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Terror reforma velhos clássicos, cria nova forma de assustar e conquista topo das bilheterias

Emily Blunt e Millicent Simmonds em 'Um Lugar Silencioso' — Foto: Reprodução

O terror passou de um gênero amaldiçoado para um dos mais bem-sucedidos do cinema. E vive dividindo, com os filmes de heróis, o topo da bilheteria. A refilmagem de “Cemitério Maldito”, com ótima estreia nos Estados Unidos no começo do mês, prova isso.
O maior sucesso do gênero no ano é “Nós”, de Jordan Peele. Com três semanas em exibição, o filme sobre sósias malignos já é a terceira maior bilheteria do ano por lá.
Nestes primeiros meses de 2019, outros filmes de terror tiveram bons lançamentos, como “Escape room”, “A Morte te dá parabéns 2” e “Maligno”.

Mas quais fatores explicam o bom momento do terror?

Reinvenção do gênero com forma e conteúdos inteligentes, aprimoramento estético e foco em problemas sociais, chamado de “pós-terror”
Reconhecimento de premiações como Oscar, Globo de Ouro e SAG Awards
Remakes bons de clássicos ruins, com história conhecida, melhores que antecessores
Lançamento frenético de franquias para marcar presença constante nos cinemas e alimentar um público faminto pelo gênero
Incorporação de novas técnicas de narrativa e exploração de outras sensações, muito além do puro susto
“Stranger Things”, série com atores carismáticos, história amarradinha e carona nos anos 1980, ajudou neste sucesso, ao tornar o gênero mais palatável e amigável.

Desde a década de 1970, quando se popularizou, o terror teve períodos bem marcados por grandes tendências, como os filmes sangrentos dos anos 1980, os de serial killers nos anos 1990, com zumbis, lobisomens e vampiros no início da década de 2010. Agora, há quem fale em um tal de pós-terror.
 

Mas o que é pós-terror?

Não existe uma definição exata de pós-terror. A rede britânica BBC classifica o termo como um cinema mais “profundo e experimental” e o jornal “The Guardian” definiu como “pavor existencial”.
Os defensores do pós-terror classificam o subgênero como mais natural e possível, focado em dramas existenciais, sociais e políticos, sem muitos sustos gratuitos. Seria mais “refinado”. Já os críticos consideram essa classificação um tanto esnobe e desrespeitosa com outros filmes.
Os primeiros expoentes do novo horror foram lançados em 2014, muito antes da discussão sobre rótulos: “Corrente do mal” e “O Babadook”.
O primeiro tem uma trama até comum – adolescentes perseguidos por uma maldição associada ao sexo e vista como metáfora sobre DSTs – e o segundo trata de ansiedade e maternidade.
A história de uma viúva e seu filho assombrados por um monstro conquistaram público e a crítica: o trunfo foi subverter a fórmula do cinema de terror.
Depois, vieram “Ao cair da noite” (2017), “Corra!” (2017), “Um lugar silencioso” (2018) e “Bird Box” (2018). Foi uma espécie de consolidação desse estilo.

O pós-terror trouxe de volta ao gênero um status negado a ele por anos: reconhecimento da academia. “Corra!” é um dos únicos três longas a ser indicado a melhor filme no Oscar. Os outros foram “Tubarão”, em 1976, e “O exorcista”, em 1974.
Outros filmes são considerados terror por sites especializados, mas não são exatamente deste gênero. São os casos de “Cisne Negro”, indicado em 2011, “O sexto sentido”, concorrente em 2000, e “O Silêncio dos Inocentes”, vencedor em 1992.
Em 2019, as premiações voltaram a olhar para o terror e Emily Blunt foi premiada por sua atuação em “Um lugar Silencioso”, com um SAG Awards de coadjuvante.
 

E aquele terror mais tradicional?

