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Congelar o gasto da saúde, já pode ser considerado um crime

Um assassinato programado

O excelente Bernardo de Mello Franco, na Folha, comete um erro, embora sua análise esteja totalmente  correta.

É que, ao comparar a miséria dos gastos com saúde dos brasileiros e mostrar que é menos da metade do  de países vizinhos, como a Argentina, valeu-se de dados que, infelizmente, estavam superestimados.

Em lugar dos US$ 595 que menciona, o correto é, segundo dados divulgados em fevereiro deste ano, pelo Fantástico – a imagem que reproduzo acima é de lá – é de US$ 443,7/ano .  R$ 1 489,84, anuais, com o dólar a R$ 3,20 dá esse valor.

A correção em nada invalida o diagnóstico expresso no texto de Franco: a PEC 241, na Saúde (como em quase tudo), será um castigo para os mais pobres.

BARRADOS NO BAMQUETE

POR Bernardo de Melo Franco

O governo prometeu “cortar na carne”, mas ofereceu filé mignon a 200 deputados para aprovar a PEC do teto de gastos. Antes de servir o banquete, Michel Temer disse que está “fazendo história” e que movimentos contra a proposta “não podem ser admitidos”. A imodéstia do presidente parece um bom motivo para ouvir quem se opõe ao texto.

Um estudo do Ipea, instituto ligado ao Ministério do Planejamento, sustenta que a PEC causará danos profundos ao sistema público de saúde. Os pesquisadores Fabiola Vieira e Rodrigo Benevides afirmam que o setor perderá até R$ 743 bilhões se as despesas forem congeladas por 20 anos, como deseja o Planalto.

Para os autores, o plano usa o “pressuposto equivocado de que os recursos públicos para a saúde já estão em níveis adequados”. Não estão. Em 2013, o gasto brasileiro foi de US$ 591 per capita. Isso equivale a metade do argentino (US$ 1.167) e a um sétimo do americano (US$ 4.307).

O estudo mostra que a despesa do Brasil com saúde se mantém estável há 15 anos, na casa de 1,7% do PIB. Com o congelamento, deverá encolher para até 1%.

Ao apresentar o plano, o Planalto ignorou problemas como o envelhecimento da população. A participação dos idosos deve saltar de 12,1% para 21,5% nas próximas duas décadas. Isso aumentará a pressão sobre o SUS e elevará gastos com doenças como diabetes e hipertensão.

O presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Mauro Junqueira, diz que o congelamento vai agravar as filas nos hospitais e castigar os mais pobres -que não foram convidados para o banquete no Alvorada.

Ele está inconformado com o discurso governista de que protestar contra a PEC é “ser contra o Brasil”. “Isso não é uma luta partidária. É uma luta em defesa do SUS”, afirma. O secretário atua em São Lourenço (MG), município administrado pelo PSDB.

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