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A ascensão Skywalker’ se esforça para fugir de riscos em final mediano

Foto: Divulgação/Lucasfilm

Em certo ponto, alguém em “Star Wars: A ascensão Skywalker” diz que a missão de um Jedi, os heróis de toda a saga, é lutar contra o medo. Uma declaração irônica, já que falta ao filme a coragem para ir além do esperado e dar à história o final que ela merecia de verdade.

O nono episódio, que estreia no Brasil nesta quinta-feira (19), está longe de ser ruim, mas é triste ver a conclusão de uma aventura de mais de 40 anos fugindo tanto de riscos. Isso quer dizer que ela pode até agradar grande parte dos fãs sedentos por nostalgia, mas perde a oportunidade de surpreender.

Tudo bem para quem gosta de se sentir esperto ao prever cada “relevação” da trama, mas é frustrante para aqueles que se apaixonaram pela franquia ao ouvir pela primeira vez uma das reviravoltas mais famosas do cinema – “Não, eu sou seu pai”.

O retorno de J. J.

Em “A ascensão Skywalker”, o trio formado por Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac) se reencontra para a batalha final entre a Resistência e a maligna Primeira Ordem, reforçada por um possível – mas improvável – retorno do maior vilão da trilogia original, o imperador Palpatine (Ian McDiarmid).

O retorno do diretor J. J. Abrams, responsável pela abertura dessa nova trilogia em “O despertar da Força” (2015), já anunciava que o estúdio preferia jogar seguro. Afinal, apesar de excelente, a maior crítica ao primeiro filme era sua quase releitura de “Uma nova esperança” (1977).

Infelizmente, o que era aceitável para uma nova introdução à saga deixa o gosto de oportunidade perdida em sua conclusão. O roteiro escrito por ele e por Chris Terrio (ganhador de um Oscar por “Argo”) consegue reproduzir o clima de aventura espacial dos primeiros filme de George Lucas, mas tem medo de tentar qualquer coisa nova.

Pior – e alguns podem considerar este parágrafo um spoiler, então quem não quer saber de nada pode pular para o próximo –, se concentra demais em desfazer os rumos mais disruptivos tomados por “Os últimos Jedi” (2017), ao invés de abraçar a liberdade criada por Ryan Johnson.

Entre negar o que aconteceu no episódio anterior e algumas voltas desnecessárias pela galáxia, o filme não consegue desenvolver o resto da narrativa e se torna dependente demais – até para o universo de “Star Wars” – do acaso e de coincidências.

Joonas Suotamo, Oscar Isaac, John Boyega, Daisy Ridley e Anthony Daniels em cena de 'Star Wars: A ascensão Skywalker' — Foto: Divulgação/Lucasfilm
Joonas Suotamo, Oscar Isaac, John Boyega, Daisy Ridley e Anthony Daniels em cena de ‘Star Wars: A ascensão Skywalker’ — Foto: Divulgação/Lucasfilm

Força na união

A relativa simplicidade da trama pelo menos ganha com a proximidade dos dos três protagonistas, já que a química entre os atores é uma das melhores coisas da nova trilogia desde seu começo.

A história ainda presta belíssimas homenagens a personagens importantes de seus nove episódios, em frente e de trás das câmeras – vale prestar atenção a cada personagem de fundo que ganha algum segundo a mais de tela e a alguns nomes dos créditos finais.

É preciso ser justo também e lembrar que a triste morte de Carrie Fisher em 2016, intérprete da única sobrevivente do trio original nos filmes, deve ter dificultado e muito a vida dos roteiristas.

O uso de gravações não utilizadas de “O despertar da Força” para garantir a presença da atriz no filme não deve incomodar a maioria do público que não sabe do truque, mas salta aos olhos dos fãs mais envolvidos. Mesmo assim, garante uma despedida digna à princesa Leia de Fisher, por mais que um tanto melancólica.

Do outro lado da Força, Adam Driver (indicado a um Globo de Ouro por “História de um casamento”) apresenta um vilão mais contido, com a maior – e mais previsível – jornada de um personagem dos novos filmes. O ator pode não repetir a grande atuação do filme de Noah Baumbach, mas traz um certo equilíbrio ao poder do carisma do trio de heróis.

Daisy Ridley e Carrie Fisher em cena de 'Star Wars: A ascensão Skywalker' — Foto: Divulgação
Daisy Ridley e Carrie Fisher em cena de ‘Star Wars: A ascensão Skywalker’ — Foto: Divulgação

O futuro do império

“A ascensão Skywalker” encerra a história da família mais poderosa de uma galáxia muito, muito distante amarrando a maior parte das pontas soltas. Um grande feito, sem dúvidas, mas uma pena que consiga isso ao simplesmente negar o que seu antecessor construiu, olhando mais para o passado do que para o futuro.

Um filme feito para agradar aos desejos de seus fãs, e não para desafiá-los. Considerando o império que a Disney ainda pretende manter faz sentido. Mas os Skywalkers mereciam muito mais que um final mediano.

Quem sabe daqui dez anos, com a conclusão de uma inevitável nova trilogia.

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