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China disputa soja do Brasil com indústrias locais e compra 1 milhão de toneladas na semana

Preço da soja no mercado brasileiro desde novembro de 2018 — Foto: Secom SC/ Divulgação

O mercado de soja do Brasil ganhou um ingrediente adicional nesta semana, com processadores locais disputando com chineses a compra dos grãos. A briga tem como cenário a guerra comercial entre Estados Unidos e China, que está evitando comprar a commodity dos americanos.

O analista Luiz Pacheco, da T&F Agronômica disse em relatório que foram reportados negociações de 18 carregamentos entre quarta (14) e quinta-feira (15), totalizando mais de 1 milhão de toneladas do produto.

“Isto é sinal do aumento da demanda chinesa sobre a soja da América do Sul, especialmente Brasil e Argentina”, afirmou Pacheco.

“No Brasil, houve vendas de origem de mais 120 mil toneladas. Na Argentina, os agricultores venderam mais 300 mil toneladas… fugindo dos eventuais problemas político-econômicos e aproveitando a alta do dólar, com boa participação dos exportadores”, acrescentou o analista.

Enquanto isso, os negócios entre produtores e processadores brasileiros foram fortes, especialmente nesta semana em que foi realizado um leilão para compra de biodiesel, cuja matéria-prima é em sua maioria óleo de soja.

No mercado local, preço da soja no acumulado do mês atingiu R$ 85,40 por saca de 60 kg (base Paranaguá), também o maior valor desde meados de novembro, com alta de mais de 10% no mês, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.

“O acirramento da guerra comercial, desde a semana passada, gerou uma série de incertezas, e o ponto de inflexão foi a desvalorização da moeda chinesa em relação ao dólar, e o Brasil também teve desvalorização, e a Argentina nem se fale”, disse o pesquisador do Cepea Lucilio Alves.

Sem dependência dos EUA

As principais compradoras de soja da China conseguem se manter sem os fornecimentos dos Estados Unidos no quarto trimestre e depender das importações provenientes da América do Sul, afirmou nesta sexta-feira (16) um analista chinês ligado ao governo.

Os comentários de Zhang Liwei, analista sênior do Centro Nacional de Informação sobre Grãos e Oleaginosas da China, vêm após o Ministério do Comércio do país ter anunciado no início deste mês que as empresas chinesas pararam de comprar produtos agrícolas norte-americanos, na mais recente escalada na guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.

A China é a maior compradora mundial de soja, adquirindo cerca de 60% da oferta comercializada globalmente. Os EUA são, em geral, o segundo maior fornecedor do país asiático, representando a maior parte das importações pela China no quarto trimestre em todos os anos.

Os processadores chineses interromperam as compras de soja dos EUA no ano passado, depois de Pequim impor tarifas de 25% sobre os grãos, em resposta às taxas norte-americanas.

As companhias estatais, no entanto, adquiriram cerca de 14 milhões de toneladas de soja nos últimos meses, após uma trégua comercial temporária estabelecida no final do ano passado. Novas compras, porém, foram colocadas em risco depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, voltar a elevar as tensões entre os dois países com ameaças de tarifas, no início deste mês.

Falando em uma conferência na cidade chinesa de Harbin, Zhang disse que mesmo que China e EUA não consigam chegar a um acordo comercial nas próximas semanas, “teremos oferta suficiente de soja, já que podemos comprá-la da América do Sul”.

Reuters

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