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Foi afastado o gerente de banco envolvido em uma confusão com cliente que denunciou racismo

— Foto: Reprodução/Facebook

O gerente da Caixa Econômica Federal envolvido em uma confusão com um cliente em Salvador, foi afastado das atividades.

A informação foi divulgada no site da Caixa na manhã desta quarta-feira (27).

Na confusão, o cliente relatou ter sido vítima de racismo e foi agredido por policiais militares acionados pelo gerente.

Crispim Terral, de 34 anos, postou a denúncia nas redes sociais, acompanhada de um vídeo onde um policial aparece dando um “mata-leão” nele.

Na manhã desta quarta-feira, Crispim foi até a 1ª Delegacia, em Salvador, para denunciar o gerente do banco que aparece na imagem pedindo que os policiais algemassem Crispim.

No vídeo, o gerente aparece dizendo: “Não negocio com esse tipo de gente”.

“Estamos aqui na delegacia, na primeira delegacia, registrando ocorrência contra o gerente geral da Caixa Econômica Federal.

Seu Crispim se encontra, exatamente neste momento, nas imediações da delegacia, prestando depoimento, e falando como tudo ocorreu.

A defesa, a posteriori, vai dar mais informações sobre a estratégia, ainda vamos nos reunir, ver o melhor caminho possível”, disse a advogada Luana Faria, que defende Crispim.

“É óbvio que, diante de todo o cenário que se criou, do momento em que ele buscava informação na agência, e diante de todo o constrangimento que ele sofreu, aqui a gente vai buscar ver, identificar, quais são os mecanismos que poderão ser utilizados para o fim de responsabilizar os efetivos culpados pelos constrangimentos sofridos por seu Crispim”, afirmou o advogado André Cruz, que também integra a defesa de Crispim.

“A gente vem dialogando no sentido de buscar o enquadramento, ou no crime de racismo, porque a fala do próprio gerente dá uma conotação mais extensiva.

E também vislumbrando a possibilidade de injúria racial, essa situação a gente vai verificar ao longo do andamento e das providências que serão adotadas”, complementou o advogado.

Ainda sobre o ato do gerente, a Caixa disse que abriu uma apuração pela corregedoria da empresa para detalhar o caso.

Disse, ainda, que repudia práticas e atitudes de discriminação cometidas contra qualquer pessoa e que na quinta-feira (28) vai realizar um treinamento específico com toda rede de atendimento para reforçar a política de relacionamento com clientes.

‘Não desejo isso a ninguém’

Após registrar queixa contra o gerente da Caixa, na manhã desta quarta-feira, Crispim conversou com o G1 sobre o caso.

Ele disse que essa foi a primeira vez que ele foi vítima de racismo.

“Eu não desejo isso a ninguém.

Nem ao meu pior inimigo, que eu não tenho. É muito triste, é muito doloroso.

Eu agradeço todas as mensagens de apoio.

Estamos juntos.

E vamos dizer não, mais uma vez, ao racismo”, afirmou.
Crispim contou também que a filha dele de 15 anos, que presenciou o momento em que ele foi agredido, está abalada.

“Ela está muito abalada, muito triste, muito angustiada. Ela não aguenta ver falar nada referente ao acontecido”.

Para ele, a decisão da Caixa em afastar o gerente só foi tomada por conta da repercussão que o caso tomou.

“Ainda devemos lutar. Que sirva de exemplo não só para a Caixa, não só para esse indivíduo que teve essa atitude, mas para todos que estão em casa, que abram a boca e digam não ao racismo, não ao preconceito”, disse.

Ele ainda destacou que, após sair da delegacia, ele e os advogados vão até o Ministério Público (MP), fazer a denúncia no órgão.

Crispim também agradeceu às mensagens de apoio que tem recebido.

“Tenho recebido muitas mensagens, muitas ligações, por segundo na verdade.

Para mim é muito significante, muito gratificante, ter esse apoio do Brasil, de todas essas pessoas que estão sensibilizados por essa situação.

Então, fico feliz por também ser um incentivo a todos os negros, todas as negras lindas do Brasil, e digo para elas que lutem, que digam não ao racismo, digam não ao preconceito”

Crispim disse que no dia da confusão, era a oitava vez que ele havia ido ao banco. Na ocasião, ele estava com um das filhas.

“Fui solicitar um suposto comprovante de pagamento de dois cheques pagos pela Caixa Econômica, sendo que os dois foram devolvidos por estar sem fundo.

Também fui requerer a devolução de R$ 2.056 retirados de minha conta há dois meses, indevidamente”, contou.

“O gerente responsável pela minha conta, naquele momento, me atendeu de forma indiferente, enquanto me deixou esperando na sua mesa por quatro horas e quarenta e sete minutos e foi atender outras pessoas em outra mesa.

Indignado com a situação, me dirigi à mesa do gerente geral, que da mesma forma, e ainda mais ríspida, me atendeu com mais indiferença.

Quando Pensei que não poderia piorar, fui surpreendido pelo senhor [gerente geral] com a seguinte fala: ‘Se o senhor não se retirar da minha mesa, vou chamar uma guarnição'”, relatou.

O cliente do banco contou que quando os policiais chegaram, pediram para que ele e o gerente fossem até a delegacia para prestar esclarecimentos, mas no decorrer da situação, a exigência do gerente em algemar Crispim causou a confusão.

Já a PM contou que, na agência, o gerente relatou que o homem estava solicitando um comprovante de transação que não poderia ser fornecido naquele momento e solicitou a remoção do cidadão do interior da agência, em razão do encerramento do expediente bancário.

Os policiais, então, dirigiram-se ao homem e solicitaram que ele acompanhasse a equipe, junto com o representante da agência bancária à delegacia, para formalização da ocorrência.

Segundo os policiais, o cliente se exaltou e dizia que não sairia da agência sem ter a demanda atendida, contrariando a recomendação dos policiais que intervieram no conflito.

A polícia informou que, diante da recusa do cliente, os policiais precisaram usar força.

G1

 

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