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O mais contundente discurso do vereador Oyama Figueredo (1995)

O mais forte discurso do vereador aconteceu no dia 13 de novembro de 1995, uma segunda feira e respondia ao atual presidente da casa, na época, o vereador José Flantildes, (já falecido).Vamos relembrar essa verdadeira obra literária.

– “Deus meu, glória a minha, não vos quedeis mudo, enquanto contra mim abrem uma boca maldosa e pérfida”.

“Cerca-me com palavras de ódio, e sem motivo me hostilizam”.

“Em troca do meu afeto, dão-me acusações; e vejo-me obrigado a tomar a defesa; paga-me o bem com o mal, e o amor com ódio”.

Tomo estas palavras do salmista para começar o mais difícil, o mais amargo e o mais cruel pronunciamento que já fiz nesta Câmara de Vereadores. O faço destacando o que é traição, o que é o poder e o que significa a verdade.
Eu, que o acumulei de tantos benefícios, agora devo defender-me de suas calúnias como advogado de mim mesmo. Afasta o amigo a ofensa premeditada, a traição a sangue frio.

O ultraje e a arrogância e o golpe traidor afugentarão qualquer amigo. Já está escrito no livro sagrado do Eclesiástico.

A verdade torna o homem livre. Quem usa a mentira, dela torna-se escravo, não se deixando guiar pela razão, mas pela paixão.

Não existe meia verdade, como não existe meio amigo e meio ético. A verdade é ou não é. Ela é transparente. Não existem veredas para se chegar à verdade. A via é a principal.

Foi Cristo quem disse, na sua passagem pela terra, ser Ele o caminho, a verdade e a vida. Não temeu o Filho de Deus as consequências da verdade.

Ele encarna o poder e com a verdade entre os homens tornou-se a personalidade mais respeitada e seguida nesses últimos dois mil anos.

Qual de vós pode acusar-me de deslealdade? Qual de vós pode acusar-mede discriminação?

Mostro-lhes a verdade. Exponho-lhes o que existe de real. Caso sejam distorcidas estas verdades, pode enganar os incautos, os que giram em torno do poder, dos que fingem acreditar.

Mas quem usa a inverdade para manter o poder vive no mundo da fantasia; engana-se propositadamente e engana a quem lhe deposita confiança.

Verídico são os dados que ofereço para a apreciação de cada um que me escuta. Os números são genuínos. Não se escondem nos subterfúgios, não é nenhum ardil para fugir às dificuldades postas e surgidas.

Não se subtrai informações com o intuito de fraudar. Dados mais exatos não são oferecidos por não ter documentação disponível. Aí estão, senhores vereadores, alguns dados que a Feira de Santana precisa saber.

Quando exercia a Presidência da Câmara Municipal recebia de repasse da Prefeitura 160 mil reais; hoje, só a folha custa a esta casa 215 mil reais. É o prefeito José Raimundo Pereira de Azevêdo quem diz ser sua obrigação repassar apenas 180 mil reais, mas faz voluntariamente quase o dobro.

Nesta folha estão incluídos os pagamentos dos vereadores, efetivos, cargos de confiança, inativos e pensionistas. Fora está o pagamento dos serviços prestados.

O que deixei em torno de 16 pessoas e hoje é quase o dobro, 32, o que consome mensalmente 16 mil reais.

Não é 33 mil reais o que se paga atualmente a Previdência Municipal, como foi alardeado só do que não foi recolhido durante o período em que exerci a Presidência.

A verdade é que daquele tempo se paga 22 mil reais e mais 11 mil reais da administração atual. O pagamento não foi feito por dúvidas da esfera legal, sobre o recolhimento a ser feito. Se deveria ser para a Previdência Federal ou para a Previdência Municipal. Todos sabiam dessa situação.

Resolvido o problema, queria a Previdência Municipal fazer correção do débito, o que não aceitei.

Atualmente as despesas com material de expediente e de limpeza gira em torno de 3 mil reais. Sobram 20 mil reais que precisam ser melhor explicados quanto à sua destinação. Alguém sabe?

Isto é fácil com a exibição do extrato bancário da Caixa Econômica e as cópias dos cheques pagos, comparando-as com as notas legítimas dos pagamentos efetuados.

Como se vê, as despesas da Câmara Municipal aumentaram este ano em 700%; só serviços prestados cresceram quase 100%. Se num momento os contratos de terceirização de alguns serviços eram interessantes pela conjuntura econômica e hoje são considerados dispensáveis, nada impede que sejam denunciados pela administração atual ou renegociados.

