.

Fernando Brito

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