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Sete mitos sobre o agro nacional no século 21, segundo Xico Graziano

SETE MITOS DO AGRO NACIONAL

Nada escapa das mentiras que pululam na internet. No agro, informações deformadas ou falsas confundem a opinião pública. Fakes substituem fatos. Viram mitos.

Para combater a desinformação, listo 7 mitos corriqueiros sobre o agronegócio nacional. Para cada um apresento contestação técnica resumida.

Mito 1: “Alimentos orgânicos têm melhor qualidade que os convencionais”

Contestação: orgânicos ocupam um excelente nicho de mercado de famílias ricas. Revisões de literatura, feitas na Europa e nos EUA, não comprovam a supremacia bioquímica de orgânicos sobre convencionais. Diferenças organolépticas (sabor) podem existir. Resíduos de agrotóxicos preocupam mais nos alimentos convencionais; nos orgânicos, o risco de contaminação bacteriana (E. coli) é mais grave.

Mito 2: “70% dos nossos alimentos se originam da agricultura familiar”

Contestação: um discurso político, e não um estudo técnico, originou esse número, repetido como mantra. Rodolfo Hoffmann (Esalq/Unicamp), analisando os dados do IBGE, concluiu que a contribuição mais provável, em termos econômicos, é menor que 25%.

Mito 3: “O alimento para o mercado interno vem da agricultura familiar, enquanto que o agronegócio responde pelas exportações de commodities”

Contestação: a realidade atual desmente haver oposição entre exportar e alimentar os brasileiros. Tome-se a soja. O Brasil tem exportado, diretamente em grãos, 60% da soja colhida; o restante (40%) é destinado ao processamento interno. Deste sai o óleo de cozinha, base da cozinha interna, e a ração animal, com a qual se arraçoa aves e suínos, cujos produtos são consumidos, na maior parte, pelo povo.

Mito 4: “O agricultor familiar gera alimento saudável e convive com a natureza, enquanto os grandes produtores desmatam e poluem”

Contestação: inexistem estudos que comprovam tal diferença. O Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) mostra que o desmatamento naquela região (2015-16) ocorreu tanto em terras privadas (35,4%) quanto em assentamentos de reforma agrária (28,6%), além de terras devolutas (24%) e Unidades de Conservação (12%). Na aplicação de agrotóxicos, o uso incorreto é mais relatado entre pequenos agricultores.

Mito 5: “A agricultura familiar está de um lado, e o agronegócio empresarial fica no outro”

Contestação: inexiste oposição entre agricultura familiar e agronegócio; quem não pratica “agronegócio” é a agricultura de subsistência. Ideal seria fortalecer o agronegócio familiar. Ser familiar depende da gestão própria; somente no Brasil o “familiar” se define por tamanho de área (abaixo de 4 módulos fiscais).

Mito 6: “O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, envenenando a população”

Contestação: na quantidade total, o Brasil lidera; quando se verifica, porém, o consumo por hectare cultivado, cai para 7º lugar. Países tropicais utilizam mais defensivos nas lavouras. O Centro de Toxicologia da Unicamp não registra, em 30 anos, caso clínico de intoxicação causado por consumo de alimentos. O problema maior reside na aplicação de campo.

Mito 7: “Os alimentos transgênicos são perigosos para a saúde e para o meio ambiente”

Contestação: lavouras transgênicas ocupam (2016) 185 milhões de hectares no mundo. Relatórios científicos globais não corroboram malefícios ambientais ou de saúde humana das lavouras transgênicas. 100% da insulina utilizada no mundo tem origem transgênica.

Francis Bacon dizia que “saber é poder”. A melhor forma de combater mitos é contrapô-los ao conhecimento técnico-científico. Resta a ideologia atrasada, fermento da “agrofobia”. Contra esta, não há solução.

XICO GRAZIANO

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