Ao sair da Presidência da Câmar deixei como débito a ser pago uma mensagem de fim de ano na TV Subaé e uma matéria publicitária numa revista. Junto com o débito da Previdência, existente por involuntário desejo meu.

Poderia citar várias conquistas conseguidas naquele período que hoje vejo destruídas e transformadas em pó. A criação da Assessoria de Comunicação, Livre, como necessidade de divulgar as realizações dos senhores vereadores e a aproximação com os meios de comunicação. O que é real.

Esta Câmara passou a ser denominada de a Casa da Cidadania, para demonstrar que suas galerias sempre deveriam estar abertas à comunidade, que entendeu e passou a frenquentá-la e ganhou o direito de aplaudir, protestar e reivindicar. O que é real.

A contratação de um serviço de segurança foi realizada por solicitação dos próprios vereadores. Eles se consideravam vulneráveis diante dos mais exaltados. A sua atuação e a sua necessidade não é desconhecida. O que é real.
O poder passou a ser transparente com a fiscalização do eleitor, da sociedade civil organizada e pela presença de jornalistas na cobertura de suas atividades. O que é real.

O funcionalismo foi respeitado. Deixei a Presidência com a gratidão dele, o que está imortalizado numa placa na entrada desta Casa. Não sei se o mesmo se pode dizer atualmente. O que é real.

Dito isto, senhores vereadores, não me constrange solicitar, dentro do que é legal, a exposição dos exames das contas do período em que dirigi a Casa da Cidadania.

Exame este já feito por auditagem do Tribunal de Contas dos Municípios. Mas isto deve ser feito juntamente com a prestação de contas da atual administração, para se verificar as diferenças.

No início deste ano, disse que não temia a abertura das minhas contas, quando o empresário Everaldo Soledade levantava suspeitas de como se gastava 300 mil reais por mês nesta Câmara. Na época fui incompreendido e cheguei a receber admoestações.

Fizeram tudo para que as minhas contas não fossem abertas. Garanto-lhes, senhoras e senhores, que as pressões não partiram de mim. Os senhores sabem muito bem disso.

Honestidade não se AUTOPROCLAMA constata-se e espera reconhecimento pelos atos praticados. O probo não é o que bate no peito para afirmar integridade.

Honestidade não se compra com favores. É uma questão de caráter e de formação de personalidade.

O poder é inebriante, tal qual o vinho. Saboroso quando se sabe degustá-lo, apreciando o seu buquê. Este mesmo vinho é o que torna o homem ridículo quando não sabe dosá-lo. Sai do mesmo vinhedo, produzido da mesma forma, mas poderá ter efeitos díspares. É uma questão de saber a forma de bebê-lo e de apreciá-lo.

Não é poderoso o déspota, o que trai, o que não respeita, o que só vê o mal e ele se instala no lugar do bem. É poderoso o homem justo, o reconhecido e o agradecido. Não é forte o que humilha, mas o que se torna humilde.

Não é poderoso o que faz da injustiça o norte de suas ações. É justo quem reconhece e sabe o valor de cada um.

Efêmero é o poder. Ele passa e os bajuladores de hoje vão à busca de outros senhores para servir amanhã.

E a pior solidão de quem não sabe exercer o poder é sentir a ausência das mesuras. É como vinho que pode alegrar e pode embriagar, deixando como saldo a ressaca.

Não se arrepende quem traiu. Dissimula enquanto o poder lhe foge das mãos até que outra oportunidade lhe seja dada para voltar a aflorar a mesma distorção de personalidade. Trair novamente.

Diz a sabedoria popular que todo homem tem direito a cometer um erro na vida. O meu está sendo pago com muita amargura, pois a traição não só me atinge, como aos meus amigos, que confiaram na minha indicação, e no sofrimento dos servidores desta Casa, desprestigiados, humilhados, preteridos. Peço-lhes perdão por este erro. Assumo esta responsabilidade com a alma sofrida.

Olho-me com o olhar dos outros. Vejo-me na interrogação dos que buscam uma explicação. Não sei dá-la. Posso garantir que a minha estupefação nãom é diferente da que assalta cada um. Não se conhece quem se escamoteia como o camaleão.

Bato no peito, curvo-me no reconhecimento do erro, para pedir perdão.

Perdão por confiar, perdão pelos males involuntários que tenha cometido. Perdão meus amigos, porque errei na indicação.

 

Fonte: Oyma Figueredo

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