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Transexual faz história vai interpretar Salomé no desfile do Império da Tijuca

Carnaval 2017

A transexual Fabíola Fontenelle

A figurinista e transexual Fabíola Fontinelle vai fazer história no desfile deste ano do Império da Tijuca, da Série A. Na sexta-feira de Carnaval, a escola leva para a Marquês de Sapucaí o enredo ‘O Último dos Profetas’, sobre a vida de São João Batista, santo venerado principalmente na Igreja Católica, sendo considerado um ‘emissário da esperança’, já que anunciou a vinda de Jesus Cristo, segundo registros.

Fabíola foi convidada pelo carnavalesco Júnior Pernambucano para representar, no principal carro, ‘O Palácio de Herodes’, Salomé, a figura histórica, que é apontada no Novo Testamento, como responsável pela morte de João.

“Acredito que a presença dela vai ser uma forma de demonstrar amor e igualdade entre nós, exatamente como foi a passagem de João na nossa história”, destacou o carnavalesco.

A figurinista desfila há dez anos, e já foi destaque em agremiações como Salgueiro, Unidos da Tijuca, União da Ilha e Império Serrano.

E ficou empolgada com a oportunidade.

“O cenário é a representação do momento que Salomé dança para o rei Herodes, e pede a cabeça de João Batista.

Como ele é um santo, não poderemos usar uma cabeça em cena, então haverá uma surpresa”, revela Fabíola, que recebeu o convite da escola de samba, depois que foi vista por Júnior Pernambucano na cerimônia de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos.

“Me senti honrada e topei fazer com respeito e alegria essa reapresentação da história”, diz.

Fabíola tem consciência da existência do preconceito, mesmo em festas caracterizadas pela alegria e liberdade, como o Carnaval.

“Não é a primeira vez que vou romper com tabus. Já fui a ‘Compadecida’ no desfile da Unidos de Padre Miguel. Hesitei de início, mas encarei o desafio. Afinal, tudo se trata de respeito, de quem assiste e de quem faz. É um trabalho artístico. A resposta da Sapucaí foi maravilhosa. Quando veio a Salomé, não pensei duas vezes”, esclarece.

Ela salienta o caráter democrático presente na celebração como um exemplo da boa convivência entre as diferenças.

“A esperança sempre é que o respeito prevaleça ao preconceito. Mas não podemos controlar o que vai na cabeça das pessoas. O Carnaval une todos, independente de raça, credo, religião. São pessoas que estão juntas para festejar. É uma festa democrática. Mostra que é possível. Amo essa alegria”, reflete.

A figurinista que também trabalha em teatro e cinema, cursou duas faculdades, uma de administração e outra de design de moda.

Ela conta que nasceu em família evangélica, e por conta disso, sempre foi difícil aceitar sua identidade de gênero feminina.

“Era uma mulher dentro de um corpo masculino”.

Fabíola diz compreender o medo da família de que ela sofresse agressões por conta do preconceito, e afirma, que quando está junto deles, tenta fazer essa transição com paciência e amor.

“Não quero agredir ninguém. Hoje sei que posso ser quem sou, mais feliz. Olho no espelho e gosto do que vejo. Nenhum preconceito impede essa felicidade. A vida é muito curta. Estou aqui pra amar e ser amada”, garante.

Ela começou seu processo de terapia hormonal há pouco mais de um ano.

“Tinha muito medo do olhar de preconceito das pessoas. às vezes isso dói mais que a violência física que você possa sofrer. Quando fui abordada para me apresentar na cerimônia olímpica, senti muito respeito e pensei: por que estou me escondendo? Me deu coragem.

Fui buscar informação e começar a terapia. Não é fácil, não encontramos médicos particulares especializados e dispostos a fazer. E na área pública, o atendimento é bom, mas quase impossível agendar consulta. Por isso, muitas fazem por conta própria. Um risco”, relata.

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