É claro que o terror não precisa ganhar Oscar e ser sofisticadão para agradar. A maior quantidade de títulos do gênero lançados nos últimos ainda é de estilos tradicionais.
“A freira” (2018), “Halloween” (2018), “Hereditário” (2018), ‘It, a coisa” (2017), “A Morte te dá parabéns” (2017) e “Invocação do mal 2” (2016) foram os mais comentados.
Além de serem, em sua maioria, baratos de se produzir e arrastarem multidões ao cinema, esses filmes se destacam pelo entretenimento puro e simples.

Falso doc, falsa tela: como terror inovou…

O gênero também tem a tradição de ser pioneiro ao adotar novos formatos. Foi assim com o estilo Found Footage (falso documentário feito a partir de “fitas encontradas”) nos anos 1980. O auge veio com “A Bruxa de Blair” (1999).
E agora, a partir de 2010, com os “screenlife movies”, que simulam telas de computadores, celulares e videogames. Eles subvertem nossa relação amistosa com as telas para mostrar o terror cotidiano e mais próximo do que se pode imaginar. Os maiores sucessos são “Buscando…” (2018) e “Amizade desfeita” (2014).

Além disso, o terror tradicional tem se renovado até no que já nasce velho. Os trashs risíveis de outros tempos têm ganhado adaptações cada vez melhores. O original “Cemitério Maldito”, de 1989, teve nota 38 no site Metacritic, que leva em conta críticas de vários sites, jornais e revistas. Sua versão de 2019 alcançou nota 71.
O remake “It, a coisa”, de 2017, também é superior a “It – Uma obra prima do medo” (1990). O filme mais recente obteve a nota 69 e o original teve avaliação mediana pelos críticos.
Há pelo menos outras duas refilmagens de terror previstas para 2019, “Brinquedo assassino” e “O grito”.
Mas nem tudo é evolução. As franquias de susto, que exploram até a última gota de sangue de um universo com filmes de origens e continuações, seguem sendo feitas (e rendendo).

Qual o segredo do sucesso?
Das 10 maiores bilheterias da história, de acordo com o Box Office, a primeira é o remake “It, a coisa” (2017).
Ele se tornou um fenômeno por misturar ingredientes poderosos: o sucesso do livro de Stephen King, a construção do palhaço de Bill Skarsgård, uma boa história por trás dos pesadelos e a carona na popularidade de “Stranger Things”, inclusive com o jovem ator Finn Wolfhard (o Mike da série) no elenco.
Mais da metade da lista é composta por franquias: a mediana “Annabelle” (o primeiro filme tem nota 37) , a boa “Invocação do Mal” (68) e a ótima “Halloween” (81). “A freira” (2018), parte do mesmo universo de “Invocação do mal”, teve avaliação ruim (48), mas foi o grande sucesso do gênero em 2018: além de maior bilheteria, foi o filme mais buscado no Google durante o ano.
Outros dois são clássicos das décadas de 1970 e 1990: “O exorcista” (1973) e “A Bruxa de Blair” (1999). Os filmes têm em comum não só o acerto de mexer com sensações dos espectadores, mas a abordagem inteligente e bem roteirizada de fenômenos que desnorteiam a sociedade há séculos: possessão, demônios e o mundo sobrenatural.

E por fim, “Corra!” (2017), que desconcerta ao apresentar um terror sem apoios de outros planos espirituais e expoente da tendência mais rebuscada e artística dos filmes do gênero.

Terror para várias gostos

Recapitule os principais gêneros do terror:

Terrorzinho mais leve e fofo, protagonizado por crianças e com uma pegada “legal”
De nostalgia, que apela para a saudade de uma década amada
Que brinca com sensações diferentes dos sustos e explora outros sentidos, como a perda da visão e da fala
Filme cabeça, que foge do óbvio e promove debate sobre aspectos sombrios da sociedade
Filme que vai entrar na sua cabeça e revirar tudo, terror psicológico dos mais macabros
Sobrenatural, com bruxas, zumbis, espíritos, aparições, vampiros e lobisomens
Ficção científica macabra e bem acabada
Filme que explora doenças, principalmente sexualmente transmissíveis, principalmente entre um grupo de adolescentes.

G1

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