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A Câmara legisla sobre minhas “partes”? Não? Então, parem de encher o saco

Ação deputados ridícula

Francamente, esta audiência na Câmara para discutir se existe “ex-gay” é uma dos espetáculos mais ridículos que o Brasil apresenta ao mundo.

Não tenho notícia que, em qualquer ponto da Terra um parlamento esteja discutindo esta questão. Talvez lá no Isis, enquanto estão discutindo a quem degolam, mas lá não tem parlamento…

O que é que suas excelências têm a ver com o que cada um faz, deixa de fazer, torna a fazer, desiste de fazer ou teima em fazer com suas “partes pudendas”?

Nem eu nem você pagamos os deputados para dizerem quem dá o que a quem.

Não existe nenhuma outra questão em relação às orientações (ou opções, como querem os conservadores) sexuais que se liguem ao interesse coletivo que não o respeito, a não-discriminação e a proteção legal e estatal a quem for vítima de violência ou de preconceito.

Se alguns pastores querem “salvar a alma” de gays e lésbicas da danação, estejam à vontade, desde que as pessoas queiram. Mas façam como pastores, não como deputados, porque o legislador a todos obriga com suas leis, e não há obrigação possível na sexualidade alheia.

Não concordo em muitas coisas, como concordo, com o Jean Willys porque ele é gay, mas porque penso semelhante nestas questões. Nem discordo do Bolsonaro por suas propaladas convicções de “macho”, mas porque ele é um sujeito reacionário e truculento.

A propósito, achei corretíssimo Willys não ir lá, para virar alvo de provocação e ter de descer à baixaria.

O sujeito que não é tolo sabe que é um erro ficar batendo boca com essa gente, exceto quando ela prega a discriminação e a agressão.

É preciso “privatizar” a questão sexual – exceto no que falei antes, que se situa na esfera pública – porque, fora daquilo, é problema pessoal de cada um.

É necessário que se evite, em nome da liberdade de expressão, puerilidades que ofendam quem não pensa exatamente como os que defendem a mais ampla liberdade sexual, mas que também não querem partir para a discriminação grosseira e brutal que aquela gente prega.

Ou será que não se percebe que estão fazendo política eleitoral com o sexo – ou o pensamento sobre sexo – alheio?

Isso não quer dizer  se calar diante dos absurdos, muito pelo contrário. Há dois dias fiz questão de reproduzir o ótimo e irrespondível texto do Gregorio Duvivier ironizando e dando um tapa com classe em Silas Malafaia.

Mas entender que o que eles desejam é provocação, afronta e bate-boca é um dever de lucidez política.

Até porque ninguém vai interferir com as minhas ou as suas “partes”.

E não perturbar o muito – embora não tudo – o que vínhamos avançando em matéria de convivência e respeito.

O que se tem de dizer, sempre, é que ninguém pode ser discriminado, maltratado, agredido ou até morto, como ocorre, por ser gay, hetero, mulher, negro, branco, candomblecista, mórmon, budista ou lá o que for.

Não pode ser porque é um ser humano, essencialmente igual a mim ou a você.

Homofobia, como toda fobia, essa tem cura pela razão, não pela provocação.

No mais, lembro de um imbecil que, nos tempos de faculdade, resolveu fazer gracinha com o “Barbosinha”, um colega gay de outra turma.

Colocou no mural da escola uma provocação que envolvia “robalos”. Barbosinha nem discutiu.

Na primeira reunião pública em que o dito cujo foi, deu-lhe um murro caprichado – daqueles de um só – na cara diante de todo mundo.

Que me perdoem os “politicamente corretos”, mas bons tempos aqueles em o nariz que se metia nas intimidades alheias levava um corretivo destes.

                                                                                                                                                                       Fernando Brito

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