Tempo - Tutiempo.net

Bolsonafro difunde estratégicamente prioridade para a agricultura capitalista

Capitalismo no campo dizima os cerrados e atiça os conflitos agrários

A atual fase de financeirização e mundialização do capital tem atingido todos os setores da economia, inclusive a agricultura brasileira. Há em curso, no campo, dois modelos de desenvolvimento em plena disputa política e econômica: de um lado o agronegócio e de outro a agricultura familiar e camponesa.

O que interessa neste artigo é discutir: como o agronegócio se apropria da terra e das riquezas naturais?

Quem são os representantes políticos e sociais do agronegócio? Quem é a burguesia agrária que mantém esse modelo de agricultura?

Como ela se organiza e como se articula no Legislativo federal?

As respostas a tais questões podem elucidar quem compõe essa burguesia agrária (ou também conhecidos pelas suas frações de classe: ruralistas, patronato rural, agroindustriais, empresários rurais, grande produtor rural, latifundiários, elite agrária, grandes proprietários de terras, usineiros, pecuaristas), sua identidade, suas estratégias, suas organizações, suas articulações políticas, seus espaços institucionais de representação política, sua rede de relações sociais e seus interesses.

Essa avalanche do capital na agricultura foi em decorrência da sua crise desencadeada nos anos 1970, que forjou um novo ciclo de acumulação — a mundialização e a financeirização, integrando o capital em escala mundial, através das empresas multinacionais e transnacionais.

Ou seja, o centro do capital não está mais centralizado nos países ricos, mas em todo lugar onde as empresas se instalam. Essa é a nova ordem do capital que gerou uma nova divisão internacional do trabalho e redesenhou a organização territorial da produção capitalista.

Os interesses do capital se apropriam dos meios de produção nacionais e os internacionalizam. Em decorrência, a luta de classe ganha dimensão também internacional.

O desenvolvimento desse capital mundializado atingiu a agricultura e revelou uma associação entre indústria e agricultura, entre grandes extensões de terra e empresas transnacionais, entre proprietários de terras e capitalistas internacionais.

Nesse processo, o capital se territorializou e intensificou a expropriação e a expulsão dos camponeses para as cidades, instalando os grandes complexos agroindustriais no campo, via monocultura, para exportação, alcançando a ampliação e a reprodução do capital.

No Brasil, esse processo de penetração do capital mundializado na agricultura ganhou novo impulso de desenvolvimento a partir do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e na sequência no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando funda-se uma estratégia de retorno no investimento em complexos agroindustriais (já realizados por ocasião da modernização conservadora no período de 1960 a 1980) associados a grande propriedade privada da terra para responder à balança comercial externa.

Essa estratégia se consolida através da inserção do capital financeiro na agricultura, sob a prioridade do agronegócio, valorizando o mercado de terras e as exportações de produtos primários.

A agricultura brasileira passou por um longo período de modernização técnica (1960-80) sem alteração na estrutura fundiária.

Com a Constituição Federal de 1988, muda a propriedade fundiária e esta é elevada à sua condição de função social da terra. Mas o instrumento constitucional não foi suficiente para haver transformações no campo, nem realizar a reforma agrária demandada pelos movimentos sociais que lutam pela terra.

Nos anos 1990-2000, a agricultura é chamada a responder às exigências do ajustamento constrangido e ao endividamento interno e externo.

Nesse momento, dá-se um novo impulso à estratégia externa de agronegócio e dinamização do setor agroexportador, que se consolida no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, associada à nova política econômica mundial de financeirização do capital.

Assim, o governo difunde a estratégia de gerar saldos de comércio exterior, no sentido de suprir o déficit da conta-corrente, priorizando a agricultura capitalista do agronegócio na agenda macroeconômica externa e na política agrícola interna.

OUTRAS NOTÍCIAS