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Stepan Nercessian levou Chacrinha ao cinema e pensou : ‘Como ele estaria hoje na internet?’

Foto: Divulgação/Suzanna Tierrie

Para ator, inovações da época do Velho Guerreiro estão hoje nas redes sociais: ‘Na TV, querem o que já deu certo’. Cinebiografia estreia em 8 de novembro.

Depois de assumir a indumentária espalhafatosa de Chacrinha no teatro e em um especial para a TV, Stepan Nercessian leva Abelardo Barbosa ao cinema, em uma cinebiografia que tenta enumerar rupturas provocadas pelo apresentador no formato tradicional da televisão.

“Ele obrigou a TV a criar uma nova línguagem para acompanhá-lo”, resume o ator, cujo rosto se confunde com o do Velho Guerreiro desde 2014, quando estreou o espetáculo “Chacrinha, o musical”. Ele acrescenta:

“Mudar o visual e o cenário, virar de costas e passar atrás da câmera, ler um papel enquanto apresentava. Essas coisas não eram comuns. Ele é moderno até hoje.”

Tudo isso leva Stepan a se questionar: “Como estaria Chacrinha hoje, na internet? Será que teria um programa on-line?”. Para o ator, inovações estéticas com as da época de Abelardo são atualmente mais frequentes nas redes sociais.

“O que se passa na TV de hoje é parecido com o que acontece em alguns outros setores. As pessoas querem comprar o que já deu certo. Isso deixa muito pouco espaço para risco e experiência”, avalia. “Todo mundo está menos corajoso, menos aventureiro.”

Sem ‘cagar regra’

Em “Chacrinha: O Velho Guerreiro”, dirigido por Andrucha Waddington (“Sob pressão”) e com estreia nesta quinta-feira (8), Stepan divide o personagem com Eduardo Sterblitch, que vive a fase mais jovem de Chacrinha.

A história narra a trajetória do apresentador desde sua chegada ao Rio de Janeiro para fazer bicos em rádios, depois de abandonar a faculdade de medicina em Pernambuco.

“Ele queria ser um artista, e o óbvio dizia que ele não podia porque não tinha características que serviam para isso. Mas tudo que pesava contra ele colocou a favor dele”, diz Stepan.

“Ele arriscava tudo o tempo todo. Foi perseguido pela psiquiatria, que quis taxa-lo como louco, pela censura e também bateu de frente com os donos de TV e diretores”.

Um dos episódios retratados no filme é uma briga entre Chacrinha e Boni, ex-executivo da TV Globo.

A trama também busca esclarecer a relevância de Abelardo para a música popular.

Clara Nunes (Laila Garin), Sidney Magal (Juan Rangel), Roberto Carlos (Renato Reston) e Ney Matogrosso (Daniel Carneiro) estão entre os que passam pelo palco do apresentador no filme.

Os cantores Criolo e Luan Santana também fazem participações.

“Esse é um aspecto pouco estudado, que merecia um olhar mais cuidadoso. Em que programa sai Nelson Ned e entra Gilberto Gil, tem Waldick Soriano de um lado e Renato Russo de outro?

Essa era uma briga que ele comprava também”, opina o ator, que conclui:

“Ele juntou muito o Brasil nos programas porque era um palhaço travestido no palco. Não era um cagador de regra, era um personagem.”

Esse aspecto do apresentador deve, inclusive, favorecer a produção, que estreia pós-eleições, na opinião do protagonista.

“Tenho a impressão de que [o filme] pode ser um ponto de união, de lembrança de um Brasil mais unido, afetivo e que se aceita mais.”

Carol Prado

 

 

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